Postado em 06/08/2021
Por Rafaela Sansão, Natália Fonsati, Amanda Silva e Fabiana Andrade*
As feiras agroecológicas são espaços que acolhem os saberes da agricultura familiar, com agricultoras e agricultores comercializando alimentos cultivados com princípios agroecológicos em seus quintais. São baseadas na solidariedade e no respeito ao ambiente, além da oferta de alimentos livres de agrotóxicos, transgênicos e de exploração humana.
Por serem uma metodologia de baixo custo desenvolvida pelas comunidades e que trazem os diversos benefícios sociais, as feiras também são consideradas como uma tecnologia social. São nesses espaços que nós podemos conhecer a identidade de uma comunidade, suas tradições populares, as manifestações da sociobiodiversidade e da cultura brasileira.
As feiras têm como papel aproximar a produção do consumo, construindo relações mais próximas entre os produtores e consumidores, bem como sistemas agroalimentares localizados, representando verdadeiras oportunidades de comercialização socialmente justa e economicamente viável (já que os produtos da agricultura familiar não passam pelas mãos de atravessadores locais). Como consequência, geram autonomia, renda, trocas de experiências e conhecimentos para essas pessoas.
Outro aspecto importante é a participação de intercâmbios, momentos de formação e de discussões sobre as temáticas relacionadas à Agroecologia. Fundamentada na valorização da diversidade cultural e biológica, a prática agroecológica busca conservar e resgatar as variedades crioulas e o conhecimento tradicional das populações locais, proporcionando espécies adaptadas ao seu local de desenvolvimento e uma alimentação saudável.
Porém, com a pandemia da Covid-19 foi preciso interromper as feiras, dando lugar às medidas de isolamento e ao distanciamento, adotadas em prol da saúde. Com isso, os produtores de orgânicos e agroecológicos do Noroeste Paulista, localizados especificamente em Birigui, Coroados, Barbosa, Penápolis e Promissão, precisaram se reinventar.
As entregas dos alimentos, que antes se faziam tão presentes no convívio social, passaram a ser à domicílio. As trocas com a clientela, agora se dão diretamente pelo aplicativo WhatsApp. Esses e novos desafios se tornaram presentes na vida desses produtores, além daqueles velhos conhecidos, o de produzirem na região conhecida como o Sertão do Estado de São Paulo, e por estarem dentro de um cenário de degradação ambiental, decorrentes do avanço da monocultura e pecuária praticadas pelos seus vizinhos.
Foi nesse contexto que surgiu a ideia de uma feira diferente, que pudesse promover a agricultura familiar de forma acessível em meio à pandemia, e também contribuir para a segurança alimentar dos consumidores e a renda das famílias de produtores envolvidas.
A partir disso, as áreas de Educação para a Sustentabilidade, Valorização Social, Acessibilidade e Alimentação do Sesc Birigui organizaram, junto às produtoras e produtores, uma Feira Agroecológica Virtual, buscando conectar a população de Birigui e região com esses produtores e oferecer alimentos saudáveis, fortalecendo essa rede do território e fomentando a organização de grupos de consumo responsáveis.
Na programação da Feira Agroecológica Virtual do Sesc Birigui, por meio de vídeos com recursos de acessibilidade, o público poderá conhecer um pouco mais sobre a história de cada produtor, como os alimentos são cultivados e as diversidades de produtos, como o peixinho-da-horta, milho crioulo, mandioca (macaxeira ou aipim), bertalha (ou espinafre-indiano), moringa (árvore da vida ou acácia branca) e o café.
Uma dessas histórias é a da Dona Cícera, proprietária da Chácara Virgem de Guadalupe, que trouxe um pedacinho do Nordeste para Birigui. Lá o público encontra desde cajueiro, pitomba até milho crioulo, além de outras variedades e um cafezinho servido na hora, direto da sua cozinha caipira.
Também é possível conhecer os Sítios Naturaleza (Coroados), Panorama (Penápolis) e Sítio Ana Cláudia Midori (Coroados), que produzem uma grande diversidade de alimentos, incluindo as Plantas Alimentícias Não Convencionais, também conhecidas como PANCs.
Tratam-se de plantas de desenvolvimento espontâneo, facilmente encontradas em jardins, hortas, quintais e até mesmo em calçadas de rua, pouco utilizadas na alimentação por falta de conhecimento ou costume, mas com elevados teores de minerais, fibras, antioxidantes e proteínas. Além disso, esses três locais fazem parte da ECOFAM, grupo certificado pela OPAC Brota Cerrado.
