Fechar X

A velha crise de crescimento

Postado em 01/05/2002

 

Foto: Gabriel Cabral

ABRAM SZAJMAN

O ano de 2002 é um daqueles que, parece, o país joga no lixo. É período de eleições gerais, ou quase gerais, já que somente prefeituras e câmaras municipais estarão fora dos escrutínios.

Os outros cargos eletivos, especialmente para a presidência da República e governos estaduais, há meses ocupam exagerados espaços na mídia e no dia-a-dia das pessoas. Principalmente na cabeça e no foco de interesse dos políticos profissionais, aqueles a quem caberia, por dever de ofício, representar a população e preocupar-se com o futuro do país.

Para complicar as coisas, além das eleições, é também um ano em que se realiza a Copa do Mundo de futebol, uma coincidência que se repete a cada quadriênio. Dessa forma, o compreensível interesse dos brasileiros pela participação na disputa esportiva internacional acaba se transformando em mais um motivo para se desviar a atenção dos verdadeiros problemas que afetam o país.

Assim, a dupla de ataque eleição-Copa do Mundo está aí em plena atividade, enquanto nos bastidores grandes questões são empurradas com a barriga, para usar a simplicidade de uma expressão popular. Ficam nas gavetas sombrias dos ministérios, ou na pauta congestionada de interesses do Congresso, ou talvez no bolso do colete do Executivo nacional.

Uma dessas questões é bem lembrada nesta edição de Problemas Brasileiros por um especialista em desenvolvimento, o professor Josef Barat. Qualquer país, diz ele, que não priorizar sua infra-estrutura terá seu crescimento comprometido. E todos sabemos como andam nossas estradas, a maioria delas, principalmente as federais, em péssimas condições de rodagem. Conhecemos a irrelevância que foi atribuída às ferrovias, muitas desativadas, outras abandonadas e algumas subutilizadas. Temos consciência dos problemas que banham nossos terminais marítimos, às voltas com interesses corporativos, equipamentos obsoletos e regulamentos excessivos. "O porto é uma babel de burocracia", diz o autor, "que afeta principalmente o pequeno e médio usuário, aquele que não tem acesso aos terminais especializados."

Estamos cientes ainda dos riscos que passamos recentemente de ficar às escuras, sem energia para levar adiante a marcha natural da economia. E da sobrecarga que nos ameaça agora, na forma de um ônus injusto e absurdo, que condena empresários e consumidores a devolver às concessionárias de energia o que deixaram de faturar quando a população, heroicamente, atendeu aos pedidos do governo e acabou com o desperdício, reduzindo sensivelmente o consumo de eletricidade.

O desperdício está presente igualmente na distribuição de água, isso nas regiões que têm a sorte de poder usufruir desse bem público. Em muitos casos, faltam redes de abastecimento, uma realidade que se torna pior pela ausência de instalações coletoras de esgoto.

Mas o pior de tudo, aquilo que está na raiz de nosso atraso econômico e social, é a desatenção, o pouco-caso e o desinteresse demonstrado, em várias esferas do poder, em relação à educação fundamental e média. Nesse aspecto, quero citar outro autor, também presente nas páginas desta revista, o economista Affonso Celso Pastore. Como ex-presidente do Banco Central, conhecedor, portanto, da realidade brasileira, Pastore diagnostica que nossas taxas de crescimento estão muito baixas. E o remédio para isso, evidentemente a longo prazo, é "criar juízo" e "investir em educação".

Dois desafios que parecem estar um pouco além do interesse de nossos governantes. Que hoje preferem discutir a verticalização dos apoios políticos, ou disputar espaços na mídia, ou ainda contabilizar dados de pesquisas que, entre nós, servem antes para conquistar eleitores do que para registrar sua opinião. Preferem aprofundar-se no campo minado das denúncias, em busca de munição contra adversários, ou de escudos contra os próprios pecados capitais. Enfim, deixam de trabalhar para o país, para cuidar de seu futuro político, e muitos meses antes da eleição propriamente dita.

Isso explica, infelizmente, por que continuamos às voltas com vícios de toda ordem, principalmente no campo fiscal e tributário, com carências sociais imensas, crises sucessivas na área de segurança e outras questões que enchem de preocupação pessoas que detenham nível médio de informação.

Enquanto a prioridade dos políticos brasileiros continuar sendo a própria sobrevivência, o crescimento do país seguirá uma trajetória lenta e repleta de percalços e solavancos.

Escolha uma rede social

  • E-mail
  • Facebook
  • Twitter

adicionar Separe os e-mails com vírgula (,).

    Você tem 400 caracteres. (Limite: 400)