Postado em 23/09/2004
A Praça Rotary, por exemplo, localizada na região do centro histórico de São Paulo, recebeu recentemente um trato todo especial para voltar a ser um ambiente frequentável e seguro. "Nós nos reunimos e começamos a tentar fazer alguma coisa para recuperar a praça", conta José Carlos Luiz, vice-presidente do Núcleo Amigos da Praça Rotary, criado em 1996. "A partir disso começamos a trabalhar junto à prefeitura. Fomos ao Clube Rotary, que afinal dá nome à praça, e procuramos ajuda da comunidade, dos comerciantes locais e de entidades e empresas." Entre as mãos que se estenderam em ajuda ao Núcleo está a do Sesc. Sua unidade da Consolação, vizinha à praça, envolveu-se no projeto através de um convite, uma parceria que garantiu um nome forte por trás das tentativas dos Amigos da Praça em mobilizar órgãos públicos e iniciativa privada. "Nós tivemos, num primeiro momento, um trabalho corpo a corpo", continua José Carlos. "Nossa intenção era conseguir um posto policial porque a região aqui é um pouco complicada. Solicitamos aos comerciantes e empresas da região uma quantia – cada um ajudava com o que podia ou queria – e o Sesc acabou, através de um convite nosso, vinculando-se ao Núcleo. Hoje há um representante da entidade em nossas reuniões."
A participação do Sesc no projeto de restauração da praça e posteriormente em atividades que visam dar continuidade ao processo de revitalização do local tem como objetivo oferecer ao Núcleo seu know-how em programações culturais, esportivas e de lazer. A entidade se envolveu nesse projeto como representante da comunidade local. Não houve apadrinhamento ou patrocínio, mas sim uma contribuição valiosa no campo de promoção sociocultural. "O Sesc foi convidado pelo Núcleo como foi convidada toda a comunidade da região, os síndicos dos prédios, os bancos, os comerciantes, etc.", explica Walter Macedo Filho, assistente-técnico do Sesc Consolação. "Este ano, resolvemos promover uma coisa que o Sesc sempre fez, que é o projeto de férias para as ruas. Só que desta vez tentando fazer com que o Sesc, ao mesmo tempo, colabore com o Núcleo, desenvolvendo atividades na praça, e convide as pessoas a conhecerem o local, etc.", conclui. Walter explica também que se trata de uma ocupação pública da praça, uma grande festa, com brincadeiras e jogos, que fará com que as pessoas, além de tomarem ciência de que a Rotary voltou a ser um lugar seguro e divertido, conheçam cada vez mais o trabalho do Sesc.
Cortesia de Vizinho
A programação idealizada pela entidade para janeiro preencheu os quatro sábados do mês com uma festa que teve como tema a aventura e o desafio. O primeiro sábado de atividades contou, entre outras coisas, com uma parede de escalada, um trampolim acrobático, trapézios e rampas de skate, elementos que mudaram o cenário da praça no primeiro mês das férias. "Mas pensamos também em fazer atividades que pudessem abrigar todas as idades e gostos", salienta Walter. "O objetivo é fazer com que todos percebam que não é preciso estar na praia ou em lugares determinados para ter acesso a práticas que contêm um pouco mais de adrenalina."
Walter salienta ainda a importância da participação do Sesc no processo de revitalização da praça: "Essa intervenção que nós fizemos no mês de janeiro na Praça Rotary vem a ser a colaboração mais efetiva nossa dentro do Núcleo", analisa. "Porque nós acreditamos que se o Sesc usar o seu prestígio como participante do Núcleo, atividades como estas darão um retorno ainda maior tanto para o próprio Núcleo quanto para a praça", conclui. O nome da entidade, estando entre os fomentadores desse projeto garante mais facilidades para os Amigos da Praça Rotary na hora de conseguir coisas da prefeitura, como manutenção ou a própria liberação do espaço para futuros eventos. "O Núcleo ganha um poder de fogo maior", garante Walter, acrescentando ainda que é importante que todos saibam, empresas, prefeitura e a própria sociedade, que um nome sério e forte como o do Sesc abraçou a causa.
Felizes surpresas aguardaram todos que participaram dos sábados de festa na praça, entre elas a mais inusitada: o trenzinho que o Sesc colocou à disposição da comunidade para rodar pelas imediações convidando todos para a festa acabou se tornando uma das principais atrações. "Foi incrível", conta o vice-presidente do Núcleo. "As crianças não se contentaram somente em ir até a praça de trenzinho, elas queriam ficar andando o dia todo na companhia dos animadores que seguiam junto". Isso provou o sucesso da iniciativa e garantiu futuras programações para o local. "O que nós do Sesc estamos fazendo é dar um impulso ao Núcleo, o importante deste projeto é o espírito comunitário do trabalho e a nossa parte é fazer toda a programação dos eventos", conclui Walter.
