Postado em 30/10/2021
COM HISTÓRIA TRAÇADA POR POVOS ORIGINÁRIOS E IMIGRANTES DO OCIDENTE E DO ORIENTE, A CIDADE DE NOME INDÍGENA SURGIDO DA EXPRESSÃO “RIO DAS COBRAS” RECEBE NOVA UNIDADE DO SESC SÃO PAULO
Localizada a 42 quilômetros da capital paulista, a cidade de Mogi das Cruzes abriga, a partir deste mês, a mais nova unidade do Sesc no estado de São Paulo. Município com maior população do Alto Tietê, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Mogi das Cruzes é um caldeirão de identidades culturais e de transformações econômicas.
O nome cunhado a partir da alteração do termo Boigy, que, por sua vez, vem de M’Boigy, cujo significado é “Rio das Cobras”, foi dado por povos indígenas originários desta região do país. Mas a história da cidade de Mogi das Cruzes ganha novos contornos a partir de 1560. Naquele ano, o bandeirante Braz Cubas se embrenhou pelas matas locais em busca de ouro. Apesar do ano deste episódio marcar o aniversário da cidade, foi outro bandeirante, Gaspar Vaz, que abriu o primeiro caminho de acesso da cidade de São Paulo a Mogi das Cruzes, dando início ao povoado elevado à Vila de Sant’Anna de Mogi Mirim em 1611. Já o vocábulo “Cruzes” veio como acréscimo porque era costume demarcar com uma cruz, ponto a ponto, os limites de uma vila.
Do fornecimento de cana-de-açúcar durante o Brasil Colônia à produção de café, fumo e algodão no século 19, foi com a chegada das linhas férreas, em 1875, que a Maria Fumaça apitou um novo cenário. Dali em diante, a criação de comércios, teatro e outros equipamentos constituíram o espaço urbano. Em 1919, a imigração das primeiras famílias japonesas – que derrubaram a ideia de idioma e cultura como barreiras por acreditarem no potencial dessas terras para a agricultura – promoveu outra transformação na formação da cidade. Aliás, essa imigração foi responsável pelo reconhecimento dessa região do Alto Tietê no “Cinturão Verde” de abastecimento hortifrutigranjeiro.
A contribuição desses imigrantes tornou Mogi das Cruzes não só reconhecida pela produção de hortaliças, frutas (caqui e nêsperas principalmente), cogumelos e flores (orquídeas), como uma das cidades brasileiras com o maior contingente de descendentes nipônicos. Para além dessa característica na economia deste que é o 13º município mais populoso do Estado de São Paulo, segundo último Censo do IBGE, destacam-se a expansão industrial, a crescente atuação de empreendedores de micro e pequenos negócios e a consolidação de um polo digital.
Assim, o município atravessa séculos se reinventando, questionando-se e respondendo a novas mudanças, como outras cidades brasileiras, segundo reflexão do arquiteto e urbanista Renato Cymbalista. “A cidade é, na verdade, aquilo que a gente pergunta para ela. Podemos fazer perguntas a respeito da materialidade da cidade: que cara a cidade tem? Podemos fazer perguntas a respeito das redes de sociabilidade, do que as pessoas fazem na cidade, e teremos outras respostas. Nós podemos ainda fazer (a uma cidade) uma pergunta a respeito de novos horizontes”, comenta o urbanista no primeiro capítulo da série A Cidade no Brasil, de Isa Grinspum, exibida pelo SescTV.
O Sesc Mogi das Cruzes ocupa um terreno onde antes funcionou o Centro Desportivo, local que faz parte da história da cidade: as quadras poliesportivas e a piscina foram reformadas
No Espaço de Brincar, o desenho dos brinquedos e das áreas interna e externa traz símbolos e representações das culturas locais e de etnias que construíram a cidade: povos indígenas, portugueses, imigrantes japoneses, entre outras
Galpão Múltiplo Uso – Espaço para realização de shows, espetáculos e exposições foi palco da live do show dos músicos Nando e Sebastião Reis, transmitido pelo canal do YouTube do Sesc São Paulo pelo #EmCasaComSesc, no dia 30 de setembro. Esta ainda foi a primeira ação do Sesc Mogi das Cruzes realizada em parceria com a prefeitura, em celebração ao aniversário de 461 anos da cidade. Assista: www.youtube.com/watch?v=snVYclVxiss.
