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Arte
A presença do novo

Postado em 10/05/2004

Galpão das Intersecções, criado no Sesc Pompéia, mistura linguagens e provoca novas experiências artísticas

O espaço sempre existiu, e ali diversas atividades já tinham acontecido - porém, nada "oficial". De olho no potencial que o galpão do Sesc Pompéia possuía, somado à sua disposição arquitetônica cheia de possibilidades, a equipe de programação da unidade resolveu criar o Galpão das Intersecções - um local que se dedica a apresentações e performances que tenham como principal característica a mistura de linguagem. Uma intersecção entre elas, como revela o nome. "Nós começamos a oficializar esse espaço em janeiro", explica o técnico da unidade Marcos Villas Boas. "Um espaço alternativo para que a gente possa trazer trabalhos que respeitem sua configuração, que incorporem as colunas que estão no meio, os tijolos, e que também proponham um diálogo entre linguagens."
As apresentações já contemplaram a dança com a literatura; a arquitetura, como no trabalho de Lara Pinheiro Dau; e até a física, com os vetores de Roberto Ramos. A idéia de fato é sempre trazer trabalhos que tragam uma pesquisa interessada no novo, mesmo que para isso ultrapassem os tradicionais limites da própria arte e se aliem ao conhecimento científico, como já aconteceu na apresentação de Ramos. A dinâmica do programa prevê ainda a participação de um convidado comentando o espetáculo. Um antropólogo, um físico, um fotógrafo, enfim qualquer profissional que possa acrescentar uma análise ao que foi visto pelo público, geralmente formado por artistas, mas que não dispensa interessados em geral.

Em andamento
Entre os destaques nas apresentações encontra-se o trabalho, já mais conhecido, da bailarina e coreógrafa Vera Sala, que abriu as atividades do Galpão com ImPermanências - continuidade da pesquisa desenvolvida desde o ano passado com a instalação apresentada no Centro Cultural Banco do Brasil, com o apoio de uma bolsa do Museu Guggenheim. "Não tenho um espetáculo pronto", explicou a artista ao jornal O Estado de S. Paulo acerca do que foi visto no Galpão do Sesc Pompéia. "A idéia é apresentar a dança como processo, a maneira como o corpo se desconfigura e pode ser reconfigurado, e os estados corporais."
Eliana e Sofia Cavalcanti também compuseram a programação do espaço com O Selvagem, o Poeta e o Dançarino, um trabalho que parte da colagem. Referências, lembranças, construções recorrentes e a dança permeando toda construção. Ora um sacrifício, como quando dançam ao som de Sagração da Primavera, de Stravinsky, ora uma sedução, sob a morbidez erótica do Bolero de Ravel.
Comovente e inquietante, outro ponto forte foi a performance de Jussara Miller. Protagonista de um solo criado a partir da vida e obra da poetisa goiana Cora Coralina, Jussara propõe, em Cacos de Louça Acaso Quebrada a fotografia como parceiro num espetáculo no qual ela dança sem música, faz seu corpo dialogar com projeções de slides e emociona ao evocar elementos de uma infância mítica, com a qual qualquer um pode se identificar.

Movimento de dança
No entanto, a essa altura, muitos podem estar se perguntando por que tantos espetáculos de dança num espaço que tem como característica primordial receber todas as manifestações artísticas. A resposta está no próprio movimento do circuito das artes em São Paulo. Espaços para apresentações não convencionais de teatro, por exemplo, podem ser mais facilmente encontrados que para a dança. Logo, as propostas recebidas pela programação do Sesc Pompéia acabam vindo mais de bailarinos que de atores. "O objetivo é buscar linguagens e novas possibilidades, seja no teatro, seja na dança", faz questão de repetir Villas Boas. "Mas é fato que a gente tem recebido muito mais dança que teatro." O técnico enxerga que o motivo talvez se dê pelo fato de que a dança está mais "aberta" a essas possibilidades. "A gente queria um pessoal que 'assumisse' nossa arquitetura, e acho que a dança está mais voltada a essa experimentação."


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