Postado em 30/11/2021
Memes, coreografias, dicas de livros e comentários sobre história, matemática e outras matérias da escola “bombaram” na internet nestes dois últimos anos, principalmente entre os jovens. Mesmo que redes sociais e outras plataformas digitais se destacassem muito antes da pandemia como meios de comunicação e de relacionamento entre essa parcela da população, o isolamento social para o controle do contágio da Covid-19 intensificou esse canal. Se por um lado, pesquisas apontam para a preocupação com a saúde mental dos jovens diante dessa imersão virtual, por outro, esse mundo de telas acabou se tornando a forma mais segura para os jovens se relacionarem, estudarem e também de se expressarem.
Segundo a pesquisa “Saúde Mental na Pandemia”, realizada pela Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), metade dos entrevistados entre 18 e 24 anos classificou sua saúde mental nos últimos 15 meses como ruim (39%) ou muito ruim (11%), percentual acima da média geral, de 5% e 25%, respectivamente. De acordo com o professor Tiaraju Pablo D’andrea da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – Campus Zona Leste/Instituto das Cidades, e coordenador do Centro de Estudos Periféricos (CEP), os impactos sofridos pelos jovens foram os mais variados.
“Impactos na educação, possibilidade de estudo reduzida, menor tempo de estudo... Jovens com idade para entrar no mercado de trabalho também viram suas possibilidades bastante reduzidas. Mas, eu acredito que o maior impacto foi na saúde mental e acho que a gente precisa encarar isso com seriedade enquanto sociedade porque é um problema social”, observa.
Nesse cenário, as redes sociais se tornaram aliadas para milhões de adolescentes e jovens na pandemia. “Essas mudanças advindas da possibilidade de uso das redes sociais e da democratização das redes impactou na forma de sociabilidade desse segmento da população”, destaca o professor. “A juventude namora de um jeito diferente, faz amigos de um jeito diferente, se relaciona com o mundo de uma maneira diferente”.
CURTIR, COMPARTILHAR, PERTENCER
No caso do artista e estudante pernambucano Pedro Vinicio, 15 anos, o Instagram foi a rede que ele encontrou para ocupar um tempo ocioso e a falta de encontros presenciais na pandemia. Com mais de 200 mil seguidores, o adolescente conquista o público com desenhos coloridos com frases irônicas sobre como lidar com os desafios do cotidiano e as oscilações de humor oriundas da restrição social, mas também dessa fase da vida.
“Com a chegada da pandemia, resolvi postar meus desenhos nas redes sociais sobre saúde mental e acontecimentos do dia a dia. Aí veio a ideia de fazer uma conta no Instagram e postar meus desenhos lá. Vejo com bons olhos porque é muito importante falar sobre o estado emocional principalmente na internet, que é um lugar que atinge o grande público. E eu busco que as pessoas se identifiquem e gostem cada vez mais da minha arte”, disse Pedro Vinicio em vídeo da série produzida pela ação Juventudes: Arte e Território, realizada pelo Sesc São Paulo, publicado nas redes sociais do Sesc SP (leia Mar de possibilidades).
Consequentemente, essas ferramentas virtuais tiveram um aprofundamento e um alargamento de uso e outras formas de utilização foram inventadas, segundo Tiaraju Pablo D’andrea. Entre essas novas possibilidades está um maior raio de alcance de pessoas de diferentes lugares e condições socioeconômicas realizarem aulas e cursos online, além de acesso a dicas nas áreas da educação ou de livros compartilhados por youtubers.
O canal do YouTube Chavoso da USP, criado em 2020 pelo estudante de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo (USP) Thiago Torres, 20 anos, é outro exemplo de como a internet se tornou um meio de expressão e de troca entre os jovens. Afastado do trabalho como jovem aprendiz durante a quarentena, Thiago passou a se dedicar ao canal, que soma mais de 240 mil inscritos. Nascido em Brasilândia, Zona Norte da cidade de São Paulo, o estudante e palestrante faz análises e reflexões sobre política, cultura, racismo, trabalho e outros temas, e já compartilhou dicas de estudo para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
“Essa maneira de se comunicar por meio de vídeos, fotos e áudios rápidos é muito mais coerente com os tempos atuais e os jovens sabem disso e se aproveitam disso. Por isso temos aí uma miríade de blogueiros, youtubers, tik tokers que fazem um bom uso da internet. Casos como o de Pedro Vinicio e do Chavoso da USP, que conseguem passar um conteúdo de qualidade e de universidade, inclusive. Casos de jovens que conseguem fazer um debate qualificado na internet”, aponta o coordenador do Centro de Estudos Periféricos (CEP) da Unifesp.
