Postado em 30/07/2021
ARTISTAS E GRUPOS DE CIRCO TRANSFORMAM A TELA EM PALCO
E LEVAM ALEGRIA PARA DENTRO DE CASA: É SÓ APERTAR O PLAY
"Com vocês: o balé das águas”, anuncia a palhaça Pamplona. Na mesma hora, o palhaço Claudius torce o nariz e alerta a colega: “Estamos em casa, sem chafariz! O jeito é cancelar esse último número”. Pamplona insiste e saca do bolso desenhos em papel dos dois, em trajes de bailarina, num pas de deux, e diz: “Já que estamos em tempos de adaptação, vamos adaptar”. Do outro lado da tela, as risadas dos espectadores ganham vida, só que expressas em letras garrafais na caixa de texto do canal do YouTube do Sesc São Paulo, durante a transmissão do espetáculo É Mesmo uma Palhaçada, com Gabi Zanola e Renato Ribeiro, integrantes da Trupe DuNavô (leia boxe Respeitável público, o CIRCOS vem aí!). Assim como eles, diversos artistas circenses tiveram que adaptar, ou criar, durante a pandemia, apresentações bem diferentes daquelas que contavam com um amplo espaço e, principalmente, a presença do público. Mesmo diante da necessidade de recolher a lona e desmontar o picadeiro, o circo não saiu de cena.
“Neste ano e meio de pandemia, tudo mudou, e tivemos que entender como nos comunicar com o público a distância. Então, foi um baque muito grande, a princípio. Mas, como o show não pode parar, resolvemos estudar e entender como levar nossas produções para as pessoas em casa e, aí, obviamente, a internet é o meio mais democrático para isso”, explica a atriz Gislaine Pereira, integrante da Trupe DuNavô, que celebra 11 anos dedicados à arte da palhaçaria.
A trupe paulista, formada ainda por um quarto integrante, Vinicius Ramos, sempre fez uso do espaço urbano para criar. A matéria-prima vinha dessa interação que se estabelece entre o palhaço e o público. Desde o ano passado, no entanto, o aprendizado é fazer esse processo criativo caber numa tela. “Percebemos que aquilo que se apresenta em vídeo é completamente diferente do que fazemos presencialmente. Tudo muda: dramaturgia, encenação, luz, composição de cena… É um universo totalmente novo, mas ao qual, honrando a tradição do circo, estamos aprendendo a nos adaptar”, compartilha Gislaine.
A rotina de ensaios e encontros também mudou drasticamente. “Todas as nossas reuniões agora são feitas pelo Zoom (plataforma de videochamada), e começamos a adaptar a maioria das nossas produções para o ambiente virtual. Alguns espetáculos do nosso repertório passaram para apresentações online e os novos já foram pensados para esse meio”, complementa a atriz.
MALABARISMO EM CASA
Famílias circenses também vivem uma nova rotina de lives, likes e caixas de comentários em redes e plataformas digitais. Caso da Cia. Barnabô, formada pelos artistas Lu Menin e Pablo Nordio, que estava em turnê com o solo Altissonante, acompanhado de oficinas, quando a pandemia impediu as apresentações nas últimas três cidades. O jeito foi levar o espetáculo e oficinas para o quintal de casa, em Cotia (SP). “Chamamos uma equipe especializada, com três câmeras e uma mesa de edição: nos parecia grave passar o circo para a tela com uma câmera parada. Com essa equipe de audiovisual, conseguimos, com um ensaio de direção de câmera, transmitir o espetáculo (em movimento), entre tomadas de detalhes e plano aberto. Flexibilizamos e ampliamos nosso olhar, concluímos o projeto de circulação, e demos início a esta nova jornada: Circo na Tela. É uma parceria que veio para ficar”, comemora Lu. A companhia também readequou as oficinas para uma plataforma de videochamada.