A unidade Consolação, assim como outras do Sesc, já tem uma tradição em realizar atividades em espaços fora dos seus limites. Um dos exemplos pioneiros foram as programações realizadas na rua Dr. Vila Nova, no projeto Abriu a Rua, ainda nos anos 70.
As atividades feitas em janeiro e outras que se realizarão no decorrer do ano abrem oficialmente a nova Praça Rotary e a entrega definitivamente ao público.
Revitalizando o Centro
O centro histórico da cidade de São Paulo também passa por um processo de abandono parecido com o que ocorreu com a Praça Rotary, só que em maior escala. Visando fazer dele um local que ainda tenha muitas histórias felizes a contar, a unidade do Sesc Carmo também mobilizou diversas frentes a fim de devolver às ruas e aos espaços públicos (como o Pátio do Colégio) o cunho de centro cultural que o local vem perdendo a passos largos nas últimas décadas. "Tais realizações se mostram importantes para que possamos diversificar a oferta de nosso trabalho", argumenta Mário Augelli, coordenador de programação da unidade. "Por isso realizamos atividades fora da unidade, em ruas, parques, que são locais onde podemos fazer intervenções que levam às pessoas produtos culturais de qualidade." A unidade, portanto, realizou 12 atividades no ano de 97 e contemplou lugares como a rua do Carmo, o Pátio do Colégio e o Largo São Bento com peças teatrais de rua, festas juninas e grupos culturais de todo o país. Os destaques ficaram por conta da Mostra Sesc de Teatro Social de Rua, com vários grupos de teatro ocupando as ruas com manifestações dramáticas dos mais diversos gêneros, a dramaticidade religiosa de A Saga de Jorge, que encheu os olhos dos transeuntes com as cores vivas e a história emocionante do santo guerreiro, o grupo maranhense Bumba-Meu-Boi de Axixá, além da música e dos ritmos nortistas do Brasil e a festa São João na rua São Bento, que teve como palco a estação São Bento do metrô e teve direito a cortejo festivo, quadrilhas, repentistas, danças típicas e animação musical. O padre da Igreja de Santo Antônio até benzeu o mastro com a imagem dos santos homenageados nas quermesses, num clima de festa das cidades do interior, só que tudo isso bem no centro de uma das maiores metrópoles do mundo. "Com isso, nós respeitamos a concepção dos trabalhos a serem apresentados, certos espetáculos são adequados e idealizados para serem apresentados na rua, em espaços abertos grandes", explica Celina Tamashiro, também da equipe de programação do Sesc Carmo. E Mário completa: "Assim é possível também abrirem-se espaços para grupos de teatro que estejam começando, novos talentos."
Prova de que o Sesc não apenas leva ao grande público a oportunidade de ter de volta sua cidade, como também promove uma democratização de bens culturais e uma chance de fazer das ruas palco para o surgimento de uma nova geração de artistas.
Tênis na Rua
Levar o tênis, uma prática tida por muitos como de elite, ao alcance do maior número de pessoas possível, e ainda promover iniciações esportivas de várias outras formas, como ginástica voluntária, futebol e brincadeiras de rua como amarelinha e taco, foi o objetivo principal que levou a equipe de técnicos do TeniSesc a ocupar as ruas vizinhas à unidade e parques como Villa-Lobos e Ibirapuera. "Essa questão de utilizar espaços alternativos começou a ter um peso maior na nossa programação de atividades a partir de 1993", explica Marco Antônio Silva, gerente-adjunto da unidade. "Foi quando nós fizemos uma avaliação das atividades que já desenvolvíamos dentro da unidade que chegamos à conclusão de que se nós quiséssemos crescer e oferecer novas atividades ao comerciário e à comunidade de um modo geral, teríamos que sair e utilizar esses espaços."
A partir do tênis, característica principal da unidade, os técnicos ampliaram essa atividade e incluíram outras, ampliando, com essa medida, o número de pessoas atendidas. "Nós fizemos vários projetos na área de tênis, além de outros culturais. Junto com a Biblioteca Municipal realizamos o Projeto Sesc de Palavras Cruzadas; fizemos também atividades de recreação nas ruas próximas à unidade, o Projeto Tênis nas Escolas, Projeto Sesc nas Ruas de Lazer, Tênis em Ação, Tênis nas Empresas e Tênis no Parque", conta Marco Antônio.
Segundo o gerente-adjunto da unidade, o projeto que apresentou um diferencial maior e também proporcionou uma enorme carga de experiência foi a programação realizada nas ruas de lazer, pois apresentou o esporte às pessoas de diversos bairros junto com práticas mais conhecidas do grande público, como o futebol e o frescobol, e ainda resgatando brincadeiras de rua. Além disso, orientou as comunidades como utilizar da melhor maneira possível os espaços que elas têm. "Essas ruas geralmente ficam em bairros de periferia e tornam-se muitas vezes a única opção de lazer. Elas funcionam como um clube ou algo nesse sentido, com várias manifestações culturais, de recreação e esporte. No caso do tênis, fizemos com que ele fosse uma atividade prazerosa que possibilitasse às pessoas ter um primeiro contato com a modalidade em locais onde a maioria delas nunca tinha tido contato com raquetes e bolinhas", conclui Marco.
