Postado em 03/08/2021
No início da década de 60, alguns aposentados pelo comércio recebiam suas aposentadorias pessoalmente no Instituto de IAPC - Aposentadoria e Pensão dos Comerciários. Saindo dali, costumavam almoçar no Centro Social Mário França de Azevedo, hoje Sesc Carmo – localizado no centro da cidade de São Paulo, e passavam a tarde conversando, ou, simplesmente, sentados nos bancos, antes de voltarem para a casa.
Em 1962, um grupo de funcionários do Sesc São Paulo foi enviado aos Estados Unidos para estudar o sistema de trabalho dos Golden Age Centers, que reuniam grupos de idosos para a realização de atividades intelectuais e de lazer. No retorno dessa viagem, como uma primeira tentativa de reunir as pessoas aposentadas, os técnicos enviaram cartas que as convidavam para participar de um grupo de convivência. Praticamente não houve adesões.
Em uma segunda tentativa, algumas pessoas da equipe do Sesc foram à fila do IAPC e fizeram o convite pessoalmente aos aposentados. Dessa vez, um número um pouco maior de pessoas topou participar, formando, assim, um grupo com 12 integrantes, que se reuniram pela primeira vez no dia 26 de setembro de 1963 no Centro Social Mário França de Azevedo.
Naquele primeiro momento, com o objetivo de promover a socialização e continuar dando voz e protagonismo a essas pessoas, a proposta pretendia incentivar ainda mais a convivência, atividades de lazer e orientação para auto-organização, com a participação direta dos idosos, que podiam sugerir programações voltadas a eles, cabendo ao Sesc São Paulo o suporte estrutural e técnico para a realização dessas atividades.
Mais tarde, com o interesse e a participação de um maior número de pessoas aposentadas, o Sesc passou a oferecer as ações para aposentados em outras categorias profissionais (serviços e turismo). Além da capital, foram criados diversos núcleos nas unidades do interior, ampliando rapidamente o público e as demandas.
No final dos anos 70, foram criadas as Escolas Abertas da Terceira Idade, uma proposta socioeducativa de atualização de conhecimentos, com cursos, palestras, seminários, oficinas de música, teatro, dança e pintura.
Diante dos males que uma velhice desprovida de projetos de vida poderia causar às pessoas, nos anos 80 o Sesc São Paulo criou, pioneiramente, programas de preparação para a aposentadoria, propondo uma ação preventiva a instituições e empresas junto a funcionários próximos de se aposentar.
Nos últimos quase 60 anos, o Sesc desenvolveu inúmeras ações voltadas à pessoa idosa, nacional e regionalmente: mobilizou as comunidades, capacitou profissionais, colaborou com instituições públicas e privadas, sempre no intuito de que a questão social dos velhos fosse configurada entre as áreas prioritárias de intervenção da nossa sociedade.
Pensar e repensar o trabalho social com base em estudos e pesquisas tem sido um exercício permanente, que marcou esses anos de trabalho. Sistematizar as reflexões e as práticas são fundamentais para ancorar ações de longo prazo; ao mesmo tempo, as ações reflexivas auxiliam na antecipação de necessidades ou na inovação em determinadas situações. A atualização do Programa tem sido constante, desde sua implementação, condição essencial para que as ações propostas ao longo de tanto tempo possam dar conta da realidade presente e antecipar necessidades futuras.
Atualmente, o Trabalho Social com Idosos do Sesc São Paulo atua de acordo com os parâmetros, diretrizes e objetivos a seguir:
Parâmetros
- Pessoas com 60 anos ou mais
- Público especializado (profissionais, estudantes), interessados na temática
- Educação permanente
- Atendimento qualificado
- Democratização da cultura
Diretrizes
- basear a ação em diagnóstico
- promover a cultura do envelhecimento por meio da valorização da pessoa idosa
- praticar autonomia e alteridade
- ações humanizadas e humanizadoras
- transversalidade
- ampliação do atendimento com foco no público prioritário
Objetivos
- Propor ações sobre projetos de vida
- Sociabilizar
- Refletir sobre envelhecimento e longevidade
- Construir conhecimentos
- Desconstruir estereótipos e preconceitos
- Promover a saúde
- Incentivar o protagonismo
- Incentivar relações intergeracionais
O programa tem uma Programação Permanente que, antes da pandemia de Covid-19, acontecia diariamente nas unidades do Sesc São Paulo, e neste momento, está nas redes digitais. São realizadas Ações em Rede, que propõem reflexões, em datas importantes, sobre o envelhecer; e, desde 1988, o Sesc São Paulo edita a Revista Mais 60: estudos sobre envelhecimento, uma das primeiras e principais publicações brasileiras do gênero.
Ações permanentes em 3 eixos:
Sociedade e Cidadania
Propõe ações que envolvam reflexões, trocas e experimentações sobre questões relevantes para a vivência coletiva e individual nos diferentes aspectos e abordagens do cidadão idoso na contemporaneidade. Suas principais linhas de ação são: direitos, deveres e aspectos legais; respeito e dignidade humana; autonomia; representatividade; marcadores sociais; estereótipos e preconceitos; mediação e velhice contemporânea.
Corpo e movimento
Compreende todas as ações e temáticas que giram em torno da saúde, bem-estar e cuidado com o corpo idoso. Ao falar do corpo, considera este como um produtor e produto da cultura no qual está inserido nas suas mais diversas manifestações. Utiliza-se uma definição ampliada de saúde, que perpassa aspectos físicos e mentais do sujeito. As ações focam no desenvolvimento destas potencialidades e debatem suas representações, bem como jogam luz a questões que envolvam os mais variados aspectos relacionados às marcas do envelhecimento no corpo das pessoas.
Arte e expressão
Orienta as ações que têm como principal intenção mediar a interação dos idosos com as artes nas suas mais variadas definições. As principais linhas de ação do eixo são a democratização da cultura, o aprendizado, as experimentações artísticas, a fruição e a arte como meio de pensar o envelhecimento.
Ações em Rede:
Semana de Prevenção de Quedas em Pessoas Idosas
O principal objetivo é contribuir para conscientização das causas e das consequências das quedas de pessoas idosas.
Campanha de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa
Por meio de ações voltadas ao público de todas as idades, procura sensibilizar sobre os vários tipos de violência contra idosas e idosos, como a agressão física, o abandono, a negligência, o abuso financeiro e sexual, além da violência psicológica (menosprezo, discriminação, preconceito e humilhação).
Mostra Sentidos – longevidade na arte
Baseada no Dia Internacional da Pessoa Idosa (1 de outubro), a mostra traz, por meio da dança e do teatro, a representatividade dos corpos idosos.
Revista Mais 60:
Abre importante espaço para divulgação de investigações no campo da gerontologia, do envelhecimento. Também publica artigos e relatos de experiência realizadas no Sesc. Atualmente sua tiragem é de 2500 exemplares e todas as edições podem ser acessadas online no Portal do Sesc São Paulo.
Outras ações
No início da pandemia de Covid-19, foi lançado o curso EAD Como estamos envelhecendo?, voltado para profissionais, e também para idosos, disponível gratuitamente na plataforma Sesc Digital.
Além disso, o Sesc participa, juntamente com a Fundação Perseu Abramo, da Pesquisa Idosos no Brasil, cuja primeira edição foi realizada em 2006 e segunda em 2020. A iniciativa é pioneira e investiga componentes do imaginário social brasileiro acerca do envelhecimento, além de abordar dados sociodemográficos e temáticas como o uso de internet, práticas e fruição culturais, autoimagem, direitos sociais (educação, saúde e trabalho), violência, moradia e laços afetivos.
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