Postado em 01/01/1998
– Um restaurante, um shopping de ofertas, pequeno comércio e casas residenciais.
– Ótimo, e daí?
– Apure um pouco mais a vista, não percebeu nada diferente?
– É mesmo. Que prédio enorme é aquele? Nunca tinha reparado.
– Você está apresentado ao novo Sesc de São Paulo. O mais moderno que há. É a unidade Vila Mariana. Ela demorou mais de sete anos para ficar pronta, somando-se o tempo de elaboração do projeto e da construção da obra. Mas ficou lindo, não?
– Realmente, está caprichado. Por fora é muito interessante. Mas e por dentro? Vai ser especial também?
– Rapaz, se você conhecê-lo, vai ter uma surpresa. Venha, vamos entrar e ver.
A nova unidade do Sesc é composta de dois prédios, as torres A e B, interligados por uma passarela no último andar e, no térreo, por um enorme pátio. No total, são mais de 23 mil metros quadrados de área construída que oferecem à comunidade inúmeras atividades nas áreas de eporte, cultura, lazer e saúde, temperadas com uma grande pitada de tecnologia.
Logo na entrada da primeira torre, há uma área de convivência comum que dá acesso ao prédio. Essa espécie de praça (ajardinada na lateral, com bancos e amplo espaço) segue por dentro do edifício e faz a comunicação com a torre B (parte coberta da praça). Um sistema de portas retráteis permite que o espaço seja utilizado em sua totalidade, formando um enorme corredor onde diversas atividades podem ser realizadas. O hall térreo do primeiro prédio, além de receber os visitantes, é ideal para sediar pequenas exposições e mostras de artes plásticas.
O acesso ao Sesc também é possível através de uma longa rampa que conduz ao local de atendimento, responsável por realizar as matrículas, inscrições e a orientação ao público. A rampa, assim como todas as dependências da unidade, foi desenvolvida para atender ao modelo do acesso universal. Esse conceito possibilita a todas as pessoas, independentemente de suas condições, poder usufruir, sem qualquer empecilho arquitetônico, dos benefícios do Sesc. Assim, os sanitários, o restaurante, a piscina, as quadras, etc. estão projetadas para que idosos, crianças e pessoas portadoras de deficiência exerçam o direito ao pleno bem-estar social.
Música e Saúde
Do térreo, vamos tomar os elevadores e fazer a nossa visita a partir do nono e último andar da torre A, onde estão a gerência e a secretaria. No pavimento de baixo encontra-se o setor administrativo e de informática que controla todo o funcionamento dos prédios.
Mas é a partir do sétimo andar que o público passa a usufruir diretamente da unidade. Dividida em três consultórios, sala de raio x e de esterilização, a clínica odontológica possui o que há de mais moderno para cuidar da saúde bucal do comerciário. Munidos com equipamentos de ponta, os gabinetes estão altamente preparados para oferecer um serviço excelente a preços acessíveis a todos os bolsos.
Descendo mais um lance de escada, no sexto andar encontram-se salas de múltiplo uso, voltadas principalmente para atividades de cunho cultural, como palestras, ateliês e o Projeto Curumim.
Os espaços deste e do quinto andar delineiam a característica principal da torre A, ou seja, atividades de desenvolvimento cultural que estimulam o raciocínio e a criatividade. O quarto andar abriga o centro de controle de áudio e vídeo. O andar conta, ainda, com duas salas de projeção com 40 poltronas cada.
Os três primeiros andares do prédio são dedicados à música. Na verdade, formam um complexo sonoro único, que conta com toda a tecnologia necessária ao desenvolvimento das aptidões musicais mais variadas. Para garantir a máxima performance, as salas recebem tratamento acústico apropriado a fim de não deixar "vazar" o som para os outros ambientes. O andar apresenta, ainda, um home theater, um miniauditório capacitado para 40 poltronas e, uma biblioteca musical, em que o usuário tem acesso a um enorme acervo de CDs, discos de vinil, fitas-cassetes e vídeos, além dos periódicos e dos livros mais importantes sobre música. O espaço conta com 18 estações multimídia que permitirão ao público apreciar as obras do acervo. Assim, ele retira um CD da estante e ouve, no local, as músicas ou ainda assiste ao concerto através do CD Rom. Além disso, o visitante poderá acessar sites da Internet especializados em música e terá uma área para audição e vídeo.
O complexo musical prossegue no segundo andar. É lá que serão ministradas as oficinas musicais. Mais de 70 instrumentos, entre eles os eternos, como o piano, o violino, o trompete, o trombone, o oboé, recebem companhia da guitarra e da bateria entre outros. Além dos instrumentos reais, o músico tem a possibilidade de trabalhar com os terminais de computadores de última geração que sintetizam acordes e auxiliam no aprendizado, fornecendo a base pedagógica para os entusiastas. O aluno conta, também, com uma matriz de gravação que funciona como uma espécie de estúdio, associando os recursos de informática com a música instrumental.
