Postado em 23/05/2004
Indústria do couro gera problemas ao ambiente e à população
BEATRIZ CAMARGO
Galpão de pequena indústria / Foto: Beatriz Camargo
O Brasil tem o maior rebanho bovino comercial do mundo: 185 milhões de cabeças de gado, espalhadas pelo território nacional, sobretudo no estado de São Paulo e nas regiões centro-oeste e sul. Seguindo a lógica, somos também o maior produtor de couro, do qual a Itália, centro internacional da moda, é a principal compradora, seguida por Hong Kong e pela China. Para se ter uma idéia do que isso representa para nossa balança comercial, de janeiro a setembro de 2004, US$ 930,6 milhões em peças abasteceram o mercado externo - um crescimento de 23% em relação ao mesmo período de 2003. O ritmo de expansão da fronteira agrícola e pecuária na região norte deixa claro que o negócio só tende a aumentar.
E é aí que reside o problema. Na ânsia pela conquista de mercados e pelo lucro rápido, a preocupação com o desenvolvimento sustentável - que alia crescimento econômico e preservação do meio ambiente - desaparece. Isso fica evidente na etapa de criação do boi. Segundo um estudo recente do Banco Mundial (Bird), a expansão da pecuária é a principal causa de desmatamento na Amazônia, e não a ação de madeireiras, como seria de supor. Ainda assim, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, tem saído em defesa do setor, sob a alegação de que a prioridade é a geração de superávit por meio do aumento das vendas externas, argumentando, inclusive, que não é apenas a abertura de pastagens que provoca danos ecológicos. Ainda que se crie polêmica em torno da questão do impacto ambiental da criação de gado, os inequívocos problemas gerados no processamento de subprodutos do boi, como o couro, começam agora a receber maior atenção.
De acordo com a classificação da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo (Cetesb), a indústria coureira é uma das mais poluentes que existe. Dentre as diversas maneiras de curtir a pele crua do boi, 70% delas utilizam como base o cromo. Mais barata e eficiente para operações em escala industrial, essa substância participa do curtimento e do acabamento, conferindo ao produto resistência e permitindo sua estocagem por longos períodos sem risco de apodrecimento.
Os empregados das indústrias de couro são os mais prejudicados, pois convivem diariamente com o cromo, além de outros compostos nocivos. De acordo com Elizabeth Nascimento, professora de toxicologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), a maioria dos trabalhadores de curtumes sofrem de alergias na pele e é muito comum apresentarem rinite alérgica. A permanência prolongada em ambientes onde o cromo é utilizado pode levar à inalação de grandes quantidades da substância, aumentando os riscos de desenvolver câncer de pulmão. "O que vemos são principalmente problemas respiratórios, manchas na pele e herpes", afirma Gisberto Marcos Antunes, o Betinho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Curtume da região central do estado de São Paulo. Ele estima que cerca de 5% dos trabalhadores apresentem algum tipo de problema de saúde. "Alguns curtumes já pagam a taxa de insalubridade, mas isso ainda não está regulamentado", complementa.
Como todo metal pesado, o cromo se acumula no organismo devido ao contato direto ou ao consumo de água e de alimentos contaminados, podendo ao longo dos anos causar falência de órgãos, como os rins, e até levar à morte. Sua forma hexavalente, mais rara e perigosa, provoca perfuração do septo nasal caso inalada em altas doses.
Bocaina, cidade paulista situada no centro do estado, tem no acabamento do couro sua principal atividade - assim como diversos pequenos e médios municípios brasileiros - e pode ser considerada um paradigma desse conflito que opõe desenvolvimento e preservação ambiental. Conhecida nacionalmente como a "capital da luva de raspa" (ver texto abaixo), a localidade enfrentou nos últimos dez anos um crescimento desenfreado da atividade coureira, que se mantém na região há cerca de 30 anos. Com apenas 10.565 habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Bocaina produz diariamente por volta de 30 toneladas de lixo provenientes das mais de cem empresas beneficiadoras de couro. Diante dos transtornos causados pela contaminação, a cidade tem buscado soluções, e sua experiência serve de exemplo a outras que vivem o mesmo problema pelo país afora.
