Postado em 01/11/2004
ABRAM SZAJMAN
(Presidente da Federação e Centro do Comércio do Estado de São Paulo
e dos Conselhos Regionais do Sesc e do Senac)
No ano 2000, a Organização das Nações Unidas (ONU), preocupada com o futuro da humanidade, estabeleceu uma série de megaobjetivos a serem atingidos até o ano de 2015. Não se trata de metas meramente econômicas ou políticas, nem de uma recomendação contra a beligerância que em pleno século 21 ainda assola algumas regiões do planeta. Mais do que isso, as oito metas do milênio, como ficou conhecida a iniciativa, são um guia de sobrevivência para a humanidade, um conjunto de ações que, se não forem concretizadas rapidamente, com certeza deixarão a população mundial em sérias dificuldades para manter-se.
A primeira meta diz respeito à erradicação da miséria e da fome. O objetivo é reduzir pelo menos pela metade o número dos que ganham praticamente nada, calculado em cerca de 1,2 bilhão de pessoas. Estima-se que existam no planeta pouco mais de 6 bilhões de pessoas e sabemos que a quantidade de alimentos produzidos é mais que suficiente para alimentá-los. Não é, portanto, o excesso de bocas que provoca a desnutrição. O problema tem vinculações mais profundas e somente poderá ser equacionado com reformas estruturais que contemplem mudanças no comércio internacional, a eliminação de subsídios e o aproveitamento racional dos recursos existentes no mundo, hoje em grande parte concentrados em atividades bélicas ou pretensões hegemônicas.
A segunda meta refere-se ao ensino fundamental, e nesse aspecto o Brasil, infelizmente, continua muito mal servido. Se é verdade que o número de analfabetos vem decrescendo no país, é igualmente verídico que o nível educacional dos que saem da escola está cada vez mais próximo da ignorância, revelando falhas gritantes nos programas de ensino. O apoio cada vez mais evidente aos cursos superiores, revelado pela proliferação de faculdades, é uma das faces dessas distorções, como se quiséssemos construir telhados vistosos antes de fixar os alicerces.
Na verdade, o que mais nos faz falta, além de uma educação eficiente, é a preocupação em formar empreendedores, pessoas que saiam da escola em condições de iniciar negócios e bem conduzi-los, gerando riquezas e criando empregos, em vez de sair em busca de ocupações que não existem.
Outra meta preconizada pela ONU que nos chama a atenção refere-se à mortalidade infantil. Segundo a coordenadora nacional da Pastoral da Criança, Zilda Arns, há avanços nessa área: o Brasil é o país do mundo com a maior redução no número de mortes de crianças nos últimos dez anos: de 58 por mil para 28 por mil. Sem dúvida um avanço, que se deve em grande parte à ação de entidades civis, como a própria Pastoral da Criança, que não medem esforços para suprir o atendimento que o governo não consegue oferecer.
Dados apresentados por Zilda Arns revelam também que mais da metade das mortes de menores de um ano ocorre nos primeiros seis dias. Uma prova da falta de cuidado pré-natal e da precária assistência ao parto, seja por desinformação das mães, seja pela oferta deficiente de serviços públicos. Essa é a causa principal das mortes infantis. Outras são a pneumonia e a desidratação, males que podem ser evitados com amamentação materna, muitas vezes desprezada por simples falta de informação.
Informação também é matéria-prima de primeira necessidade no caso da Aids e de doenças sexualmente transmissíveis, cujo controle está incluído entre as metas da ONU. Nesse campo, felizmente, o Brasil se tornou referência, graças a um vitorioso programa de combate à epidemia, que envolveu governo, especialistas e a sociedade. Entretanto, as características da doença não permitem cantar vitória e o esforço deve continuar, incansável, até que a ciência consiga decifrar a fonte de poder desse misterioso vírus.
Outros compromissos que compõem as metas do milênio dizem respeito à igualdade entre os sexos e à autonomia da mulher, à sustentabilidade ambiental e ao desenvolvimento econômico, este alcançado pela eliminação das barreiras internacionais criadas pela competição entre as nações. O objetivo é eliminar os subsídios que os países mais ricos praticam em favor dos produtores locais, especialmente agricultores, deixando populações de outras regiões do mundo sem alternativa para escapar do círculo vicioso da pobreza.
São metas ambiciosas, mas necessárias, que merecem a atenção e o esforço não somente dos órgãos governamentais, mas igualmente das empresas, instituições e da população em geral.