O usuário, se quiser, terá possibilidade de expor os dotes aprendidos durante as aulas no auditório, que situa-se logo abaixo. Com capacidade para 130 pessoas, este será o espaço destinado essencialmente a apresentações musicais (está, além disso, equipado para transmitir áudio, vídeo e cinema).
Ligado ao auditório, na parte posterior, encontra-se o estúdio de gravação. Fornecendo visão ampla do palco, o núcleo está capacitado para gravar o som proveniente das audições, além de dispor de câmaras isolantes, imprescindíveis no processo de gravação. O estúdio pode abrigar instrumentos de tradução simultânea para dar suporte a eventos internacionais que se realizem no auditório.
Saindo do auditório à esquerda e concluindo o tour pela torre A, há uma área de convivência destinada à leitura, em que os principais periódicos estão disponíveis aos interessados.
Com a Palavra o Público
Pronto. A primeira torre foi devidamente vasculhada e seus equipamentos conhecidos. Antes de adentrarmos na torre B, é conveniente saber as opiniões dos principais interessados no sucesso do novo Sesc: o paulistano.
A inauguração da unidade não traz apenas benefícios aos usuários. Mexe com toda essa região da cidade. Conversando com os moradores e trabalhadores das redondezas, percebe-se o entusiasmo com que recebem o novo vizinho.
"Há muito tempo já frequento a unidade de Itaquera e já fiz alguns cursos no Sesc Consolação. Estamos muito ansiosos", alegra-se Hamilton Vidal Santana, gerente de um café na rua Pelotas.
Além da evidente melhoria da qualidade de vida que uma unidade do Sesc proporciona, os comerciantes esperam uma melhoria nos negócios que vêm decaindo. "Nossa esperança é que com a inauguração, o comércio se reanime", diz, esperançoso, Alexandre Moura, dono de uma sorveteria.
Eva Serre, há seis anos na Vila Mariana, compartilha da opinião do colega. "Não vejo a hora para poder frequentar o Sesc. Um acontecimento tão grande como o Sesc vai trazer mudanças positivas para o bairro."
Não é apenas no interior das torres que a entidade propicia benefícios. O bem-estar do comerciário, em particular, e do paulistano, em geral, ganha novas perspectivas a cada unidade inaugurada. A cidade parece ganhar esperanças extras para enfrentar o já conturbado dia-a-dia e através das atividades - culturais, esportivas, sanitárias - englobadas pela instituição, cria ânimo renovado no coração do paulistano.
Continua a Visita
O acesso à torre B é possível de diversas maneiras. Por fora, através dos corredores laterais, e, internamente, a partir da praça coberta. Dessa vez, a visita começa pelos andares inferiores, portanto, faremos um pequeno esforço para chegar na cobertura, o solário.
Da praça coberta, o visitante chega à lanchonete. Na verdade, um café que oferece, além de toda a gama de sanduíches, pratos rápidos e (melhor) massas de fabricação própria. Aliás, a alimentação é um processo à parte na administração do Sesc. Existe um rigorosíssimo controle de qualidade que chega a extravasar as determinações estabelecidas pelas autoridades sanitárias brasileiras. Antes de serem servidos aos usuários, os alimentos recebem tratamento adequado às normas existentes em apenas alguns países do Primeiro Mundo.
Alguns exemplos ilustram todo esse cuidado: nenhum container portando alimento entra nas dependências da cozinha sem ser esterilizado previamente. Antes de serem processados, legumes, verduras, frutas e carnes saem do recipiente original e são depositados em ambiente apropriado para a máxima conservação.
Assim, quando o usuário come qualquer alimento preparado pela entidade, ele tem a certeza de que está se alimentando bem e com qualidade. E no Sesc Vila Mariana, comer na lanchonete é ainda mais agradável, porque o sabor da comida tem a companhia da vista panorâmica da piscina semi-olímpica e aquecida, que está situada no andar de baixo.
Através de grandes janelas redondas, que lembram escotilhas de um submarino, é possível enxergar toda a movimentação da piscina. Porém, o mais incrível ainda está por vir. Quem nada nas águas cristalinas do Sesc passa, mesmo que bem pouquinho, pela sensação vivida por astronautas. É verdade. Isso porque o tratamento da água da piscina recebe o mesmo procedimento das reservas aquáticas da nave espacial Discovery. Um complexo sistema computadorizado mantém, constantemente, as condições ideais para que a água fique sempre limpa e higienizada. Além disso, o sistema de circulação de ar garante que a temperatura externa esteja condizente com a interna, impedindo os choques de frio. Facilitando a vida para os curiosos da lanchonete, um outro mecanismo computadorizado impede que os vidros embacem.