Água colorida
As empresas que processam o couro em Bocaina são de vários tipos, mas há basicamente dois grupos. A maioria produz luvas e aventais de trabalho. Outras, em menor número, operam com tingimento. O resíduo gerado pelo processo de acabamento pode ser sólido - como as aparas não aproveitadas do material e a serragem de couro - ou líquido - resultado da lavagem da peça e, principalmente, do ato de tingir. Em ambos os casos, o cromo está presente.
Segundo a Cetesb, apenas as empresas que tingem o couro devem realizar tratamento da água, que exige investimento alto: um curtume de tingimento de médio porte gasta em torno de R$ 3 mil por mês para limpar 20 mil litros de água por dia. A água colorida da tintura é bombeada para um reator de coagulação, uma espécie de liquidificador que a mistura com diversos componentes químicos. O problema é que a limpeza produz um outro resíduo, o lodo cromado, que deve ser enviado a um aterro adequado.
Na opinião da população, as empresas não tratam corretamente seus efluentes, ou o fazem em apenas parte do volume utilizado, pois a contaminação das águas correntes é visível a olho nu. O córrego da Bocaina, que deu nome à cidade, já foi pintado de muitas cores: preto, azul, vermelho. Varia conforme a tinta utilizada para trabalhar o couro. Sempre que isso acontece, é difícil precisar quem é o autor da aquarela, pois há cinco curtumes próximos ao manancial. O Himalaia, outro curso de água que corta a cidade, também sofre com a deposição clandestina de efluentes industriais. Os dois córregos desembocam no rio Jacaré Pepira, um dos principais da região, parte integrante da bacia do Tietê.
Muitos moradores reclamam da poluição, que pode ser aferida até pelo cheiro. Ana Francisca de Oliveira, coordenadora pedagógica na Escola Municipal de Educação Infantil de Bocaina, convive com um forte odor que invade seu banheiro de tempos em tempos. "É horrível. O nariz e os olhos ardem, é insuportável." Ela demorou a identificar a origem do problema. Só depois de reformar o banheiro para tentar resolvê-lo é que descobriu que o odor vinha do esgoto.
O que Ana e outros bocainenses chamam de "cheiro de ovo podre" é o gás sulfídrico. Ele entra nas casas pelas tubulações de esgoto, que fazem parte do mesmo sistema que recolhe parte dos efluentes das empresas beneficiadoras de couro. Esse gás, além de malcheiroso, é letal em altas concentrações.
Despejar resíduo líquido diretamente na rede municipal de saneamento traz ainda outro problema. A estação de tratamento da água foi construída para processar elementos orgânicos, como o esgoto doméstico. O lixo químico, entretanto, mata as bactérias envolvidas no processo e inviabiliza a reciclagem da água.
Segundo José Luis Pedro, químico que presta consultoria para dez empresas em Bocaina, "mesmo em água corrente, o resíduo de curtume varre a vida por onde passa, causando a morte instantânea de qualquer ser vivo, seja bactéria, peixe ou planta". Grande parte dos moradores de casas e propriedades rurais à beira dos cursos de água do município cercou o acesso a eles. "Tenho um rio que corre ao lado da minha propriedade e não posso usá-lo. Tive de colocar cerca para que meus cavalos não bebessem ali e não posso nem irrigar a horta", reclama o dono de um sítio, que não quis se identificar.
Esse mesmo morador ainda tem o laudo de um exame de identificação de metais pesados, feito em 2002 em sua cachorra doente, que morreu logo depois. A análise, realizada na Universidade Estadual Paulista (Unesp), comprovou a presença de grandes quantidades de cromo e cádmio no sangue.
A contaminação trazida pelos resíduos sólidos é mais sutil. Seus efeitos não podem ser vistos, mas são tão ou até mais graves que os causados pela poluição por efluentes líquidos. A água da chuva descola os compostos químicos das aparas de couro depositadas no solo e os leva, com o tempo, até os lençóis freáticos mais profundos. Isso pode contaminar os postos de arrecadação de água tanto para consumo urbano quanto para abastecimento de fazendas. Infelizmente, ainda não existem estudos detalhados sobre o comprometimento real de solos e águas subterrâneas da região.