Além da preocupação em levar esportes de pouca difusão à comunidade, utilizando os parques e ruas para isso, o TeniSesc, assim como outras unidades que promovem shows e atividades recreativas em espaços abertos, teve que pensar em todos os detalhes para levar a infra-estrutura da unidade a lugares como quadras de colégio ou ambientes ainda mais inusitados, como estacionamentos de lojas de departamento, lanchonetes ou stands, como no caso do Salão da Criança no SP Market. "Para a equipe é um desafio a partir do momento em que ela está habituada a um público interno e praticamente dentro dos parâmetros pré-estabelecidos, já que se tratam de atividades que nós já desenvolvemos dentro da unidade. Mas quando temos de levar tudo isso para fora, é necessária toda uma preparação, fazer um plano de aula especial, prever eventuais problemas, etc. Isso demanda mais recursos humanos e materiais. Temos que transportar aparelhagem de som, fitas para demarcar quadras, cones para fazer a divisão, no caso da ginástica voluntária levamos um palco, cercamos as quadras para que a bolinha não fuja...", analisa Marco Antônio.
As preocupações vão desde coisas obviamente necessárias até pequenos detalhes que exigem muita experiência e dedicação para que não passem despercebidos, mas ainda assim, segundo Marco, o resultado é muito gratificante.
Enquanto Isso no Parque da Independência...
A unidade do Ipiranga, próxima à rua dos Patriotas, ao Museu Paulista e ao Parque da Independência, também utiliza espaços fora da unidade para a realização de eventos esportivos, culturais e de recreação. "Desde que nós estamos aqui, em 92", explica Sílvio Luís França, assistente-técnico e coordenador de programação da unidade, "sempre tivemos essa preocupação de levar as atividades promovidas pelo Sesc para lugares maiores e abertos. Sendo vizinho de espaços como o Museu Paulista e o Parque da Independência, percebemos o quanto esses lugares são ótimos para eventos ao ar livre". Desde então, o Sesc Ipiranga vem desenvolvendo vários tipos de shows, espetáculos teatrais tanto à noite quanto de dia, vários espetáculos da temporada de teatro Sesc Outono 97, além de atividades de dança e esportivas. A unidade é capaz de abrigar um público de 500 pessoas em seu teatro e 200 no solário, mesmo assim, até "por uma questão de segurança e comodidade do público, torna-se conveniente esses shows terem espaços abertos e maiores como palco", explica Sílvio. O Sesc Ipiranga realiza espetáculos ao ar livre para até 2 mil pessoas, como foi o caso dos shows de Arnaldo Antunes e Paulinho da Viola.
No caso das atividades de lazer e recreação, os jardins do museu ou a própria rua dos Patriotas revelaram-se lugares bastante adequados já que podem reunir um número maior de pessoas e conferem às atividades um caráter mais democrático. "O Sesc Ipiranga, ao longo desses 5 anos, vem desenvolvendo um know-how para atividades externas", explica o coordenador. "Nosso primeiro evento foi em 93 com o grupo de teatro japonês Suzuki, que já envolveu uma grande infra-estrutura, com montagem de camarim, etc. Depois disso fomos realizando eventos que exigiram montagem de arquibancada, equipamentos, palco e cenário. Daí vem nossa experiência", finaliza.
Onde é a Festa?
Não dá mais para reclamar que não há o que fazer nos finais de semana na cidade de São Paulo. É só ter tempo e disposição para se aventurar a assistir a um dos 2.300 eventos que a Secretaria Municipal de Cultura promove por mês na cidade. De shows de música a atividades recreativas, passando por workshops e palestras, os eventos acontecem em 21 pontos da cidade, entre praças e ruas fechadas, dentro do projeto Arte nas Ruas que leva artistas a se apresentarem às segundas, quartas e sextas sempre ao meio-dia ou em parques, como os já notórios shows realizados no Parque do Carmo, Parque da Aclimação e Praça da Paz no Ibirapuera. Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria, uma média de 120 mil pessoas assistem aos shows do Parque do Carmo, o dobro do número de pessoas que lotam a Praça da Paz do Ibirapuera. Nomes como Marisa Monte e Carlinhos Brown, Lulu Santos, Djavan, Gilberto Gil e Paulinho da Viola já presentearam a cidade com sua arte, além, claro, dos fenômenos populares, como Xuxa, Catinguelê e o grupo É O Tchan, que lotaram esses espaços com recorde de público que já chegou a ultrapassar 200 mil espectadores. Muito mais importante do que números ou do tipo de música levada a esses lugares é a questão da cidade tornar-se uma alternativa para seus moradores, um lugar onde se pode encontrar grupos de teatro encenando na rua ao meio-dia, ou ser surpreendido com grandes artistas fazendo shows naquele parque perto de casa.