Os filhos do casal de artistas circenses, Gael, 11 anos, e Guido, 7, estão entre os que gostaram da novidade. Afinal, todos os materiais dos espetáculos da Cia. Barnabô estavam ao alcance para que eles também brincassem de circo. Enquanto isso, os pais se alternam entre os cuidados com as crianças, as atividades domésticas e, claro, os ensaios. “É como eu digo: movimento gera movimento. A partir daí, foram surgindo possibilidades de festivais online, outras lives e até mesmo um minidoc da Família Barnabô em parceria com o Sesc Santos (leia boxe Respeitável público, o CIRCOS vem aí!), no qual contamos nossa história”, destaca.
RISADAS EM CAPS LOCK
O olho no olho, as palmas e os risos da plateia funcionam como um termômetro para os números de palhaçaria, malabarismo, acrobacia e outras expressões dessa linguagem artística. Na pandemia, esses elementos importantes tiveram que sair de cena, ou melhor, se adaptar à linguagem de likes e comentários. “As primeiras apresentações que fizemos dos espetáculos em vídeo foram muito estranhas. Dava uma sensação de vazio, de que as piadas haviam flopado, mas aos poucos fomos entendendo que o timing (no ambiente virtual) é muito diferente e nos afastamos da necessidade de ter a reação instantânea do público”, recorda Gislaine, da Trupe DuNavô.
Para a artista Lu Menin, essa interação face a face é do que ela mais sente falta. “Ainda sofremos com a ausência de público direto, dos timings de resposta imediata. Mas, ao mesmo tempo, mantivemos a positividade e a crença no que fazemos. De alguma forma, preservamos o contato e, literalmente, ampliamos muito nossa rede por meio do digital”, pondera.
DESENCAIXOTAR SONHOS
Enquanto há necessidade de restrição social, o circo se mantém vivo em nosso bolso ou na nossa casa. E grupos como a Trupe DuNavô e a Cia. Barnabô não deixam de sonhar com o porvir. “Há sete meses, a Cia. Barnabô fez uma grande mudança de vida. Depois de 18 anos em Cotia, viemos para São Bento do Sapucaí. Com isso, nossos planos de retomada têm a ver com trazer o circo para a Serra da Mantiqueira, usufruindo de uma vida mais simples e em uma cidade pequena. E, claro, queremos retomar os planos de viagens”, revela Lu Menin.
Gislaine também adianta que a trupe paulista planeja, em breve, desencaixotar seus sonhos. “Estamos com o projeto de um espetáculo novo, que vem sendo planejado há alguns anos e foi estacionado por conta da pandemia, mas, agora, com o avanço das vacinas, começamos a pensar como será, finalmente, poder realizá-lo. Sabe aquela gargalhada de plateia lotada, em que você sente o ambiente vibrar? Esse é o nosso sonho!”, finaliza.
FESTIVAIS, DOCUMENTÁRIOS E PODCASTS NAS PLATAFORMAS DIGITAIS
APROXIMAM A PLATEIA DA ARTE CIRCENSE
Mescla de teatro, dança, habilidades físicas, musicalidade e outras expressões corporais, o circo é uma importante linguagem artística a compor a programação do Sesc São Paulo e o seu acervo digital. São espetáculos, documentários, podcasts, séries, entrevistas, oficinas e cursos que ganham o ambiente online, encurtando a distância entre artistas e um público de todas as idades. Pela primeira vez numa programação virtual, será realizada a sexta edição de CIRCOS – Festival Internacional Sesc de Circo, entre os dias 28 de agosto e 4 de setembro.
