Postado em 01/01/1999
Quais elementos podem ter em comum o Memorial do Imigrante, o zoológico e o Museu de Arte Moderna? Ou ainda, qual o traço que percorre a Avenida Paulista, a Cidade Universitária, o Instituto Butantã e o Museu do Ipiranga? Qual a relação existente entre uma visita ao Mosteiro da Luz e à uma aldeia indígena guarani na zona sul de São Paulo? Num momento em que os pessimistas vivem sitiados numa cidade dominada pela violência e os otimistas choram a perda de referências culturais, que significado pode existir em uma visita ao Memorial do São Paulo Futebol Clube ou em uma caminhada no Parque Estadual da Cantareira?
O elo de contato entre todos esses locais, tão díspares em sua essência, é o fato de funcionarem como depositários de informações, servindo de suporte à memória paulistana. Esses locais vêm sendo preservados não somente para cumprir sua função utilitária original, que muitas vezes já foi perdida ou alterada, mas por sua referência a um processo cultural que a sociedade brasileira achou por bem manter vivo. Receberam o valor simbólico de significar a existência ou a realização de algo e revelam a maneira de viver do paulistano, seu modo de pensar, de crescer e existir. São, portanto, monumentos, um substantivo que herdamos do verbo latino monere: fazer lembrar.
Os monumentos fazem lembrar o processo histórico de formação e transformação que deu origem à cidade de São Paulo, como a vemos e conhecemos. Vemos e conhecemos? Passamos por esses locais-monumentos com grande freqüência, por alguns deles quase diariamente. Da janela do ônibus, na velocidade dos carros, olhamos mas não vemos. Não lemos a cidade em suas letras miúdas, seus tons e semitons escondidos atrás de grandes anúncios, muito mais eficientes em sua salada visual. Não sabemos dessa cidade que nos abriga e o significado de cada local tem estado restrito ao universo individual de poucas pessoas. Entretanto, os monumentos referem-se justamente à memória coletiva da cidade, base da construção de identidades, da consciência do indivíduo e dos grupos sociais. É essa memória, também, que registra o processo de identificação dos sujeitos com o espaço que ocupam e as conseqüentes relações que se estabelecem a partir dessa identificação.
Garantir o acesso a atividades que promovam uma nova percepção do espaço urbano paulistano, aliando descanso, divertimento, aprimoramento sociocultural e enriquecimento do tempo livre dos participantes, é o objetivo maior dos passeios monitorados desenvolvidos pelo Sesc na cidade de São Paulo. Possibilitar que as pessoas fruam o local onde vivem e despertar a consciência para a diversidade de anseios e motivações que pode existir dentro da própria cidade integram o receituário de transformação de cada um dos indivíduos em cidadãos plenos, com formação, informação e participação múltipla na construção da cultura, da política e de um espaço e um tempo coletivos.
Flávia Roberta Costa é mestranda em Turismo e Lazer e Técnica do Sesc Paraíso