Postado em 01/01/1998
A educadora Gisela Wajskop vê que a chegada das férias cria um certo pânico em virtude do fato de, nos últimos anos, os pais terem perdido a competência em seus papéis, ou seja, eles passaram a entregar a educação de seus filhos às instituições de ensino como escolas de balé, judô e natação, ou mesmo à escola regular e aos clubes de lazer. "Eu acho que quando as crianças ficam em casa, seja com a mãe ou o pai, não só nas férias mas também nos finais de semana, eles se sentem um pouco sem competência para estabelecer um vínculo com as crianças", analisa a educadora.
Algumas vezes, os pais conseguem coincidir suas férias com a dos filhos para ter a oportunidade de estar com eles na praia ou levá-los a conhecer a cidade com seus museus, parques e exposições temporárias, mas quando isso não é possível, as opções tornam-se restritas: ou despachar as crianças para a colônia de férias mais próxima ou deixá-las em casa, submetidas aos efeitos, nem sempre benéficos, da TV ou do video game. "Ou eles têm a dificuldade de trabalho e as crianças ficam em casa ou, mesmo com essa dificuldade, estão sensíveis a toda essa oferta de opções da sociedade, como os museus, parques, cinema e teatro e procuram, ao menos nos finais de semana, levar as crianças a esses lugares", explica Gisela.
Centros de Lazer
Outro fator evidenciado com a chegada das férias é a falta de centros culturais e de lazer que reúnam crianças e adolescentes em atividades compatíveis ao seu universo de interesse. "Faltam espaços culturais nos bairros", alerta a educadora. "Porque a tendência do próximo século é as pessoas viverem, construírem sua vida produtiva e tudo mais, no mesmo lugar onde moram." Refletindo essa nova filosofia, o Sesc atenua essa falta com suas unidades espalhadas por toda a cidade de São Paulo, configurando-se em centros de atividades voltadas à cultura, ao lazer e às atividades físicas e intelectuais.
grande destaque para estas férias é o Projeto Sesc Verão 98. Um evento que estará acontecendo em todas as unidades da entidade e que conta com espetáculos e torneios abertos ao público, além, claro, de modalidades originárias das praias como vôlei de areia e futevôlei.
Sesc Itaquera, por exemplo, reserva às crianças momentos especiais em seu Parque Lúdico, lugar onde elas podem brincar com instrumentos musicais reproduzidos em tamanho gigante. O diferencial do parque durante as férias é que ele recebe mais monitoramento nesse período, oferecendo à garotada intervenções que visam o aproveitamento máximo dos brinquedos. A unidade será também palco para a abertura oficial do Sesc Verão, que contará com os divertidos toboáguas de seu parque aquático, além de apresentar várias peças de teatro infantil. Os espelhos d’água do Sesc Interlagos também estarão mais que disponíveis nesses meses reservados à diversão e ao lazer. Atividades físicas e lúdicas, gincanas e muita água farão parte dos finais de semana da unidade, onde as crianças podem ainda escorregar na língua de um jacaré gigante. São 500 mil metros quadrados de área verde que servem, além de tudo, para longos passeios ecológicos.
A população que não mora nos arredores das unidades campestres não ficará de fora da festa das férias. O Sesc Paraíso oferece toda sua estrutura turística, com ônibus, monitores, crachás de identificação, bonés e coletes à comunidade. Marcos Antônio Scaranci, animador sociocultural da unidade, faz questão de salientar a seriedade e qualidade do serviço: "As crianças preferem água no verão, é claro. É por isso que temos de tomar cuidados redobrados com elas. Nós oferecemos um monitor para cada 13 crianças, garantimos que elas comam direitinho, porque afinal gastam muita energia e não desgrudamos os olhos delas", brinca.
O Sesc Paraíso, dentro do Projeto FériaSesc, ainda leva a garotada para a unidade do Sesc Bertioga, com direito à praia, e ao Projeto DiverSãoPaulo, que conta com passeios pela cidade, levando as crianças a museus, ao Memorial da América Latina e às oficinas artísticas do Sesc Pompéia.
Um Convívio Tumultuado
Todos pensam que eles não vêem a hora das aulas acabarem. Poucos sabem que eles querem mesmo é continuar vendo seus amigos e paqueras, não necessariamente no pátio ou corredores do colégio. Esse é o maior dilema dos adolescentes. Mas ainda resta uma esperança. A cidade fica recheada de alternativas para a diversão diurna e noturna, oferecendo um relax a quem se debruçou em livros durante todo o ano. Além disso, há a praia, "que nunca sai do lugar, graças a Deus", como diz a estudante Mariana Tedeschi. Mar, sol e agito, como num filme da Sessão da Tarde.
