Postado em 23/09/2004
Carmen Lucia de Azevedo, Marcia Camargos e Vladimir Sacchetta, autores do livro Furacão na Botocúndia, a mais recente biografia de Monteiro Lobato, falam desta importante personagem da vida brasileira e mostram ao público as múltiplas faces do pai do Sítio do Pica-Pau Amarelo
Para grande parte das pessoas, Monteiro Lobato é o maior escritor infantil brasileiro. Não é para menos. Afinal, há mais de sessenta anos seus livros ilustram nossa infância com personagens genuinamente brasileiros. Mas suas idéias extravasam a obra literária e se estendem por diversas áreas ligadas ao desenvolvimento do país. Da edição de livros à prospecção de ferro e petróleo. Em 1998, celebra-se o cinquentenário da morte do autor. As homenagens foram iniciadas no ano passado com o lançamento do livro Furacão na Botocúndia (Editora Senac), no qual a vida de Monteiro Lobato foi resgatada através de fotos e fatos inéditos. Os autores, por meio de vasta pesquisa, revelam que Lobato não foi apenas o "Pai da Emília".
Quais foram as dificuldades para levantar a vida de Lobato, 50 anos após sua morte? Vocês se referiram às "multifaces" de Lobato. Quais eram elas? Mas por que a obsessão, primeiro por ferro e depois por petróleo? Por que essas outras características dele, como a de grande nacionalista, empreendedor, empresário preocupado com o futuro do país, ficam um pouco escondidas diante da figura dele como escritor? Qual é a história dessa briga? E as posições assumidas diante da prospecção do petróleo? As idéias defendidas por Lobato não estão fora de moda? Entrando no Lobato-autor infantil. Como, por meio da literatura, ele revoluciona o universo infantil? E 50 anos depois, ele conseguiu construir adultos melhores? Afinal, a maioria dos que dirigem o país cresceram lendo seus livros. Como surge o Sítio do Pica-Pau Amarelo e os seus personagens? Qual o tamanho da produção dele? Uma das facetas mais importantes de Lobato foi a de editor. Qual a importância dele para o mercado editorial nacional? Quando ele inaugura a editora? Em que ano? Como a Cia. Gráfico Editora Monteiro Lobato abre falência? E já no começo dos anos 20 ele vendia muito? Quando ele bate de frente com os modernistas, sua obra fica prejudicada? Mas foi essa a imagem que ele acabou passando... Como se desencadeia a refrega de Lobato com a Igreja? Como acontece a passagem das histórias de Lobato dos livros para a tevê? Depois de ter alcançado a popularidade máxima na tevê, hoje em dia muitas crianças têm dificuldade em acompanhar a linguagem de Lobato...
Apesar do Lobato ser um personagem que tem grande importância, ele não possui um acervo organizado. O grande arquivo dele se perdeu. Até hoje nenhuma instituição se preocupou em tentar juntar o que está espalhado por aí. Tivemos que sair atrás das informações em São Paulo, no Rio, etc. Mas a própria família tem pouca coisa. O Museu Monteiro Lobato, aqui em São Paulo, que funciona dentro da biblioteca infantil, tem alguma coisa, o resto está espalhado. Então foi trabalhoso juntar e organizar isso. Além de tudo, Lobato também é um personagem multifacetado. Ele foi editor, empresário, mexeu com petróleo, também foi jornalista e crítico de arte.
Ele era um curioso por natureza. Ele era uma pessoa que quando descobria um assunto ia fuçar, ia ver o que existia de novo sobre a matéria. Um bom exemplo é a relação dele com o aço: a siderurgia já existia no Brasil, não tinha nada de novidade, mas ele foi atrás de uma solução econômica para a questão. Porque o Brasil era rico em minério de ferro, mas como fazer para explorá-lo? Ele foi atrás de um novo processo pelo qual, com baixo teor calórico, você chegava a um aço de boa qualidade. Depois, Lobato tenta trazer esse processo para o Brasil, ele diz: "Essa é a nossa saída. Minas é um cocuruto de ferro, essa é a saída para o Brasil". Se você tiver meios de usar elementos como, por exemplo, bagaço de cana, babaçu como fontes alternativas de energia calórica... Outra saída planejada por Lobato era utilizar o café como fonte calorífica: "Puxa, nós estamos queimando café", era em plena crise da superprodução de café. "Se vai queimar de qualquer jeito, aproveita e faz aço com isso."
Lobato pensava no desenvolvimento traduzido na figura da máquina e, para construir essas máquinas, era preciso ferro. Para mover a máquina, o petróleo. Para ele, os dois pilares fundamentais são esses, e o terceiro, o pão, ou seja, o alimento. Esses são os três elementos da infra-estrutura econômica moderna.
