Postado em 19/11/2021
Mostra Competitiva de Curtas do 29º Festival Mix Brasil reúne 12 imperdíveis produções brasileiras em cartaz gratuitamente na plataforma Sesc Digital
Por Elton Telles*
Considerado o mais importante evento da diversidade da América Latina, o Festival Mix Brasil, em sua 29ª edição, dedicou duas semanas intensas com atividades gratuitas e atrações culturais variadas, explorando diferentes campos artísticos, como Teatro, Música e Literatura. O cinema, é claro, não poderia ficar de fora da programação. Neste ano, o Mix Brasil exibiu ao público em formato híbrido (presencial e online) 117 produções audiovisuais vindas de 28 países. Dentre os títulos selecionados, 7 longas e 12 curtas-metragens brasileiros integram a tradicional Mostra Competitiva e disputam o prêmio máximo do festival: o Coelho de Ouro.
Todos os curtas concorrentes estão disponíveis para serem assistidos gratuitamente na plataforma Sesc Digital. A seleção diversificada contemplou obras dos quatro cantos do Brasil com a intenção de revelar novos olhares, vozes reflexivas, histórias corajosas e universos ricos em inventividade e visualidade. De acordo com a curadoria do Festival Mix Brasil, os filmes da Mostra Competitiva de Curtas se dividem em propor um olhar para dentro, um entendimento dos desejos e das singularidades das existências LGBTQIA+, enquanto outros títulos se voltam para fora, para a fauna e a flora dos nossos cotidianos, revelando-se exercícios visuais multifacetados.
Os filmes
O curta “Como Respirar Fora d’Água” é o trabalho de conclusão de curso das cineastas Júlia Fávero e Victoria Negreiros. Formadas pela Universidade de São Paulo, a dupla apresenta uma história pungente de como o racismo e a violência policial afetam o relacionamento de uma família. De forma sutil, o filme aborda a questão da afirmação de identidade e de como as adversidades precisam ser enfrentadas com honestidade, evitando quaisquer artifícios – os brincos mostrados no filme – que mascaram a verdade.
Foto: Divulgação
Pela primeira vez, um candidato do Piauí concorre ao prêmio máximo do Festival Mix Brasil, e o Estado está muito bem representado com o doce “Hortelã”. O título do curta é inspirado na experiência de seu realizador, Thiago Furtado. Ele diz que quando revelou a homossexualidade à sua mãe, ela lhe ofereceu um chá de hortelã. A bebida permeia a história, que mostra o rompimento de relações, sejam amorosas ou trabalhistas. O destaque é o desempenho da atriz Edite Rosa, que rouba a cena com a sua personagem sensata e generosa.
Enquanto “Hortelã” repercute o término, “Entrelençóis”, de Otávio Vidal, é sobre o começo de uma relação. A trama acompanha um garoto tímido que tenta descobrir quem é o dono de uma camiseta com estampa de arco-íris estendida no varal coletivo do prédio onde mora. Praticamente sem diálogos, o curta é criativo no desenvolvimento de como se dá o encontro entre os personagens, com direito a recompensas no final.
Igualmente solar e romântico é o curta “Time de Dois”, dirigido pelo potiguar André Santos. O filme se estabiliza na relação entre Wendel e Flávio, dois garotos de 18 anos que mantém um namoro às escuras e alimentam o sonho de serem jogadores profissionais de futebol. No entanto, certas necessidades despertam responsabilidades, e as escolhas passam a interferir no relacionamento dos dois. Outro candidato do Rio Grande do Norte é o bem-humorado “O Nascimento de Helena”. Totalmente filmado com o celular, o curta é a narração em primeira pessoa de um jovem homossexual sobre as suas fantasias sexuais e o seu desejo de destruir famílias tradicionais a partir de encontros sigilosos com homens casados.
Filmado no Aterro do Flamengo, na capital carioca, o enigmático curta-metragem “Vagalumes”, de Léo Bittencourt, é uma interessante experiência sensorial do que acontece no local quando o Rio de Janeiro adormece. A convivência entre diferentes espécies e a relações que florescem no espaço são fotografadas com esmero pelo diretor em parceria com Juliano Gomes. Outro arroubo estético é “Flor de Mureré”, curta-metragem em formato de videoclipe realizado pelos paraenses Marcos Corrêa e Priscila Duque. “Flor de Mureré” é uma inovadora expressão de resistência e é embalado pela música contagiante que dá título ao filme, composta pelo Coletivo Vacas Profanas.
“Manaus Hot City”, de Rafael Ramos, acompanha o dia comum de dois amigos e a sua interação com a paisagem urbana. O roteiro, também assinado por Ramos, encontra genuinidade nos diálogos triviais entre a dupla, que é vivida com naturalidade pelos atores Maria do Rio e Frank Kitzinger. Em meio ao calor da cidade, “Manaus Hot City” é um retrato acolhedor sobre cuidado e amizade.
Foto: Divulgação
A Mostra Competitiva de Curtas também conta com documentários, como o autorretrato experimental “Você Já Tentou Olhar nos Meus Olhos?”, do paranaense Tiago Felipe, feito com fotografias que exploram o corpo e a solidão. Narrado em primeira pessoa, “O Amigo do Meu Tio”, de Renato Turnes, resgata imagens de arquivo do pequeno Vicente e costura algumas memórias familiares do biografado, como a ligação dele, que se autodenomina uma “criança viada”, com amigo mais velho do tio.
“Uma Carta para o Meu Pai”, como o título indica, é uma mensagem da cineasta Aline Belfort endereçada para o seu pai, com quem teve desentendimentos após os resultados das eleições de 2018. Com um texto bastante íntimo, o filme emociona pelo relato honesto sobre medo, afastamento e a tentativa de reafirmar o senso de empatia.
Para fechar os curtas finalistas do Festival Mix Brasil, a cineasta Julia Leite propõe uma linguagem diferenciada e atrativa em “Acesso”. Através de imagens do Google Street View, a diretora mapeia alguns lugares emblemáticos da cidade de São Paulo de acordo com diferentes pessoas LGBT, que dão depoimentos e compartilham histórias de suas vivências. O filme é dedicado à memória particular e um interessante exercício reflexivo da relação humana com o espaço urbano e o concreto.
Como votar
O curta-metragem que recebe o Coelho de Ouro será definido pelo júri oficial composto nesta edição pela curadora e diretora artística Ana Arruda, pelo cineasta Nay Mendl e pelo ator e cineasta Victor Di Marco.
No entanto, é a votação popular quem define o filme vencedor do Prêmio do Público. Para votar, basta acessar a página do respectivo filme no site do Mix Brasil, preencher com nome e e-mail, e atribuir a sua cotação.
Os vencedores do 29ª Festival Mix Brasil serão revelados neste domingo, dia 21 de novembro.
Serviço
29º Festival Mix Brasil - 10 a 21 de novembro
Plataforma Sesc Digital - Mostra Competitiva de Curtas
Assista on-line: sescsp.org.br/festivalmixbrasil
* Elton Telles é jornalista, crítico de cinema e escreve para o CineSesc.