Utilizadas de maneira moderada, sem substituir o valor do encontro presencial, mas somando-se a ele, as plataformas digitais possibilitaram uma saída para que jovens pudessem estudar e produzir de maneira genuína. “Moradores e moradoras das periferias, por exemplo, têm muito mais acesso a um vídeo no YouTube do que a um livro. Ou seja, o resultado disso é que os jovens descobriram um filão e fazem um bom trabalho ao explorar ao máximo essa possibilidade ofertada pelas redes sociais”, conclui o professor Tiaraju.
QUE TAL NAVEGAR NA REDE E PESCAR CURSOS, OFICINAS E OUTRAS ATIVIDADES VOLTADAS PARA QUESTÕES ATUAIS DAS JUVENTUDES?
Destinado a adolescentes e jovens com idade entre 13 e 29 anos e, também, a profissionais interessados nas discussões que permeiam esse universo, o programa Juventudes é realizado pelo Sesc São Paulo desde 2010. Suas ações são pautadas pela: diversidade das juventudes, análise do contexto social, relação com o território e participação efetiva dos jovens na sociedade. Para isso, o Juventudes realiza diferentes atividades, como a criação de grupos permanentes de adolescentes e jovens, com encontros regulares que proporcionaram momentos de debates, convivência e experimentações de distintas linguagens artísticas, além de outros projetos e ações, pontuais ou processuais, construídas conjuntamente com os jovens.
“Muitas juventudes conseguiram se reinventar, mesmo com o isolamento social. Ficou evidente a importância da criação de redes, algo já presente, especialmente entre as juventudes das periferias, que se articulam na criação de suas artes. Contudo, não podemos esquecer que este momento de pandemia escancarou as desigualdades sociais e, consequentemente, também as dificuldades de acesso à equipamentos e internet, seja para suas produções artísticas, seja para o acompanhamento das aulas”, afirma Maria Fátima de Beja Lopes, assistente da Gerência de Estudos e Programas Sociais.
Uma das ações em rede realizadas organizadas pelo programa, o Juventudes: Arte e Território vem realizando, neste ano, diversas ações no portal do Sesc São Paulo e em suas nas redes sociais.
Entre elas, uma série de vídeos publicada mensalmente desde agosto passado. Neste acervo, jovens, grupos e coletivos de diferentes partes do país falam sobre processos criativos, impacto da pandemia em suas vidas, estudos e trabalhos, além de conquistas e sonhos. Confira alguns desses episódios:
DRAGNEJO, SIM SENHOR!
Cantora dragneja de São José do Rio Preto, Reddy Allor, 22 anos, conta como esse novo estilo musical que mistura o universo das drag queens com a música sertaneja propõe reflexões e a quebra de padrões.
Saiba mais: www.facebook.com/sescsp/videos/4079646522164701.
MARGEM COMO ENCONTRO
Neste episódio, o Slam Marginália, grupo que organiza batalhas de slamers trans e não bináries no Centro de São Paulo fala sobre a importância de ressoar vozes de pessoas marginalizadas pela sociedade por meio de rimas e versos.
Confira: www.facebook.com/sescsp/videos/241058647943983.
OCUPAR E RESISTIR
Tendo como norte estas duas palavras, um grupo de jovens que nasceu durante as ocupações das escolas públicas de Ensino Médio, entre 2015 e 2016, criaram a ColetivA Ocupação. Presentes na cena cultural da cidade, os integrantes da ColetivA já fizeram uma temporada de apresentações na Europa, levando a importância do espaço escolar para a juventude e como também se desenvolveram em um coletivo artístico-político.
Assista: www.facebook.com/sescsp/videos/4456044587791531.
RIR PARA NÃO CHORAR
Durante o isolamento social, provocado pela pandemia, os memes do estudante e artista de Garanhuns (PE) Pedro Vinicio, 15 anos, foram uma válvula de escape para muitas pessoas. Posts com desenhos e frases de humor ácido no seu perfil no Instagram falam sobre a situação do país, da saúde mental e de outros temas.
Conheça: www.facebook.com/watch/?v=4166435996817653.
Saiba mais sobre essas e outras atividades e ações do Juventudes: Arte e Território no portal do Sesc São Paulo: www.sescsp.org.br/arteterritorio.