Quando perguntado a um grupo de adolescentes sobre qual o lugar preferido para se ir nas férias, a resposta é unânime: "Praia, com certeza". "Se for só eu e uma amiga, meus pais não gostam, agora se for uma galera, eles não ligam", explica a estudante Carolina Zoppi, de 17 anos. "A não ser que tenha um garoto no meio", completa aos risos. Nem sempre se pode dizer toda a verdade nessas horas. Ana Carolina Michelli, também de 17 anos, conta suas estratégias para se ver livre do ambiente doméstico nos meses de verão: "A gente sempre inventa que vai a mãe de não sei quem, ou que só vão meninas, essas coisas", segreda.
A educadora Gisela Wajskop vê nessa relação uma ambiguidade que tumultua a cabeça desses garotos e garotas, confusos diante de sentimentos e vontades completamente inéditos. "Eles querem estar entre eles mas não conseguem se organizar para isso. No fundo, querem que os pais organizem atividades que permitam que eles possam estar junto com pessoas da mesma idade", explica.
Otávio dos Anjos, de 17 anos, conta que costuma ir à praia com os irmãos e com os pais, mas a melhor hora é quando se vê sozinho com os amigos. "Eu fico ‘zoando’ com meus amigos enquanto meu pai fica com o pessoal da mesma idade dele. Quando ele tem de voltar para trabalhar, eu fico lá. Aí é a melhor parte", confessa.
Aprender nas Férias
Porém nem tudo é céu azul e tardes com pôr-do-sol cinematográfico para o pessoal que estuda. Thiago Nardini, de 19 anos, está nas garras do vestibular e lamenta ter de ficar as férias inteiras se preparando para as provas. "Tristes férias serão estas", brinca. Os amigos Francisco Carlos Bugliesi, de 19 anos, e Pedro Labaki, de 18, estavam com os mesmos olhares saudosos da época em que verão era sinônimo de acordar tarde. Pedro ressalta, ainda, que os pais até preferiam que ele e os três irmãos arrumassem algum lugar para viajar. "Quando a gente viaja, sobra mais tempo para os meus pais se curtirem, saírem juntos e ficarem mais sossegados. São as férias que eles tiram da gente", admite.
Os pais, por sua vez, não pensam somente em seu próprio bem-estar nessa época, aqueles que não têm condições de mandar os filhos em viagens de férias, vêem no Sesc uma boa opção de lazer e cultura para manter as crianças ocupadas. Marcelo Pinheiro passeava com o pequeno João, de 4 anos, pela área de convivência do Sesc Pompéia e explica que costuma trazer o filho sempre que sobra tempo. "Mesmo ele sendo muito pequeno, é bom para ele tomar contato com grandes espaços, correr e brincar, coisas que ele não consegue fazer em apartamento". Já Márcia de Oliveira Bastos traz os filhos Paulo e Mariana, de 6 e 12 anos, para "soltá-los" na biblioteca da unidade. "Além deles tomarem contato com o mundo dos livros, ainda podem participar das oficinas ou simplesmente tomar um sol nos dias mais quentes. No Sesc é bom, porque as crianças se divertem aprendendo mesmo longe da escola", contenta-se.
E não são só as crianças que encontram lugar no Sesc, para os jovens que ficam em São Paulo nas férias, em virtude do vestibular ou devido à falta de opções de viagens, a entidade entra mais uma vez como uma ótima alternativa para programas socioculturais. "Eu costumo frequentar o Sesc quando estou na cidade", conta Francisco. "Lá é legal, tem uns ótimos shows de graça, peças de teatro no Consolação ou, até mesmo, ler umas revistas e dar umas paqueradas naquele lugar gostoso do Pompéia". Esse relacionamento entre o Sesc e os adolescentes, segundo a educadora Gisela, é muito importante pois se mostra como núcleo de convivência que ajuda os adolescentes a romperem os vínculos da infância que eles ainda têm com os pais de uma maneira segura. "Como a cidade hoje apresenta muitos riscos, é importante que jovens e crianças tenham esses espaços para ficarem com pessoas da mesma idade durante as férias."