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Esporte
Crianças saudáveis

Postado em 01/08/1998

Se praticada com consciência, dificilmente uma atividade física prejudica a saúde, a não ser que o sujeito decida pular de pára-quedas sozinho, sem nenhuma aula prévia, tendo três pontes de safena. Porém, até isso prova que as restrições só existem quando se leva em consideração a intensidade da atividade e as circunstâncias nas quais ela é praticada. Todos podem (e devem) praticar exercícios físicos, desde que tomadas as devidas precauções. Exames médicos, avaliações físicas e o gosto pessoal de cada um são três dos requisitos básicos para uma vida ativa regada de benefícios e longe dos problemas.

É notório que uma criança que pratica esporte é mais saudável, que um idoso ativo está mais longe das complicações da idade e que um adulto que não tem medo do suor está mais bem preparado para as atribulações do dia-a-dia. Seja qual for a idade, há um momento certo para a pessoa desenvolver determinada atividade física. Assim como uma criança em crescimento deve ficar afastada dos halteres pesadíssimos, um octogenário não deve praticar alpinismo. Médicos, professores de Educação Física e os próprios praticantes garantem: há uma idade adequada para cada esporte.

Crianças saudáveis

"A criança, por exemplo, passa por muitas fases de desenvolvimento psicológico", começa a explicar o Dr. André Pedrinelli, especializado em medicina esportiva. "Não adianta propor um jogo com esquemas táticos para uma criança de 5 anos, porque ela não vai conseguir acompanhar. Seu cérebro ainda não está amadurecido para isso." O médico aconselha que na infância, até aproximadamente os 10 anos, a criança inicie atividades que a instruam nos movimentos mais básicos do corpo, como correr, saltar e pedalar. Já próximo dos 11 anos, quando a criança começa a entrar na pré-adolescência, ela pode encarar o esporte como um fator de posicionamento social. "Nessa fase, torna-se mais adequado apresentar esportes de competição ao jovem", afirma Dr. Pedrinelli. "Mas variando as modalidades esportivas, para que ele desenvolva uma relação com a maior variedade de esportes possível." A pré-adolescência é um ótimo momento para introduzir a musculação, por exemplo. Segundo o médico, nesta fase, os hormônios começam a entrar em ação e isso deixa o organismo mais receptivo, proporcionando um maior incremento de força. "Mas é claro que você não vai treinar um jovem de 16 anos querendo que ele seja um campeão mundial de levantamento de peso", brinca Pedrinelli, advertindo os pais que forçam o treinamento dos filhos de olho em resultados.

Aliás, aos pais que vêem nos filhos um antigo sonho frustrado com chances de ser realizado, o médico explica onde reside o problema: "A capacidade de manter uma atividade física por muito tempo é proporcional à capacidade de consumo de oxigênio". Essa, por sua vez, é proporcional ao peso do indivíduo. A criança, devido à idade, tem diminuída sua capacidade de consumir oxigênio e trabalhar seus exercícios de maneira aeróbica (condição ideal de exercício em que a fonte de energia é o oxigênio). Pedrinelli exemplifica dizendo que não é por que uma pessoa é gorda que tenha maior capacidade de consumo de oxigênio, mas um adulto se mostra mais apto a determinados treinamentos que uma criança, geralmente com peso menor.

O Dr. Léo Vilarinho, também especializado em medicina esportiva, completa que o ideal para as crianças são os chamados esportes aeróbicos, como basquete, natação e vôlei, porém, praticados buscando a recreação e não a disputa. Justamente por serem coletivas, tais modalidades ajudam a criança a se relacionar melhor na sociedade, além de ajudar a desenvolver a coordenação motora. "Atividades físicas como estas possibilitam à criança trabalhar todos os setores do corpo, desde o coração e pulmão, até os músculos e ligamentos", explica.

Esportes mais específicos, como tênis e ginástica olímpica, exigem que as crianças comecem cedo, por volta dos 5 ou 6 anos. Não chegam a ser proibidos, mas merecem atenção. Dr. Vilarinho aconselha que eles sejam desenvolvidos juntamente com exercícios de compensação. Alongamento e natação são bons exemplos. "O tênis pode ser praticado por crianças, sem problemas, mas há de ser computado aí o trabalho extremamente específico e repetitivo com a raquete, ele tem o seu peso e pode comprometer o desenvolvimento do jovem praticante", alerta. "A mesma coisa é a ginástica olímpica. Trata-se de uma atividade física muito localizada nos membros inferiores, isso ocasiona um fortalecimento excessivo das pernas e pode resultar em algumas deformidades." Estudos comprovam que o esporte competitivo é lesivo ao aparelho locomotor da criança. O fato levou o Comitê Olímpico Internacional a fixar a idade mínima para competição em ginástica olímpica em 12 anos, impedindo que crianças de, muitas vezes, somente 8 anos prejudiquem o seu desenvolvimento natural em busca de uma medalha. Muitos podem pensar que a providência tomada pelo Comitê não impede que as meninas treinem desde cedo. Porém, a diferença aparece na intensidade do treinamento, que tende a ser menos desgastante, já que os resultados poderão esperar. Tal medida prova que mesmo as organizações internacionais começaram a mudar a antiga noção de que, no esporte, os fins justificam os meios. Tiro certeiro no alvo para pais que querem ter em casa pequenos campeões, ignorando o gosto pessoal dos filhos e colocando mera vaidade na frente da saúde das crianças.