Se nas edições passadas foram levantadas reflexões relacionadas à dramaturgia circense, risco, virtuosismo, caminhos dessa arte no Brasil e identidades, desta vez a questão é como o circo consegue se reinventar e se manter ativo no atual contexto. “A proposta desta edição é ativar ideias, inspirações e modelos, a partir de possibilidades formativas, processos de criação artística, reflexões e vivências, ativando conexões entre artistas, criadores, públicos e articuladores culturais”, explica Marina Zan, assistente de circo da Gerência de Ação Cultural do Sesc São Paulo. Dessa forma, complementa Marina, “manteremos não apenas a chama acesa, mas também viva a perspectiva de seguir como um marco referencial para o desenvolvimento do circo e a manutenção de sua memória”. Acesse a programação do festival em: https://circos.sescsp.org.br/.
Confira alguns destaques da programação dedicada ao circo nas redes sociais e plataformas digitais do Sesc São Paulo:
SESC DIGITAL
PALHAÇARIA E COMICIDADE FÍSICA, com Cia. La Mínima
Em setembro, durante o CIRCOS – Festival Internacional Sesc de Circo, será lançado o curso Palhaçaria e Comicidade Física, com a Cia. La Mínima, na plataforma de educação a distância do Sesc São Paulo. Serão disponibilizadas seis videoaulas de 15 a 20 minutos, ministradas por Fernando Paz, Marcelo Castro e Filipe Bregantim, que se revezam nas demonstrações das aulas, que têm outros integrantes da companhia à frente ou atrás das câmeras na criação de conteúdo. Também há presença de convidados como Alexandre Roit, que fala sobre circo de rua; Marcelo Pellegrini, que aborda a chamada música excêntrica; e Alvaro Assad, que fala sobre pantomima. Os alunos também contam com materiais de apoio e apostila. Gratuito e voltado a todos os públicos, esse curso pode ser feito a qualquer momento e é autoguiado, ou seja, feito no ritmo do aluno. A matrícula depende apenas do preenchimento de um cadastro simples na plataforma Sesc Digital, e as vagas são ilimitadas. Saiba mais em: sescsp.org.br/ead.
PODCAST CIRCO EM TRANSE – LINGUAGEM, INVENÇÃO E MOVIMENTO
O circo também está presente no acervo da plataforma Sesc Digital em documentários, séries e outros programas. Entre os destaques, o podcast Circo em Transe – Linguagem, Invenção e Movimento passeia, em oito episódios (com 20 minutos de duração cada), pelo universo do circo contemporâneo e apresenta linguagens, conceitos, artistas e suas inquietações. Participam: Maíra Campos (Cia. Artinerant’s), Bruno Rudolph (Cia. Solas de Vento), Lu Lopes (Palhaça Rubra), além de outros artistas e pesquisadores. Dirigida por Julio de Paula, essa série sonora foi produzida e lançada durante a quinta edição do CIRCOS – Festival Internacional Sesc de Circo, em 2019. Confira em: https://sesc.digital/colecao/circo-em-transe.
#EMCASACOMSESC
Na programação do Crianças #EmCasaComSesc, grupos circenses levam números de todos os tipos para um picadeiro virtual. Entre eles, a Trupe DuNavô apresentou É Mesmo uma Palhaçada, espetáculo de ilusionismo, mágica, dança e variedades. Na montagem, um grupo de palhaçaria se prepara para fazer uma live. Eles arrumam as luzes, checam se o público está se conectando, mas, de repente, percebem que estão em um cenário diferente. Na frente da plateia online, a trupe se dá conta de que foi parar na “live errada” e passa a improvisar cenas. O que acontecerá? Assista no canal do YouTube do Sesc São Paulo: www.youtube.com/watch?v=4s7tr5GuCno.
SESCTV
CIRCO É... CIRCO
Neste documentário, gravado nas unidades do Sesc São Paulo durante o CIRCOS – Festival Internacional Sesc de Circo de 2015, a diretora Daniela Cucchiarelli aborda a história do circo, diferencia os conceitos tradicional e contemporâneo, analisa a formação de artistas e mostra vertentes distintas. Cucchiarelli ainda levanta questões como o risco inerente ao ofício e a falta de incentivo na forma de políticas públicas voltadas para essa linguagem artística. Assista na plataforma de streaming sob demanda do SescTV: sesctv.org.br.