Primeiro porque na área de literatura infantil não tinha mais ninguém, ele é ímpar. Já os outros Lobatos são polêmicos. Ele era polêmico, passou a vida criando polêmicas. No momento em que polemiza com os modernistas, com o grupo que sai da Semana de 22 e que detém a partir daquele momento a crítica literária, cria-se um conflito complicado. Imagina o que foi bater de frente com Mário de Andrade, que passa a fazer uma crítica ferrenha a Lobato, diminuindo sua literatura e tudo começou por causa de uma bobagem.
Em 1917, Anita Malfatti faz uma exposição e Lobato acaba com ela. Ele não gostava principalmente do cubismo. Para ele, a arte abstrata importada era uma coisa que não tinha nada a ver com a produção artística nacional. Agora, quando fomos fazer a pesquisa sobre Lobato, descobrimos que depois Anita Malfatti chegou a fazer capas para a editora de Lobato. Então essa história não estava bem contada. No fim, encontramos textos de Monteiro Lobato que apontam em outro sentido. Há um texto de 26 publicado no Diário da Noite, de São Paulo, que se chama "O Nosso Dualismo", no qual ele diz que o grande papel da vanguarda promotora da Semana de 22 foi renovar a produção cultural brasileira que levaria o Brasil a deixar de pensar em francês e deixar de falar e escrever com o português de Portugal. Este artigo vai gerar o famoso necrológio de Mário de Andrade que, simbolicamente, mata Lobato no jornal A Manhã, do Rio de Janeiro. Mas, por outro lado, encontramos também documentos do diálogo, através de cartas, entre Lobato e Oswald de Andrade, que estava em Paris divulgando e traduzindo Lobato para o francês. Essa rixa, portanto, era bobagem, um preconceito que foi sendo criado e consolidado. O fato é que Lobato sempre foi um livre atirador. Não se filiava a nada. Ele não queria ser chefe de movimento.
As pessoas diziam que Lobato era um nacionalista xenófobo, mas isso ele nunca foi. Ele nunca quis que o petróleo brasileiro ficasse fechado. Ele dizia, sim, que essa era uma questão fundamental para a soberania de uma nação. Hoje ouve-se que Lobato é o "pai da Petrobrás". Nunca! Ele era absolutamente contra o monopólio. Na verdade, era um liberal no sentido mais próprio da palavra.
Monteiro Lobato é absolutamente atual. Ele atravessou a primeira metade do século 20, acompanhando tudo o que está acontecendo, olhando com muito carinho para o país e para o brasileiro. Por isso que se preocupa com o Jeca Tatu. O primeiro Jeca, de 1914, era indolente e preguiçoso. Quatro anos mais tarde, ele descobre que o Jeca era daquele jeito porque estava doente. Então ele se mete numa cruzada por saúde e saneamento. Ele diz: "Olha, Jeca, você não é assim, você está assim. Você é um zoológico de protozoários". No final da vida dele, em 47, ele repensa o Jeca pela terceira vez e diz: "Jeca, você está assim porque você é um sem-terra e existe uma coisa chamada latifúndio que o prejudica". Ou seja, plenamente atual.
Caso Monteiro Lobato tivesse escrito em inglês, com toda certeza hoje ele seria um dos grandes fabulistas universais. Primeiro ele juntou todas as fábulas nas histórias dele. Depois, suas histórias versam sobre o fantástico, mas não sobre o fantástico opressivo, como ocorre com a maioria das fábulas importadas, e sim o fantástico delirante. A fórmula de Lobato tem um pé na realidade, mas também tem uma abertura para a ficção e o sonho. Veja que quando Lobato produz essa fábula, ele também subverte as relações entre crianças e adultos. De repente, as crianças são interlocutores com competência para conversar com os adultos e os adultos têm de estar disponíveis e olhar para a criança como um serzinho que pensa e que é inteligente. Ele dizia que não era um escritor de infantilidades, mas um autor infantil. Há, na verdade, um projeto por trás de toda essa literatura infantil. No final da vida, quando ele já está cansado, o petróleo não deu certo, o ferro também não, a ditadura do Getúlio o censurava, ele se dizia cansado de escrever para adultos. "Que gente chata!", ele dizia, "vamos ver se escrevendo para crianças, eu vou formar adultos melhores".
Conseguiu. O escritor José Roberto Withaker Penteado escreveu Os Filhos de Lobato, que trata justamente desse tema. O livro avalia, através de uma pesquisa de opinião rigorosa, como os valores que Lobato transmitiu estavam no imaginário de quem hoje faz parte da classe dirigente. Somado a isso, nós descobrimos um acervo de aproximadamente 400 cartas escritas por crianças para Lobato. Através delas, percebemos que, primeiro, Lobato mantinha um diálogo com seus leitores, e um diálogo naquela mesma linha de seriedade com que ele olhava para as crianças: conversavam de igual para igual, no mesmo horizonte. As crianças propunham coisas, discutiam, pediam para ser personagens e confessavam que, através da leitura dos seus livros, tinham podido aprender história universal, mitologia grega, português, aritmética, e muitas das crianças deixavam claro que aqueles valores Lobato tinha conseguido passar.