As unidades do Sesc, como a da Consolação, colocam à disposição pequenos projetos de iniciação esportiva, em que as técnicas e as regras de diversas modalidades são passadas junto com noções de sociabilização, respeito aos próprios limites e, o mais importante, que a saúde deve vir antes da performance. Cristiane Lourenço, coordenadora do setor de atividades permanentes, explica que as atividades físicas da unidade, a exemplo da filosofia de toda entidade, visam iniciar a criança na ludicidade do corpo e todos os seus movimentos. "É muito importante que a criança tenha o maior universo possível de possibilidades dentro de vários esportes, o que a leva a praticar aqueles esportes que mais lhe agradam", analisa. No Projeto Curumim, que não é específico de esporte, mas inclui elementos de desenvolvimento físico em sua metodologia, os pequenos de 7 a 12 anos aprendem a ter intimidade com o movimento. A partir daí, crianças de 12 a 15 anos dispõem, nos cursos de iniciação esportiva, de uma chance de tomar contato com modalidades esportivas mais específicas e suas técnicas e regulamentos. "Mas ainda assim não é esporte competitivo", alerta Cristiane. "A filosofia é outra. Trabalhamos com o coletivo, com a sociabilização e com a integração da criança como um todo."

Adultos mais ativos

Quando o trabalho de diversidade esportiva e de respeito à modalidade preferida não é feito na infância, essa questão tem de ser colocada em pauta em algum momento da vida. Qualquer instituição esportiva, que vise um trabalho sério junto à atividade física, deve primar pela reeducação corporal do praticante antes de jogá-lo num aparelho qualquer de ginástica ou numa quadra de esportes. Este é um dos principais fatores condicionantes da prática esportiva para o indivíduo na idade adulta, leia-se dos 18 aos, aproximadamente, 45 anos. Cristina Riscalla Madi, gerente-adjunta do Sesc Pompéia, explica que essa é a principal filosofia da instituição no trabalho com os adultos. "É prioritariamente um trabalho de reeducação", diz. "Encontramos uma boa parcela de alunos que não teve uma experiência anterior, digamos, interessante, com atividade física. Ou por que foram limitados quando criança, ou por que houve pouca experimentação na infância. Quando a pessoa chega aqui, muitas coisas são estimuladas. Se ela faz ginástica, por exemplo, muitos outros movimentos são apresentados a ela, além dos movimentos específicos da aula." O trabalho de reavaliação da postura do indivíduo perante a prática esportiva é importante quando concluímos que nessa faixa etária a incidência de abandono da atividade física é altíssima. Isso se deve ao fim do período estudantil (as universidades geralmente funcionam com pólos esportivos) e ao início da vida profissional. Estatísticas brasileiras mostram que os homens abandonam a vida esportiva por volta dos 25 anos e a mulher, aos 15. "Para a mulher é um grande problema abandonar o esporte tão cedo", retoma André Pedrinelli. "Nessa idade ela ainda não formou seu patrimônio ósseo em sua melhor extensão possível. Isso a deixa mais propensa a ter osteoporose, por exemplo." Segundo o médico, a atividade física funciona como um regulador do metabolismo das pessoas. No caso do adulto, a prática esportiva já deve ser praticada visando a manutenção da saúde. Isso porque a partir dos 25 anos, o ser humano perde, pelo processo biológico de envelhecimento, 1% de massa muscular por ano. Pode parecer pouco, mas imagine essa perda, sem os ganhos proporcionados pelos exercícios, num indivíduo de 60 anos. "Justamente o que não se pode confundir", acrescenta Pedrinelli, "é envelhecimento biológico com atrofia por desuso".