A esse perigo soma-se um agravante: aquela é uma área de recarga do aqüífero Guarani, um dos maiores reservatórios subterrâneos de água doce do mundo, que possui um volume estimado em cerca de 37 mil quilômetros cúbicos e abrange regiões do sudeste e centro-oeste do Brasil e também da Argentina, do Paraguai e do Uruguai. Ele aflora na região, ou seja, possui pontos próximos da superfície que não estão protegidos e, por isso, são sensíveis a alterações do meio ambiente. Em Bocaina, esse afloramento corresponde a 84% da área do município, o que pode ser constatado pela quantidade de minas de água no local. Cavando apenas 8 metros, um morador conseguiu encontrar água em abundância, com a qual mantém uma piscina em casa.
Para Marco Antônio Gomes, pesquisador da unidade Meio Ambiente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e coordenador do Projeto Aqüífero Guarani, Bocaina e arredores devem ser preservados para garantir a não-contaminação pelo cromo de todo o aqüífero. "É uma área naturalmente frágil que abriga uma atividade que apresenta alto potencial de risco. A combinação desses dois fatores determina um cenário que merece atenção", alerta.
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) garante que, nos postos de abastecimento da cidade, a água apresenta por enquanto índices normais de cromo e outros compostos. O Relatório de Qualidade das Águas Subterrâneas, publicado pela Cetesb em abril de 2004, também indica que a região do aqüífero em que Bocaina está situada possui água de excelente qualidade. Contudo, segundo o mesmo órgão, para saber se o reservatório apresenta ou não algum grau de contaminação nas cercanias do município, é preciso retirar amostras de cada local.
Sobrevivência e preservação
Um fator que dificulta a resolução do problema é que grande parte da população da cidade está empregada no setor. Segundo estimativa da Associação dos Curtumeiros de Bocaina (Associcouros), a atividade gera em torno de 4 mil empregos diretos e indiretos, o que corresponde a mais da metade da população economicamente ativa do município. O bairro rural de Pedro Alexandrino, por exemplo, tem apenas uma rua, mas abriga quatro empresas.
Na fabricação de luvas, há muitos estabelecimentos de "fundo de quintal", por não serem necessários equipamentos sofisticados. De acordo com o prefeito João Francisco "Kiko" Danieletto, eleito em 2004 pelo Partido Verde (PV), o setor apresenta uma taxa de informalidade que vai de 15% a 20%.
O jovem Luis Fernando, de 15 anos, trabalha no setor desde os 13. Começou estendendo as peças para secar e hoje realiza serviços gerais numa beneficiadora que produz luvas e aventais. "Desde que eu era pequeno, meu pai já trabalhava com couro, e me acostumei com o cheiro." Sua irmã também está no ramo, empregada numa fábrica de sapatos em Jaú.
Luciene Antonio do Santos, de 27 anos, é outra pessoa que não se incomoda com o cheiro forte do material: "A gente que trabalha nem sente mais". Ela está na empresa há um mês, mas começou no ramo ainda menina. "Eu estendia o couro. Gostei do serviço e continuei no setor. Parei para ter minhas filhas e depois fui ser doméstica. Mas cansei, gosto mesmo é de curtume", revela, com um tímido sorriso.
Betinho, do sindicato dos trabalhadores, acredita que eles estão em posição delicada com relação aos problemas ambientais gerados pelos curtumes. "De repente o funcionário faz uma denúncia à Cetesb, e ela é grave. A empresa pode ser fechada, e ele está arriscado a perder o emprego", explica. Mesmo os que não dependem diretamente do couro temem que os curtumes deixem de funcionar, o que causaria um grande problema econômico ao município.