CONHEÇA ALGUNS DOS ESPAÇOS QUE PRESERVAM E NARRAM A MEMÓRIA DESTA CIDADE
Caminhar pelo centro histórico, conhecer mercados, teatros, parques e outros espaços que trazem, cada qual à sua maneira, narrativas e personagens é uma grande oportunidade de aprender sobre Mogi das Cruzes. Neste roteiro, são muitos os lugares a contar episódios do desenvolvimento urbano e da diversidade cultural local. Conheça alguns desses pontos:
Theatro Vasques
Patrimônio Histórico e Cultural, o Theatro Vasques está localizado no Centro Histórico de Mogi, junto ao Largo do Carmo. Inaugurado em 1902, como uma casa de espetáculos para operetas e teatro de revista, o local foi fechado na década de 1930 e reaberto em 1948 para abrigar a Câmara Municipal. Somente em 1980, quando o teatro é reformado, ele é reinaugurado como Teatro Municipal Paschoal Carlos Magno, em homenagem ao ator, teatrólogo e diplomata carioca falecido naquele ano. Em 2002, reapropria-se da denominação original, que também reverencia a história do teatro brasileiro com o nome de um importante representante da classe artística, o ator e dramaturgo Francisco Correa Vasques (1839-1892). Novas reformas foram realizadas entre 2009 e 2013, garantindo a preservação e conservação deste edifício histórico que é considerado um dos teatros mais bem equipados do Estado.
Corporação Musical Santa Cecília
Inaugurado em 1934, este prédio histórico fica no Largo do Carmo, no Centro da cidade. A inauguração da sede se deu em uma sessão solene, para a qual compareceram personagens ilustres da sociedade na época, como José Cury Andere, Salim Elias Bacach, Nesclar Faria Guimarães, Galdino Alves, Isidoro Boucault, Argeu Batalha, José da Silva Pires, José Bonilha e Antonio Martins Coelho. Tradicional reduto de músicos da cidade, é sede da Banda Santa Cecília, responsável pela compra do terreno – na época por um conto de réis – e pela construção. Hoje o prédio está em processo de tombamento pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural, Artístico e Paisagístico de Mogi das Cruzes (Comphap).
Parque Centenário da Imigração Japonesa
Construído em 2008 em celebração ao centenário da imigração nipônica no Brasil, o parque tem no paisagismo e na arquitetura a inspiração na cultura japonesa. Um desses exemplos é o “torii”, um portão associado aos templos xintoístas, símbolo da passagem de um mundo terreno para um mundo sagrado. Inserido na Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê, o Parque Centenário (como é conhecido) tem 200 mil metros de área, onde estão distribuídos quatro lagos com pontes, quadras esportivas, pista de caminhada, trilhas, estrutura para recreação das crianças, entre outros equipamentos. Nele também foi implantado o Museu Taro Konno, um rico acervo de objetos doados por famílias japonesas da cidade, que preserva e conta a história dos primeiros imigrantes a chegar a Mogi das Cruzes, em 1919.
Mercado Municipal
Cheiros, cores e sabores fazem do Mercadão, como também é conhecido, um importante ponto para conhecer a cidade. Criado, primeiramente, no Largo da Matriz, em 1858, o Mercado Municipal ganhou um novo endereço e edificação, construída entre 1892 e 1912, na Rua Coronel Souza Franco. No entanto, em 1960, o prédio foi demolido para dar lugar ao atual, inaugurado em setembro de 1965. Composto por mais de 100 boxes ocupados por pequenos comerciantes e produtores de alimentos locais, este é um espaço privilegiado para ter contato com diferentes produtos que compõem a identidade cultural mogiana.
Fontes: www.mogidascruzes.sp.gov.br e www.comphap.pmmc.com.br.