No Sesc, a palavra "desuso" pode facilmente cair em desuso no vocabulário dos frequentadores. Como se já não houvesse em todas as unidades, quadras, piscinas e salas de ginástica à disposição dos interessados, os clubes de caminhada e a ginástica voluntária garantem níveis ideais de prática física a pessoas de todas as idades, e, mais importante, são filosofias de trabalho que primam pelo respeito aos limites de cada um. Maria Luiza Sousa Dias, gerente de Desenvolvimento Físico e Esportivo do Sesc, explica melhor os trabalhos: "A ginástica voluntária do Sesc é uma metodologia de trabalho em que qualquer tipo de atividade se encaixa, desde que respeitados os preceitos. O trabalho visa o autoconhecimento do corpo pelo praticante, a consciência dos próprios limites e a formação corporal do indivíduo como um todo, para qualquer idade. Já com a caminhada, os resultados variam um pouco de acordo com os grupos etários. Mas os objetivos em comum estão no desenvolvimento cardiovascular, qualidade própria do caminhar, na sociabilização e no contato com a natureza". Quanto ao público para ambas as atividades, Maria Luiza explica que se centra mais nos adultos e idosos, o que não significa que crianças e adolescentes fiquem totalmente de fora. Vez ou outra as unidades promovem tracking por trilhas mais radicais, atraindo o público mais jovem, e a ginástica voluntária já foi bem-sucedida em meio a brincadeiras na piscina, garantindo a presença da criançada.

Terceira Idade em forma

A já citada atrofia por desuso é, definitivamente, um dos problemas que mais impedem uma vida ativa plena, principalmente para os idosos. Mário Augelli, gerente-adjunto do Sesc Ipiranga, analisa que, quanto mais velho ficamos, mais aumenta a necessidade de fazer atividades físicas. "Caso contrário, as coisas vão atrofiando. Uma articulação que não é exercitada fica limitada. Um músculo sem 'uso' é fraco. Uma musculatura fraca e uma articulação limitada deixam uma pessoa incapaz até de amortecer uma queda na rua. O exercício para os idosos é importante mesmo para a realização das atividades do cotidiano, como atravessar a rua. A pessoa não pode perder a agilidade, a flexibilidade, o tônus muscular e a capacidade respiratória e culpar exclusivamente a idade", alerta. Para isso, a unidade coloca à disposição dos interessados aulas de hidroginástica, apropriadas para idade mais avançada, em virtude do baixo impacto. Além disso, o Sesc oferece esportes adaptados. Modalidades como vôlei e basquete, praticadas sob regras menos rígidas, são ideais para o público de meia-idade, enquanto o projeto A Mulher e sua Idade, em que mulheres a partir de 45 anos discutem assuntos pertinentes à idade, dá a chance de se iniciar numa vida esportiva mais ativa. Deve-se somar a tudo isso, os cuidados a serem tomados por pessoas nessa faixa etária. É fundamental fazer exercícios, mas alguns cuidados são necessários e deve-se respeitar as particularidades dos casos.

A indicação do esporte ideal não se altera com a idade. Há atividades pluri-etárias, como os exercícios aeróbicos em geral. Andar, correr, nadar e pedalar são as quatro atividades mais aconselhadas pelos médicos. Dr. Léo Vilarinho, que costuma trabalhar com essa clientela, exemplifica: "Se um indivíduo engordou 30 quilos, mandá-lo correr, ou até mesmo andar, pode ocasionar uma sobrecarga indesejável sobre os membros inferiores, exatamente pelo excesso de peso. Em contrapartida, essa pessoa precisa praticar exercícios, inclusive para emagrecer. Nesses casos, é aconselhável que o indivíduo procure atividades que não tenham tanto impacto sobre as pernas". A natação e a bicicleta são indicadas, segundo o médico. Mas se pedalar ou nadar não estiverem entre as atividades preferidas da pessoa? "O universo de possibilidades no esporte é vasto, a tendência é procurar uma alternativa que agrade e não coloque em risco a saúde", responde Dr. Léo.

Entre os cuidados que uma pessoa acima dos 40 anos deve ter quando inicia uma atividade física, a boa saúde do coração tem de ser privilegiada. "Problemas de membros ou agravamento de dores na coluna podem ser detectados e contornados", explica o médico. "Mas o coração leva a riscos de vida. Nesse caso, recomenda-se atividades físicas mais leves e moderadas, sempre precedidas de avaliações médicas". O ideal é que se trabalhe entre 60% e 80% da freqüência cardíaca máxima. Para encontrar tal frequência, basta subtrair a idade do número 220 e o resultado será o número de batidas do coração por minuto que se deve ter como parâmetro. Segundo os médicos, essa fórmula apresenta uma margem de segurança bastante boa, é claro que apenas para pessoas que, sabidamente, não tenham nenhum problema cardiorrespiratório.

Para a criança, para o executivo, para a dona de casa ou para os mais velhos, a ordem do dia no que se refere à atividade física é basicamente a mesma: exercícios moderados e feitos dentro das possibilidades e dos gostos de cada um. Aos especialistas, médicos e professores de Educação Física, cabe a tarefa de orientar as pessoas e ajudá-las a estabelecer níveis que assegurem a saúde e o bem-estar, desde a infância até a velhice.

