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Arte

Postado em 06/12/2004

 

Bálsamo para os olhos

 

Exposição de obras do acervo do Sesc São Paulo põe à disposição do público momentos significativos da produção de alguns dos maiores artistas brasileiros

 

Ao longo de quase 60 anos de história, o Sesc São Paulo tem dado sua contribuição para o panorama cultural do País por meio de iniciativas nos diversos campos da arte. Nestas seis décadas, além de exposições, teatro, cinema, literatura e música, o Sesc formou um acervo que traz um breve recorte da arte brasileira do século 20, com desenhos, gravuras, pinturas e esculturas de alguns dos artistas mais representativos do Brasil. Ao todo são cerca de 1.300 peças distribuídas pelas unidades do estado de São Paulo. Parte desse acervo integra a exposição Coleção Sesc de Arte Brasileira, em cartaz na nova unidade do Sesc Pinheiros até 23 de dezembro, que leva a público 22 obras instaladas na área de exposições da unidade, formando um painel das artes plásticas do País no século passado. Técnicas e momentos significativos da arte produzida no País são representados nessa mostra: do vigor do desenho de Candido Portinari à renovação da técnica na xilogravura de Maria Bonomi, passando pela sutileza cromática de Lasar Segall e pela contemporaneidade da pintura-objeto de Carmela Gross. Na exposição podem ser conferidas também peças de Siron Franco, Mario Gruber, Manabu Mabe, Flávio de Carvalho, Aldemir Martins, Ivald Granato, Nelson Leirner e José Antonio da Silva. Por fim, encerrando essa verdadeira viagem pela arte brasileira moderna, temos a tela Mulata, de Di Cavalcanti, feita em 1974.

A coleção do Sesc São Paulo é composta de obras que ficam expostas permanentemente e de outras que vêm a público em ocasiões especiais, como é o caso das que foram selecionadas para a mostra na unidade Pinheiros. “As obras exigem cuidados especiais e não podem ficar expostas todo o tempo”, diz Gilson Packer, da Gerência de Ação Cultural (GEAC) do Sesc. “Por exemplo, no caso de obras feitas em papel, fica difícil expô-las todo o tempo numa sala de atividades ou coisa assim.”

Além desse acervo “móvel”, o Sesc também procura integrar a arte brasileira à própria estrutura arquitetônica das unidades. Esse é o caso de painéis e esculturas que fazem parte do ambiente de vários prédios da instituição. São obras de artistas consagrados, como Tomie Ohtake, Luiz Sacilotto, Sérgio Niculitcheff e Francisco Brennand, entre outros.

Para o historiador e crítico de arte João J. Spinelli, o acervo do Sesc São Paulo cumpre um dos itens mais importantes do Estatuto do Conselho Internacional de Museus: aquisição e conservação na perspectiva de um diálogo com a sociedade. “O Sesc São Paulo é uma das raras instituições que entendem e apóiam o pensamento dos artistas brasileiros”, afirma. “Por isso inclui a arte e destaca a criação artística em todas as suas unidades.”

Confira a seguir uma seleção de obras do acervo permanente e das que estão presentes na exposicão no Sesc Pinheiros.

 

 

Destaques da coleção

 

Caras do Brasil

Candido Portinari nasceu em Brodósqui, São Paulo, em 1903. No fim da década de 20, ganha projeção nacional. Desenhista precoce, iniciou seus estudos aos 16 anos na Escola Nacional de Belas Artes. Viveu na Europa por dois anos, entre 1929 e 1931. Nesse período, passadas as fases mais radicais dos experimentos vanguardistas, o modernismo começou a ganhar novo estilo. Portinari trabalhou intensamente pintando principalmente retratos, seguidos de paisagens, cenas da vida dos trabalhadores e da história do Brasil. Tornou-se assim um dos mais reconhecidos pintores brasileiros, autor de murais em diferentes edifícios públicos ao redor do mundo. Ideais nacionalistas e a afirmação de uma identidade brasileira foram temas centrais de sua obra, marcada pela temática social.