O promotor de Justiça do Meio Ambiente da Comarca de Jaú, Jorge Marques de Oliveira, defende que a lei ambiental seja cumprida a qualquer custo. "O setor dá emprego e é importante para a cidade. Mas o vizinho que mora na casa do lado tem o direito de respirar ar puro", argumenta. Segundo ele, a informalidade da indústria coureira e a falta de controle sobre a produção tornam a questão difícil de ser tratada.
Vitória parcial
Ainda assim, é consenso que a realidade já melhorou muito desde 2000, ano em que a Cetesb interveio pela primeira vez no município. Desde então, grande parte dos empresários tomou consciência do prejuízo ambiental, e o lançamento de resíduos diretamente nos rios, córregos e no esgoto doméstico diminuiu.
Na época, buscando se enquadrar na legislação ambiental, a Associcouros cogitava construir uma estação unificada de tratamento dos efluentes dos curtumes. Mas o investimento era alto e, frente ao impasse, alguns empresários, irritados com a demora na tomada de precauções, instalaram filtros individuais em seus barracões. Fauzer Saffi, presidente da Associcouros, afirma que, dos 67 associados, há 12 empresas que trabalham com tingimento e todas possuem, hoje, equipamento para o tratamento da água.
"Acho que Bocaina é exemplo, porque aqui a Cetesb pegou pesado. Cerca de 15 empresas já fecharam as portas", diz Betinho. Segundo ele, a contaminação em outras cidades é pior. A legislação que trata do assunto é estadual, e há maior rigor com relação ao lixo industrial em São Paulo do que em outros estados. Na região sul, por exemplo, a quantidade de cromo que pode ser depositada no solo é maior.
Em relação aos resíduos sólidos, a situação também está mais controlada. Antes da fiscalização, restos de raspa eram lançados sem cuidados na zona rural, em aterros de lixo comum, ou simplesmente espalhados pela cidade, à espera de ser recolhidos pelos caminhões de lixo da prefeitura. O promotor Jorge de Oliveira considera que muito já foi feito, e o problema das sobras de couro está praticamente resolvido. "Hoje, o que existe são depósitos clandestinos, e em menor quantidade."
Chegava-se até a queimar raspa durante a noite. A fumaça branca, altamente tóxica e de cheiro insuportável, pairava sobre as casas próximas às empresas e atrapalhava o sono dos moradores. Em 2001, foi convocada uma reunião no cinema da cidade, e a população exigiu uma atitude por parte dos curtumeiros.
A medida inicial da Cetesb, já em 2002, foi proibir o depósito de restos de raspa em locais não apropriados. A maioria das empresas foi, então, advertida por descumprimento da legislação ambiental, e algumas foram multadas. A Associcouros, que acabava de ser criada, começou a procurar no município um local adequado para construir um aterro. Enquanto isso, os curtumes passaram a estocar o resíduo sólido em seus barracões, à espera da aprovação de um terreno para essa finalidade.
Mais de oito meses depois, o mau cheiro devido à estocagem aumentou e houve muitas queimadas clandestinas. Em reunião realizada em março de 2003, o Ministério Público, a Cetesb, a prefeitura e a Associcouros concordaram que em 30 dias esse lixo teria um destino. Um aterro na cidade de Paulínia, próxima a Campinas, foi escolhido para receber o material. Foram gastos no total R$ 1 milhão para transportar ao aterro todo o volume acumulado, que somava cerca de 5 mil toneladas.
A avaliação química dos resíduos das empresas foi feita pelo laboratório Ecosistem, em conjunto com a própria Associcouros. Aprovado pela Cetesb, o laudo qualificou-os como classe 2, ou seja, não perigosos e não inertes, e portanto adequados para ser enviados a Paulínia. Entretanto, a química Joana D’Arc de Sousa, especialista em reaproveitamento do resíduo sólido do couro, afirma que todo excedente que contenha cromo deve ser considerado classe 1, pois o metal pesado é perigoso e exige proteção máxima.