Treinamento completo

Os médicos aconselham que, independente da idade, as atividades físicas devem ter quatro componentes básicos:
Aeróbica: atividades de longa duração realizadas usando o oxigênio como fonte de energia, tais como nadar, pedalar, correr, dançar ou remar.
Exercícios físicos gerais: abdominais, rotação do tronco ou flexão do braço.
Alongamento: exercícios que visam à recuperação da mobilidade articular e devem acompanhar todo e qualquer tipo de atividade física ou esportiva.
Exercícios de força: trabalho com uso de pesos, respeitando as limitações de idade e biotipo. Um ganho equilibrado de massa muscular garante um bom controle das articulações. Trabalhando com um programa de treinamento que conte com estes quatro componentes, você garantirá benefícios para todas as partes do corpo.

Mais benefícios à Terceira Idade

Especialistas estabeleceram, através de estudos dos fenômenos e comportamento do público de Terceira Idade, uma diferença entre os processos mais comuns de envelhecimento do organismo. Mesmo sem aparentes ligações com atividade física, torna-se necessário saber exatamente onde a prática de exercícios pode influir beneficamente no processo de envelhecimento biológico. Entre a velhice considerada normal (com ausência de doenças físicas ou mentais), a ótima (na qual o idoso é rodeado de todos os fatores sociais e psicológicos necessários para um envelhecimento ideal), há o que se pode considerar a mais comum: a velhice patológica, um envelhecimento com presença de doenças crônicas ou síntomas típicos da idade. Mesmo sendo a mais comum, não chega a representar um problema insolúvel. É aí que as atividades físicas entram mais uma vez para proporcionar ao ser humano a qualidade de vida tão desejada, mesmo numa idade que é, equivocadamente, confundida com perda de saúde.

A prática de atividade física bem orientada traz ao idoso inúmeros benefícios que se tornam ainda mais fundamentais com a chegada da idade. Entre eles, a redução da frequência cardíaca e da pressão arterial (resultando na diminuição do trabalho cardíaco), aumento da eficiência do transporte de oxigênio, aumento dos pequenos vasos sanguíneos (isso tanto nos músculos exercitados quanto no próprio coração), diminuição do peso e da gordura corporal, aumento da massa muscular, melhor coordenação motora, melhoria do equilíbrio psicológico e redução do índice de colesterol. Comprovadamente, segundo Dr. André Pedrinelli, as atividades físicas diminuem os problemas mais comuns decorrentes da idade. "Há casos de diabetes em que você pode diminuir em até 50% a ingestão de medicação através da atividade física. Por que para um diabético é muito importante uma boa irrigação dos tecidos, coisa que a atividade física proporciona." Segundo o médico, a prática de exercício ajuda em tratamentos que vão desde controle da depressão até complicações ósseas. "Mulheres que têm uma vida ativa mais intensa apresentam menor propensão a osteoporose", acrescenta. "Consequentemente, terão um índice de fraturas menor."
Outro problema muito comum entre os idosos é o do trânsito intestinal lento. "Em outras palavras, muitos deles demoram dois ou três dias para irem ao banheiro", esclarece Dr. Pedrinelli. De acordo com o médico, se essas pessoas tiverem uma experiência mais efetiva com atividade física, poderão se ver livres do inconveniente. Exercícios também controlam a temperatura e aumentam a capacidade cardiorrespiratória.
Dentre todos os benefícios já citados, o médico aponta a diminuição da necessidade de tantos remédios, o que talvez seja o fator mais importante e de maior interesse ao público da Terceira Idade.

Idade & atividade física

De 7 a 10 anos
O que praticar: Conhecer as modalidades de forma lúdica e sem compromisso com a performance ou resultados (brincadeiras, jogos adaptados etc.).
Benefícios: Contribui para o desenvolvimento geral da criança, ampliando seu repertório de movimentos e ajudando a desenvolver a coordenação motora.

De 11 a 14 anos
Iniciação esportiva específica com aprimoramento da técnica, mas sem sobrecarga de exercícios (esportes coletivos e individuais como futsal, vôlei, atletismo e natação).
Benefícios: Conscientização corporal e fortalecimento geral durante as alterações orgânicas decorrentes da puberdade.

De 15 a 49 anos
Qualquer modalidade, desde que esteja de acordo com as condições físicas e objetivos do indivíduo.
Benefícios: Manutenção da condição física geral, contribuindo para melhoria da qualidade de vida.

A partir de 50 anos
Atividades de baixo impacto como hidroginástica, caminhada, alongamento e natação.
Benefícios: Combate ao sedentarismo e seus malefícios (além dos benefícios especificados no box Mais benefícios à Terceira Idade)

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