(foto: Candido Portinari, Jesuíta Sentado (1928), carvão sobre papel)

 

 

 

 

Outras caras do Brasil

Emiliano di Cavalcanti nasceu no Rio de Janeiro em 1897 e começou sua carreira como caricaturista e ilustrador. Em 1917, muda-se para São Paulo, onde começa a estudar direito. Teve papel fundamental no desenvolvimento da arte moderna brasileira, sendo um dos principais organizadores da Semana de Arte Moderna de 1922. De 1923 até 1926, Di Cavalcanti viveu em Paris, onde teve contato com artistas e intelectuais do período. Quando voltou, aliou as tendências modernistas ao desenvolvimento de uma temática nacionalista e preocupada com questões sociais. Seu estilo destacou-se por retratar formas acentuadamente curvilíneas e com cores  quentes. Neste Mulata podem ser percebidas também influências cubistas. Na década de 40, posicionou-se radicalmente contra as tendências abstracionistas, pois acreditava que abdicavam do compromisso social de formar repertório visual coerente com a identidade brasileira. Retratou, ao contrário de Portinari, personagens marginalizados, como prostitutas e boêmios.

(foto: Emiliano di Cavalcanti, Mulata (1974), óleo sobre tela)

 

 

Cunho social e psicológico

Nascido em 1891, na cidade de Vilna, na Lituânia, Lasar Segall mudou-se para a Alemanha aos 15 anos, quando foi estudar na Escola de Artes Aplicadas e na Academia Imperial de Belas Artes. A partir de 1914, com o início da Primeira Guerra Mundial, tornaram-se freqüentes em suas obras expressionistas temas ligados ao sofrimento e às injustiças sociais. Segall muda-se para São Paulo em 1923 e convive com artistas modernos locais, com os quais mantém intenso diálogo. Na segunda metade da década de 20 tornou-se também escultor, além de gravurista e desenhista. Em Figura de Mulher, a pincelada ainda aparece com toque de impressionismo e as cores, aparentemente alegres, convivem com a densidade do rosto feminino retratado por ele, especialmente revelada no tratamento dos olhos.

(foto: Lasar Segall, Figura de Mulher (1911), óleo sobre tela)

 

 

 

 

 

Arte pública - Sesc São Paulo mantém um conjunto de obras integradas a seus espaços

 

Vila Mariana:

Vórtice é o nome do móbile colorido projetado por Francisco Niedzielski. Construída com resina, a peça, que tem 40 metros de altura, pode ser vista da sala de leitura do Sesc Vila Mariana e dos corredores dos 11 andares da unidade.

 

 

 

 

 

 

O painel Reflexo d’água, de Tomie Ohtake, tem 1.200 metros de aço retorcido. A obra fica exposta na piscina do Sesc Vila Mariana e é possível ser vista também por quem está na lanchonete.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Pinheiros:

Os painéis Nuvem, Gota e Casa, de Sérgio Niculitcheff, produzidos com cerâmica e esmalte, decoram as piscinas do Sesc Pinheiros e podem ser vistos também por quem está na área de convivência da unidade: “Na primeira figura, uma grande nuvem, a água em estado gasoso; na segunda, uma gota espatifando-se na água. Por último, uma casa submersa enfocando a serenidade e o cromatismo das profundezas”, explica o artista.

 

 

 

A Serpente Marinha, de Francisco Brennand, é uma escultura de cerâmica que pode ser vista no térreo do Sesc Pinheiros. “Desde que o mundo é mundo, o homem tenta reproduzir sua imagem e a de tudo aquilo que o rodeia. (...) Em algumas cidades gregas, sobretudo em Atenas, havia mais esculturas nas ruas e nas praças do que pessoas”, diz Brennand.

 

 

 

Santo André:

O painel de Luiz Sacilotto, que fica na caixa do elevador do Sesc Santo André, foi construído com látex sobre gesso. Exposto na área de convivência, também pode ser visto da lanchonete e da central de atendimento da unidade.

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