Aos poucos. O primeiro livro que ele escreveu para criança, publicado no Natal de 1920, era uma história da Lúcia, a Menina do Narizinho Arrebitado. Depois ele vai dando sequência à obra. São histórias independentes mas que no fim formam uma grande saga. Por exemplo, todo o mundo conhece as Reinações de Narizinho, mas essa história não nasceu assim, nasceu com Lúcia..., na sequência houve várias histórias que ele junta, condensa e solta como um volume. Essa história da Narizinho Arrebitado, do Príncipe Escamado, do Reino, etc. nasceu de uma hora para outra. Ele estava jogando xadrez com Hilário Tasso (pseudônimo de José Maria de Toledo) na redação da Revista do Brasil. Hilário contou para Lobato a história de um peixinho que morreu afogado porque desaprendeu a nadar. Infelizmente, esse primeiro texto está perdido. Mas, mesmo antes desse episódio, Lobato sempre pensou em escrever histórias para crianças, pois acreditava que não havia histórias genuinamente brasileiras. Aliado a isso, ele sempre discutiu o pano de fundo da produção que fazia parte do projeto de desenvolvimento que ele tinha.
São trinta volumes. Treze para adultos e 17 para crianças, obra completa publicada pela Brasiliense, que foi a última editora com quem ele trabalhou. Além disso, há o trabalho de tradutor e adaptador. Não se pode esquecer que Lobato traduziu e adaptou Pinóchio, Alice, Grimm, Andersen, Robinson Crusoé. Na verdade, ele não fazia a tradução literal, ele dizia que fazia uma "ordenação literária" do texto, ou seja, como ele tinha talento e era uma pessoa criativa, do original ele traduzia a obra para uma linguagem que pudesse ser entendida pelo leitor brasileiro. Dizem os especialistas em tradução que, às vezes, as traduções de Lobato superavam os originais. Tanto nessa área infanto-juvenil quanto na área adulta, para a qual ele traduziu Tarzan, Hemingway, Einstein. No começo da década de 30, ele praticamente não escreve mais para adultos, a não ser coisas com um caráter de divulgação, para vender idéias. Escreve o que chamamos de "literatura panfletária".
É fantástica. Lobato cria a indústria do livro no Brasil. Antes dele ou os livros eram importados ou eram feitos aqui, mas sobre modelos europeus. Lobato é o primeiro que pensa o livro enquanto produto. Para ele, o livro precisava ser atraente, chamar o comprador. Enfim, Lobato era um "marketeiro" de primeira. Ele fazia uma coisa muito interessante: mandava cartas para comerciantes de todo o Brasil dizendo: "Você tem uma loja de armarinhos, que tal se você vender livro no seu balcão? Meu livro é um produto que pode interessar, pode até te dar lucro, etc. Se você quiser, eu te proponho mandar os livros em consignação". Isso em 1918! Naquela época, o Brasil tinha algo em torno de 30 livrarias. E, através dessa medida, ele amplia os pontos de venda. Ele dizia: "Uma pessoa do Amazonas não virá ao Rio de Janeiro comprar um livro". Em segundo lugar, ele dizia também que "livro não é artigo de primeira necessidade. Arroz, feijão, pão, etc., são. Livro não, livro é sobremesa. Agora, enquanto sobremesa, ele precisa ser atraente". Então ele faz capas coloridas, se preocupa com o título do livro, com a tipografia com que esse livro vai ser impresso. Além disso, ele construiu o primeiro parque gráfico da América Latina nos anos 20, que foi grande até os anos 40.
É uma longa história. Ele compra a Revista do Brasil e cria uma seção editorial ali. Depois, cria uma editora. E, de repente, Lobato percebe que para editar ele precisava ter um parque gráfico próprio, então começa a comprar máquinas. Depois, através da revista, chama autores novos que estão com textos na gaveta, já que na época só eram editados autores conhecidos. Alguém até comentou na época que dava a impressão que, de repente, houve um surto de produção literária de boa qualidade. Com o sucesso inicial ele transforma a seção editorial da Revista do Brasil na Monteiro Lobato e Cia., que se transforma na Cia. Gráfico Editora Monteiro Lobato.
Em 1925. Ele compra a Revista do Brasil em 18. Em 24 cria a Cia. Gráfico Editora Monteiro Lobato, além de editora, a empresa era uma gráfica que quebra em 25. Mas no mesmo ano que quebra a Cia. Gráfico Editora Monteiro Lobato, ele funda a Cia. Editora Nacional.