Por meio do Sistema Participativo de Garantia (SPG), um tipo de certificação autorizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) - que difere dos outros convencionais por ser um processo de geração de credibilidade estabelecido pela participação direta de seus membros em ações coletivas, e abertas para os consumidores -, existe uma troca muito rica de informação, de conhecimento, de experiências, no qual as dificuldades e soluções são encontradas em conjunto.
Você também encontra na Feira a experiência do Puro Prana, localizado em Barbosa e gerido pelos produtores agroecológicos Márcia e Rodrigo, que desde 2016 produzem comida saudável, em sistemas agroflorestais, sintrópicos, biodiversos e regenerativos.
Outra história para se conhecer é a da Cooperativa dos Produtores Campesinos, responsáveis por fornecer alimentos para a Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA) de Lins e Promissão. A CSA é uma iniciativa que promove o desenvolvimento agrário sustentável e o escoamento de produtos orgânicos de uma forma direta ao consumidor, aproximando a relação do campo com a cidade, por meio de um grupo fixo de consumidores que se compromete a apoiar a produção local e recebe como contrapartida os alimentos saudáveis produzidos pelas famílias agricultoras.
Outra iniciativa que foi pensada para acontecer simultaneamente à Feira Agroecológica Virtual, dentro do projeto Territórios do Comum, é o curso “Acesso a Alimentos Orgânicos Locais: Como Organizar Grupos de Consumo Responsáveis”.
O curso vai abordar as potencialidades e desafios do acesso a alimentos saudáveis locais e propor ferramentas sobre como formar e estabelecer um grupo de consumo responsável, a partir de experiências de grupos que já existem e são estabelecidos (Rede Ecológica, CSAs Lins e São José). Voltado a produtores agroecológicos e pessoas interessadas na temática, o curso acontece na plataforma Zoom, dos dias 10 a 12 de agosto, e será ministrado pelo Instituto Kairós. Para participar, é preciso se inscrever em inscricoes.sescsp.org.br.
Para celebrarmos e encerrarmos a Feira Agroecológica Virtual, no dia 14 de agosto será realizada a oficina de culinária “Cozinhando com Alimentos Agroecológicos da Estação”, conduzida pela nutricionista Vanessa Luqueti, que realizará o preparo de alguns pratos rápidos, saborosos e saudáveis, utilizando os ingredientes agroecológicos fornecidos pelas produtoras e produtores locais. A oficina será ao vivo e transmitida pelas redes sociais do Sesc Birigui.
Você também pode acompanhar todos os depoimentos dos produtores por meio dos 6 episódios, que serão lançados dos dias 8 a 13 de agosto, nos canais no YouTube, Facebook e Instagram do Sesc Birigui.
*Rafaela Sansão é bióloga e mestra em Sustentabilidade. Atua como agente de educação ambiental no Sesc Birigui.
*Natália Fonsati é profissional de educação física e comunicação social, mestra em Intervenção em Saúde. Atua como monitora de esportes e é responsável pela área de acessibilidade do Sesc Birigui.
*Amanda Silva é cientista da natureza e mestre em ensino de ciências. Atua como animadora cultural pela área de valorização social no Sesc Birigui.
*Fabiana Andrade é formada técnica em Nutrição e Dietética pela ETEC Getúlio Vargas, Nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo e pós-graduada em Gestão da Segurança dos Alimentos pelo Senac. Atualmente exerce a função de nutricionista no Sesc Birigui.
---
Para ampliar possibilidades de trocas de conhecimentos e práticas entre as pessoas e coletivos envolvidos e interessados no tema, o Sesc São Paulo realiza de 1º a 15 de agosto o projeto Territórios do Comum, ação em rede voltada ao tema da cidadania em suas múltiplas dimensões e possibilidades de colaboração entre iniciativas sociais.
A programação está dividida em dois eixos: mobilização social, que aborda estratégias de desenvolvimento de ações comunitárias voltadas para o bem comum, para a geração de renda, acessibilidade a pessoas com deficiência e sustentabilidade; e tecnologias sociais, que buscam ampliar a inclusão social por meio da utilização de tecnologias digitais e ancestrais, para alcançar a melhoria das condições de vida levando em consideração aspectos sociais, ambientais e culturais do contexto local.
Para saber mais e acompanhar a programação completa, acesse: sescsp.org.br/territoriosdocomum