Carta ao leitor

Embora tenha um dos dez maiores parques fabris do mundo e conte com algumas indústrias de destaque internacional devido à excelência de seus produtos, de modo geral o Brasil nunca primou pela inovação tecnológica. Na verdade, para conseguir espaço no mercado global, normalmente as empresas fazem do preço, e não da qualidade, o seu diferencial. A matéria de capa enfoca esse cenário, que não é novo, uma vez que sempre foi mínima a ação do governo em relação a investir em pesquisa ou a facilitar o acesso do setor industrial a linhas de crédito voltadas para o desenvolvimento de tecnologias. Essa é, também, a razão pela qual o país tem um número baixíssimo de patentes registradas e continua a ser um grande exportador de commodities.

Em outras duas reportagens, mostramos um pouco da dura realidade dos afro-descendentes no Brasil. Apesar das diversas iniciativas, nas áreas pública e privada, voltadas para a melhoria das condições de vida dessa parcela da população, é ainda imensa a diferença entre negros e brancos em termos de oportunidades de ascensão social. Quando a questão é a posse da terra de comunidades quilombolas, um direito previsto na Constituição, as dificuldades se multiplicam e os conflitos com fazendeiros invasores são praticamente inevitáveis.

Esta edição aborda, ainda, o impressionante crescimento do número de milionários no país, em sua maioria detentores de títulos da dívida pública. Ao mesmo tempo em que essas pessoas vêem seu capital se avolumar no mercado financeiro, um enorme contingente de brasileiros trava verdadeiras batalhas apenas para sobreviver com dignidade.

No campo da arte, apresentamos uma boa notícia, referente à produção de artesanato no vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, que vem ajudando a mudar a precária situação de uma das regiões mais miseráveis do Brasil. E falamos também de Glauco Mattoso, um controvertido artista multimídia, caracterizado pela irreverência.