Ele era uma pessoa inquieta. Quando começa a editar, as coisas dão certo e ele se anima. Quando abre o capital da empresa para entrar mais dinheiro e continuar o negócio, ele faz uma projeção supondo estabilidade, vendas crescentes, etc. No meio disso tudo acontece uma revolução que destrói São Paulo (revolução de 24) e pára a cidade por dois meses. Ninguém produzia, todas as empresas e indústrias paulistanas pararam. Depois, para segurar a revolução, o presidente Artur Bernardes baixou um pacote econômico. Somado a isso, na virada de 24 para 25, São Paulo sofreu com uma seca violenta. Por último, José Carlos Macedo Soares, que fazia parte da sociedade anônima da Monteiro Lobato, atuou na revolução tentando governar a cidade. José Carlos termina preso e exilado. Lobato, por sua vez, fica irado com esse fato e manda uma carta ríspida para Artur Bernardes, enunciando parte de seu projeto para a democratização do país, dentre elas o voto secreto. Resultado: o Governo suspende as compras da Cia. Gráfico Editora Monteiro Lobato. De fato, ele era um baixinho invocado, não seguia ninguém, não obedecia ninguém, não baixava a cabeça. Por isso que eu acho que a história apagou ele um pouco, porque ele bate de frente com todo mundo.
Bastante. Enquanto a vanguarda modernista tirava edições de 200 a 300 exemplares, Monteiro Lobato vendia até 20 mil livros por edição. O Escândalo do Petróleo, 37, teve uma enorme tiragem. O texto dele era para a grande massa. Ele era uma pessoa que tinha um senso mercadológico muito grande e também tinha um senso de comunicador. Ele era uma pessoa na qual todo mundo acreditava. Ele dizia que as pessoas escreviam sobre um Brasil que ninguém conhecia. Dizia que os intelectuais tinham medo de entrar no mato por causa dos carrapatos.
A obra infantil não. Mesmo porque quando ele bate com os modernistas, o autor infantil estava nascendo. Ele foi prejudicado mais na crítica literária, da obra adulta e no plano das idéias. A crítica modernista colocava-o como um tipo meio estranho, exótico, que estava contra a corrente, conservador, coisa que ele não era.
Difícil dizer se foi realmente ele quem passou. Ocorreu uma conjunção de fatores. De um lado a crítica literária formada dentro do modernismo, de outro os interesses econômicos que eram contra os grandes projetos de modernização do país e, em terceiro lugar, a Igreja. No momento em que Lobato subverte, discute, questiona indiretamente a Igreja, coloca na obra infantil observações, respostas e indagações. Mas é justamente essa imagem que o livro procura desmistificar.
No começo dos anos 50, tem um padre que escreveu um livro de 400 páginas chamado A Literatura de Monteiro Lobato: Comunismo Infantil. Esse padre teve a paciência de ler, nas linhas e nas entrelinhas, toda a obra de Monteiro Lobato, em que momento ele estaria fazendo contrabando ideológico e questionando valores cristãos. Lobato, realmente, não concordava com a hipocrisia do clero que fazia o jogo dos poderosos. A Editora Nacional recebia cartas da Igreja pedindo para que os livros de Lobato não fossem publicados. A correspondência entre Lobato e seu público infantil era utilizada pela Igreja para acusá-lo de subverter a cabeça das crianças, pois elas escreviam: "Agora eu penso com a minha cabeça, você me abriu". No fundo, Lobato pretendia acabar com a noção de hierarquia, ordem, poder. Lobato dizia que, quando ele estava escrevendo, Emília saía da máquina, sentava do lado e dizia o que ele tinha de escrever. Ao contrário do que esse padre tentou provar, Lobato não passava nenhuma ideologia e nenhuma doutrina. Ele dizia que as crianças tinham de entrar em seus livros e cada vez mais saírem elas mesmas. Elas tinham de aprender a questionar tudo, inclusive questionar uma suposta doutrina ou uma suposta ideologia. Então pode-se até brincar dizendo que Lobato era muito "pior" do que eles achavam. Ele era um libertário.
Primeiro as histórias de Lobato ganham o rádio no início da década de 40. Depois, ele vai ser descoberto pela tevê, em 52, pela Tupi e fica nove anos no ar. Em 1968 o programa Sítio do Pica-Pau Amarelo vai para a Bandeirantes e em torno de 76, para a Globo.
É verdade. No ano passado, em uma espécie de mesa-redonda numa classe de crianças, uma das menina perguntou por que Lobato escrevia difícil. A professora pegou esse gancho e fez as crianças criarem um vocabulário paralelo ao texto que cada uma estava lendo. Na verdade, ele usa palavras que hoje estão fora do nosso dia-a-dia. As cartas que lemos durante a pesquisa mostram crianças de 7, 8, 9 anos lendo e escrevendo muito. Assim como hoje elas sabem de video game, televisão, computador naquela época a meninada lia.