A Vez do Movimento Corporal
Se a piscina já é uma obra supermoderna, o teatro que se situa nos quatro primeiros andares da torre B então nem se fala. São 750 lugares divididos entre platéia e balcão que permitem ao público a total fruição do espetáculo. Mas isso é só o começo. O conforto dos assentos é completado pela beleza e modernidade do palco e pelo complexo sistema de iluminação e de som. Tudo, absolutamente tudo, é comandado por computadores.
A acessibilidade total é outra característica do teatro. Os elevadores permitem que as pessoas com limitação de movimentos se utilizem do balcão sem problemas. Além disso, todo o complexo de camarins e as oficinas são servidas de sanitários adaptados e amplo espaço para os artistas se prepararem.
De fato, a torre B é marcada por uma característica especial: os equipamentos privilegiam a dinâmica corporal. Por esse motivo, nos andares restantes há três oficinas de corpo, onde são ministradas as aulas de ginástica, bem como os cursos de artes marciais. Para completar os equipamentos da torre, dois ginásios com medidas oficiais estão à disposição dos usuários. O piso, o mais moderno do mercado, apresenta isolamento completo de som para não atrapalhar a performance dos artistas no teatro e otimiza o exercício dos atletas.
Finalizando a visita, no topo do prédio, encontra-se um solário munido de chuveiros, bancos e, no verão, muito sol, para o bem-estar do comerciário. Além disso, após uma "escalada" de 10 andares de escada, a recompensa vem com a vista da cidade que o solário apresenta. Extasiante. O vento que sopra arrefece a força do sol e por um instante tem-se a provável sensação dos alpinistas quando vencem o desafio das alturas.
Nossa excursão pelas dependências do novo Sesc terminou. Espero que você tenha gostado. Todos os equipamentos que nós conhecemos foram desenvolvidos com o máximo de cuidado a fim de proporcionar ao usuário o melhor em esporte, lazer e cultura. A informática, aliada ao conceito social do Sesc, incrementou ainda mais os equipamentos. Afora as inovações já citadas, as torres apresentam outras tão ou mais vibrantes. É o caso da supervisão predial inteligente, um conceito novíssimo de gerência de edifícios. Isso significa que a partir de uma única sala é possível comandar todos os equipamentos das torres. Desde reduzir a força do ar condicionado e verificar a segurança por meio de sensores, até restringir os andares servidos pelos elevadores para adequar o prédio às necessidades de um evento.
A concepção da nova unidade contou com a máxima dedicação da equipe do Sesc. Foram formados vários grupos de discussão que, em parceria com os projetistas, aplicaram o conceito da entidade às mais modernas técnicas de construção. Cada detalhe, cada equipamento, o público pode ter certeza de que foi desenvolvido pensando unicamente no bem-estar do mais importante freqüentador: toda a comunidade.
Um Bairro Tradicional
Vila Mariana há muito deixou de ser um bairro apenas residencial para dar espaço ao progresso. Os edifícios substituíram as primeiras casas e o metrô, construído na década de 70, foi responsável pelas transformações nos últimos anos. Os colégios Madre Cabrini e Arquidiocesano, além do Mosteiro da Visitação, construídos há mais de 50 anos, ainda resistem às portas do século XXI.
Os primeiros registros encontrados sobre o bairro datam do século 17, quando já havia moradores na região. Como os outros bairros da zona Sul, Vila Mariana cresceu em volta de uma estrada de ferro que ligava São Paulo ao núcleo de Santo Amaro, saindo da Liberdade e indo até o Jabaquara.
A partir de 1820, imigrantes italianos começaram a se fixar na região. Cultivando a terra, eles abasteciam os moradores do bairro com legumes e frutas. A colônia italiana, atual Chácara Glória, era conhecida como Rancho dos Tropeiros, utilizada como parada de tropas e burros de carga vindos de Sorocaba, Parnaíba e Itu, no interior do Estado, com destino ao litoral.
História à parte, Vila Mariana é hoje um bairro que enfrenta problemas comuns a todos os outros, como o trânsito intenso e a violência crescente. Em compensação, além do fácil acesso ao Parque do Ibirapuera, proporciona à comunidade muitos espaços para o lazer e a cultura dos paulistanos como a Biblioteca Juvenil Zalina Rolin, o Teatro João Caetano, a Escola Municipal de Música, a Cinemateca, que funciona no antigo Matadouro e a Gibiteca Municipal que recebeu o nome do famoso cartunista Henfil, além da tradicional feira de artesanato que acontece nos finais de semana na Praça Nossa Senhora Aparecida. Outra opção para o bairro é agora o Sesc Vila Mariana.