SANTOS
ARTE E VIDA – CIRCO, com a Cia. Barnabô
Na segunda temporada da série Arte e Vida, realizada pelo Sesc Santos, a Cia. Barnabô mostra como é o seu dia a dia. Em cinco episódios (com cerca de 7 minutos cada), o casal Lu Menin e Pablo Nordio conta como vive essa família de acrobatas e malabaristas que se forma na junção de origens mineiras e argentinas. Parceiros na arte e na vida ao longo de 18 anos, Lu e Pablo também falam sobre a integração dos filhos Guido e Gael no grupo. Confira em: www.youtube.com/watch?v=cTiWyKKUrqc.
CAMPINAS
CORPOS EM QUARENTENA
Nesta série de 30 episódios, artistas e grupos circenses de Campinas refletem sobre o processo criativo neste momento de pandemia. Realizada entre julho e outubro de 2020 pelo Sesc Campinas, Corpos em Quarentena convida esses artistas a darem depoimentos inspirados no contexto de isolamento social e também a criarem registros performáticos. O ator, diretor, palhaço e pesquisador teatral Ésio Magalhães, sócio-fundador do Barracão Teatro, em parceria com Tiche Vianna, é um dos participantes da série. Assista em: www.youtube.com/watch?v=-exTKvtn-3M&t=113s.
24 DE MAIO
CONEXÕES
Nesta websérie documental, realizada pelo Sesc 24 de Maio, entram em cena os bastidores da criação do espetáculo homônimo, Conexões, da Trupe Circodança, dirigida pela coreógrafa Suzie Bianchi e formada por artistas, bailarinos e acrobatas. Dividida em seis episódios (cerca de 10 minutos cada), a série traz dilemas vividos pela companhia em seu dia a dia, antes e durante a pandemia, que transcendem o palco e as telas: Como se inspirar e ter novas ideias neste momento? Qual o papel da memória e das conexões reais que já estão estabelecidas? Conheça em: www.youtube.com/watch?v=XfcFYjX_F1E.
GUARULHOS
PELOS ARES – OS BASTIDORES DOS ESPETÁCULOS AÉREOS
Você imagina como é montar um espetáculo em que os artistas ficam quase todo o tempo com os pés fora do chão? Do bate-papo Pelos Ares – Os Bastidores dos Espetáculos Aéreos, que integra a programação do projeto Bastidores Cênicos, do Sesc Guarulhos, participam Mônica Alla, coreógrafa, bailarina e acrobata; Martin Sabatino, mestre acrobata especializado em aparelhos que possibilitam grandes voos, como os trapézios em balanço, de voos e petit volant; e Ziza Brisola, profissional circense desde 1999. Confira em: www.youtube.com/watch?v=loF-6cOyEQM.
PINHEIROS
MULHERES DE CIRCO
Quem são as mulheres que criam, dirigem, fazem e acontecem nos picadeiros? Na série Mulheres de Circo, realizada pelo Sesc Pinheiros, profissionais de vertentes diversas, como números aéreos, equilibrismo, magia, palhaçaria, malabarismo, acrobacia e contorcionismo, falam sobre a presença e o protagonismo femininos nessa arte, quebrando estereótipos e preconceitos. A série ainda propõe reflexões sobre como a pandemia, a quarentena e o isolamento social têm reverberado em seus trabalhos. Exibido em julho, o quinto episódio traz o trabalho da bailarina e atriz circense Marina Prado. Nele, ela apresenta Equilíbrios Provisórios, que faz parte de sua pesquisa sobre dança e circo. Novos episódios da série são transmitidos quinzenalmente, sempre aos sábados, às 16h, no canal do YouTube do Sesc Pinheiros. Confira em: www.youtube.com/watch?v=Dat7BOOCwTY&t=28s.