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Avenida Paulista

Postado em 01/05/2005

A Avenida Paulista, símbolo de São Paulo, guarda a memória do crescimento da região em locais que merecem uma visita

 

Embora possa ser considerada jovem ao compararmos os seus 114 anos com os 451 de São Paulo, a Avenida Paulista merece o título de símbolo da cidade. Afinal, ela encerra muitas histórias e curiosidades, além de ser o endereço de edifícios que traduzem a pujança econômica e cultural da metrópole, como a Galeria Estadual Casa das Rosas, o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e a sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Fiesp – todos visitados no roteiro Caminhando pela Paulista, organizado pelo Sesc Paraíso (veja boxe “É sempre lindo andar...”). Inaugurada em 8 de dezembro de 1891, a mais celebrada avenida da maior metrópole brasileira teve como idealizador, quem diria, um uruguaio, o arquiteto Joaquim Eugênio de Lima. Ele foi um dos grandes nomes por trás “da transformação de chácaras em ruas, avenidas e praças” – como escreve o crítico de arte Enock Sacramento em texto publicado no livro de pinturas de Antonio Augusto Marx, Avenida Paulista – Um Século de História (Lis Gráfica e Editora, 1991) –, através de um processo de urbanização que comandava, por meio de uma firma de compra e venda de terrenos. Como parte de seus negócios, tornou-se dono de extensas áreas na Liberdade, Mooca e na região do Caaguaçu, que se estendia da Consolação ao Paraíso – um trecho de 2.800 metros que viria a ser a Avenida Paulista. “Era seu projeto mais ambicioso”, continua Enock. “O empreendimento foi possível graças à aquisição, por parte de Joaquim Eugênio de Lima e de seus sócios (...), de amplas áreas de terreno no local.” De fato, foram necessárias várias intervenções para transformar a antiga Rua Real Grandeza numa avenida nos moldes das que existem nas cidades européias. No trecho onde hoje existe o Túnel Nove de Julho, por exemplo, o caminho era cortado por uma depressão por onde passava um córrego de nome Saracura, que foi totalmente aterrada. Já para o tratamento paisagístico do atual Parque Tenente Siqueira Campos, o Trianon, foi contratado um francês badaladíssimo na época: Paul Villon, o mesmo que projetara os jardins do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. O parque, no início, recebeu seu nome e passou a reunir a fina flor da sociedade paulistana emergente. “O parque e suas instalações conferiram à nova avenida um toque do romantismo inglês e do efervescente charme francês”, publicou, com certa afetação que permeava a época, o jornal O Estado de S.Paulo na edição de 6 de maio de 1894.

 

Nas primeiras décadas do século 20, a Avenida Paulista foi tomada por luxuosos casarões projetados por nomes como Ramos de Azevedo a pedido dos chamados capitães da indústria e do comércio e pelos barões do café. No período pós-Segunda Guerra Mundial os palacetes cederam espaço a prédios residenciais, num processo de verticalização que marcou a década de 50 e seguiu pelos anos 60 e 70. Atualmente, resta pouco da antiga Paulista. São remanescentes o Hospital Santa Catarina e o Instituto Pasteur, que representam os tempos áureos com um mínimo de dignidade, já que a maioria dos casarões foi demolida e os terrenos transformados em estacionamentos, com exceção do palacete que pertenceu à família Joaquim Franco de Mello. Mas mesmo ele se encontra em quase irreversível estado de deterioração e já conta com manobristas invadindo seus quintais. Ao que tudo indica, é só uma questão de tempo para que a bela construção também suma do mapa, a não ser que alguma “boa alma” resolva bancar sua preservação. Mas isso não necessariamente seria feito em nome da memória da avenida, a julgar por outro palacete que hoje abriga uma lanchonete de fast-food...

 

 

“É sempre lindo andar...”

Roteiro organizado pelo Sesc Paraíso resgata acontecimentos de outro tempo do cartão-postal da cidade

 

Geralmente cenário da correria típica de uma metrópole, a Avenida Paulista do século 21 é, muitas vezes, até evitada devido a seu trânsito intenso, calçadas lotadas e pontos de ônibus transbordantes. Dificilmente alguém tem tempo e disposição para caminhar por suas quadras a passo lento e com olhar contemplativo, para perceber a beleza da arquitetura do Museu de Arte de São Paulo, o Masp, a resistente flora do Parque Trianon, a singeleza da Galeria Estadual Casa das Rosas ou mesmo os detalhes das obras de arte que se espalham, públicas e acessíveis, pelo calçamento. No entanto, a equipe do Sesc Paraíso, na contramão da relação estritamente utilitária que a maioria tem com a avenida, bolou um roteiro que visa justamente levar os participantes a reduzir a velocidade e prestar atenção na paisagem. O Caminhando pela Paulista, um dos roteiros de um dia que compõem o projeto DiverSãoPaulo, foi criado em 1996 e leva os interessados a um passeio monitorado que mapeia as belezas e curiosidades da região. Além dos já citados Masp, Casa das Rosas e Parque Trianon, a caminhada passa ainda pelo Instituto Cultural Itaú, pelo Espaço Cultural Banco Real e pelo Edifício Pensilvânia, do Citybank. “O objetivo do roteiro é mostrar às pessoas espaços urbanos que reflitam a história da cidade de São Paulo”, esclarece Denise Kieling, técnica da unidade. “O que permite uma forma mais prazerosa de relação entre os paulistanos.”

 

Desde o dia 28 de março, o Sesc Paraíso transferiu suas atividades para o prédio da sede do Sesc São Paulo, passando a chamar-se Sesc Avenida Paulista, onde oferece os mesmos serviços do antigo endereço. Confira a programação no Em Cartaz.

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