SESC SÃO PAULO CHEGA A MOGI DAS CRUZES
Este mês marca a abertura do Sesc Mogi das Cruzes, nova unidade do Sesc em São Paulo que vem para somar programas e atividades ao dia a dia dos mais de 450 mil habitantes deste município do Estado. “Com essa nova unidade, temos a oportunidade de expandir a ação cultural e educativa do Sesc aos moradores de Mogi das Cruzes e região, com programações nos campos dos esportes, da cultura, da educação, da saúde e alimentação, valorizando o lazer e o tempo livre da comunidade. Pretendemos construir uma relação de diálogo, trocas e aprendizados mútuos com o público frequentador”, afirma o diretor do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda.
Esta nova unidade ocupa um terreno de 27.287 metros quadrados, com diversos espaços, como o Galpão Múltiplo Uso, para shows, espetáculos e exposições; o Centro de Educação Ambiental, que realizará oficinas, vivências e outras atividades educativas; o Espaço de Tecnologias e Artes e o Espaço de Brincar. O Sesc Mogi das Cruzes está instalado em um terreno onde antes funcionou o Centro Desportivo do município. A fim de preservar esse local que faz parte da história da cidade, reformou as quadras poliesportivas e a piscina onde muitos mogianos aprenderam a nadar. Além de todos os serviços realizados pelo Sesc São Paulo, a unidade Mogi das Cruzes também funcionará como um grande parque por estar em uma extensa área verde aberta e arborizada. Neste espaço voltado para o lazer e a convivência, também foi criada uma pista de caminhada para práticas físico-esportivas. Em razão dos protocolos de cuidados contra a Covid-19, o público poderá conhecer os novos espaços da unidade com visitas guiadas e agendadas.
Ambiente educativo para ser usado livremente pelos frequentadores, o Centro de Educação Ambiental (CEA) também realizará atividades mediadas por agentes de educação ambiental, como oficinas, palestras, cursos e vivências. Organizado sob o guarda-chuva de dois pilares estruturais, Educação Ambiental e Permacultura, o CEA terá três eixos de atuação. O primeiro é Bioconstrução, com técnicas construtivas de baixo impacto ambiental, que usam materiais locais, conhecimentos ancestrais e resgatam saberes manuais, a exemplo da técnica de taipa de mão ou pau a pique. A própria criação do espaço incorporou diferentes técnicas de bioconstrução.
O segundo eixo chama-se Manejo de Água e Resíduos, para o qual o CEA destina um olhar cuidadoso para a coleta e o tratamento de água, além de implementar diferentes tipos de compostagem para resíduos orgânicos. Por último, o eixo Cultivo e Conservação foca principalmente no cultivo de hortas, canteiros elevados, uma miniagrofloresta, áreas de adubação verde e ainda a manutenção da vegetação da área aberta da unidade.
Uma das programações que marcam a abertura da unidade do Sesc Mogi das Cruzes é a exposição Ausente Manifesto: ver e imaginar na arte contemporânea, sob curadoria de Cauê Alves e Pedro Nery, que poderá ser visitada pelo público a partir do dia 6 de novembro, mediante agendamento. Composta por fotografias, instalações, vídeos e outras linguagens artísticas que ocuparão o Galpão da unidade, a mostra reúne 35 obras do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e de seu Clube de Colecionadores e marca o início de uma parceria entre o Sesc e o MAM.
São criações que revelam o negativo (ou o verso) de uma obra. Como no caso de Masterpieces (in Absentia: Calder), da artista Regina Silveira, que projeta a sombra de um móbile de Alexander Calder esparramando pela parede, distorcendo a peça – à qual não temos acesso. Ou o jogo irônico da obra de Antonio Dias da série The Illustration of Art, intitulado Working Class Hero, em que o artista se filma comendo um prato de arroz e feijão e depois lava a louça usada, colocando em questão a idealização simbólica da produção artística e do museu.
A exposição Ausente Manifesto fica em cartaz até dia 20 de fevereiro de 2022. Agende sua visita pelo APP Credencial Sesc SP e confira mais informações em www.sescsp.org.br/mogidascruzes.