O resultado, para as empresas coureiras, representa uma economia de R$ 338 por tonelada do material, uma vez que, enquanto no aterro classe 1 o preço é de R$ 420 por tonelada, no de classe 2 fica em R$ 82 - incluindo o frete até Paulínia. "Se fosse classe 1, não ia sobrar quase nenhum curtume na cidade, pois eles não poderiam pagar", avalia José Luis Pedro. Em outras palavras, a proteção ao meio ambiente em Bocaina ainda está subordinada a conveniências econômicas.
Rumo à sustentabilidade?
Apesar dos problemas gerados pela indústria do couro, o ex-prefeito Moacir Donizete Gimenez defende que o foco do investimento industrial não seja mudado. "Não adianta querer inventar. O setor coureiro é a nossa vocação", afirma. O ex-prefeito acredita que aos poucos a produção "vai se encaixar" nos parâmetros, mas admite que muito estrago já foi feito. "Faz 30 anos que se joga couro no solo. Começou com pouco e foi aumentando."
Nas últimas eleições municipais, os problemas de poluição foram amplamente discutidos e muito se espera do novo prefeito, até por ele fazer parte de um partido que tem, ao menos em teoria, a defesa do meio ambiente como uma de suas bandeiras. A prefeitura pretende implementar um projeto piloto de desenvolvimento sustentável que está sendo elaborado pelo Instituto Internacional de Ecologia. O projeto Bocaina, Cidade Sustentável deverá ficar pronto em 2007 e inclui monitoramento permanente da qualidade da água e recuperação de nascentes. Paralelamente, está prevista a criação de um posto de entrega voluntária de aparas do couro, para receber o material dos pequenos produtores e enviá-lo a Paulínia, com o objetivo de reduzir a quantidade de sobras de raspa depositada clandestinamente. O prefeito afirma que não existe hoje solução para o resíduo sólido no Brasil: "Se houvesse, já teria gente copiando".
Foi também criada, em outubro do ano passado, a Câmara Ambiental de Couro e Calçado do Estado de São Paulo, composta por Cetesb, Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), universidades públicas e representantes do setor. A reunião inicial aconteceu em meados de fevereiro em Bocaina, o que o prefeito considera positivo, por estimular a tomada de consciência da população e do empresariado local. Segundo Saffi, da Associcouros, o objetivo dos curtumeiros, na Câmara Ambiental, é buscar a legalização de métodos de aproveitamento do couro.
Atualmente, poucos processos são autorizados pela Cetesb. Um deles é a extração dos componentes químicos dos restos de couro em etapas, desenvolvida pela pesquisadora Joana D’Arc. O método recupera o cromo e o colágeno - de grande valor para a indústria cosmética - e, no caso de couro tingido, também separa taninos e anilina. O que sobra é a própria fibra orgânica do couro, reutilizada no processo de separação. O tratamento resolve o problema do lixo tóxico gerado pelos curtumes, mas muitos empresários esbarram no investimento inicial, de R$ 40 mil. "O retorno é grande, porque o colágeno tem alto valor no mercado, e o cromo reciclado sai muito mais barato", garante a química, que trabalha em parceria com um curtume em Franca e tem recebido propostas de implementação de sua idéia.
Outro processo autorizado pela Cetesb é a reciclagem, mas com inúmeras restrições, e que por isso está longe de utilizar todo o material excedente. Apesar de não contar com a aprovação do órgão regulador, algumas empresas estão produzindo tijolos, telhas e divisórias de escritório com a serragem do couro. Muitos curtumes mandam as sobras de raspa para esses fabricantes, na expectativa de diminuir o lixo que será enviado ao aterro.
Do boi ao sapato
No matadouro, a pele é separada da carne do boi. Depois os pêlos são retirados e a peça é dividida entre a "flor", a parte de cima do couro, mais nobre, e a "raspa", a parte inferior. A primeira é material para bolsas, sapatos finos e móveis. A segunda servirá para fabricar forro de móveis e sapatos de camurça, além de luvas, aventais e outras peças de vestuário de segurança.
As empresas instaladas no município de Bocaina não curtem o couro, apenas fazem seu acabamento. Recebem-no principalmente da região sul, mas também do centro-oeste e do nordeste.
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