Postado em 02/12/2021
Por Samara Andresa Del Monte*
As redes sociais já têm um papel consolidado em nossa sociedade. Elas fazem parte tanto das pessoas físicas, quanto das jurídicas. E, neste meio, as pessoas com deficiência também se encontraram e perceberam uma excelente oportunidade de inclusão. Além de facilitar a interação, a comunicação e a autonomia, elas ampliam a sociabilidade, a troca de experiências, o círculo de amizades e oportunidades de trabalho.
Eu venho encontrando todos esses benefícios há muito tempo...
Tenho paralisia cerebral devido a uma falta de oxigênio no parto. Desde então, nestes meus 32 anos, a vontade de viver me dominou e as minhas limitações me impulsionaram na busca de conquistas e sonhos.
Sou jornalista e, atualmente, curso Filosofia. Tudo isso sem andar e sem oralizar. Mas não parada e nem calada. Giro o mundo com minha cadeira de rodas. Para me comunicar, uso uma prancha com os símbolos de comunicação alternativa – Bliss, que completou 50 anos em 2021 e é por meio dos recursos assistivos me conecto com minhas redes sociais.
Quando o telefone era uma das formas principais de comunicação, com pessoas que estavam falando do outro lado, eu dependia de alguém intermediando. Com as redes sociais, isso acabou! Escrevo o que eu quero dizer e o outro lê ou, se necessário, converte em áudio. Hoje sou independente na minha comunicação e interação com qualquer pessoa! Isso é ter autonomia e dignidade como cidadã.
Uso as redes sociais para divulgar o meu trabalho: atleta de bocha paralímpica; editora e escritora da revista Mais Deficiente, que foi idealizada por mim com o objetivo de alertar autoridades e mobilizar a sociedade para ações necessárias para pessoa com deficiência, além de palestrante e educadora na formação de profissionais.
Com as redes sociais, os convites de trabalho chegam diretamente a mim, isso dá protagonismo e não gera capacitismos. Em outubro de 2021, participei de um evento sobre Comunicação Alternativa, organizado pela ISAAC, uma associação canadense. Foi emocionante e gratificante dar uma palestra on-line mostrando a realidade de uma pessoa com deficiência no Brasil para o mundo todo.
Imagem: Renato Galucci
Eu passo grande parte do meu tempo nas redes sociais. Como minha mobilidade é muito reduzida, por meio delas consigo manter contato e fortalecer os vínculos com meus amigos. Assim, consigo articular virtualmente momentos prazerosos e felizes, sejam eles presenciais ou virtuais.
Porém, falar das redes sociais, envolve também falar das suas dificuldades, riscos, desigualdades sociais e falta de investimento em novas tecnologias que atendam ainda mais as necessidades de quem têm uma deficiência, diante das barreiras sociais e de comunicação. E a pandemia da Covid-19 nos mostrou o quão grave e real é esta exclusão digital.
Eu, como uma lutadora pelos direitos e exercício pleno da cidadania, fico muito feliz em encontrar nas redes sociais um meio de proporcionar maior visibilidade do potencial da pessoa com deficiência, de favorecer novos olhares rumo à uma sociedade mais inclusiva e de possibilitar que a pessoa com deficiência seja protagonista de sua própria história.
*Samara Andresa Del Monte é jornalista, graduanda de filosofia. Tem paralisia cerebral, é cadeirante e usuária da Comunicação Alternativa (Símbolos Bliss). Para escrever, usa o computador com os recursos da tecnologia assistiva: capacete com ponteira e eViacam. Trabalhou como repórter do Jornal ABCD Maior e colabora com a Revista Reação. É idealizadora e editora da revista Mais Deficiente, publicada desde 2001, com o objetivo de alertar autoridades e mobilizar a sociedade para ações necessárias para pessoa com deficiência e mostrar o quanto é possível ter potencial mesmo com tantas limitações. Autora do livro autobiográfico, escrito em parceria com sua mãe Cláudia Del Monte, Samara, apaixonada pela Vida: A paralisia cerebral não me impediu de ser a protagonista da minha própria história.