Postado em 28/05/2021
* Por Silvani Moreno
Em tempos de pandemia, a realidade do isolamento assaltou a todos e muito especialmente aos bebês e crianças da primeira infância, que se viram restritos ao ambiente familiar e em convívio constante e integral com os adultos da casa e seus irmãos - quando existem.
A casa virou o espaço da brincadeira, da bagunça, da construção e desconstrução de fantasias com vistas a um tempo em que volte a ser possível ver outras crianças, interagir e brincar em lugares diversos, fora do ambiente da casa.
Já estamos há mais de um ano nessa situação, muitas crianças foram gestadas durante a pandemia e nasceram nesse mundo caótico. A vida, portanto, continua, e as crianças costumam ser resilientes e assumem rapidamente as mudanças como novidades. As necessidades básicas de cuidados, como trocar fraldas, dar banho, alimentar não precisam, no entanto, ser realizadas de forma mecânica mas podem, quem sabe, ser povoadas de interações que considerem o ser humano/criança que existe ali, com histórias, canções, conversas e risadas.
Sendo assim, são os adultos que têm que “tirar da cartola” toda sua criatividade e investi-la em novas formas de convivência que possibilitem às suas crianças a chance de brincar e sorrir. Acreditamos que, nesse contexto, muitas histórias vêm se construindo com o protagonismo de diversos grupos familiares. Diante disso, como compartilhar histórias com as crianças de modo que elas se sintam pertencentes a esse momento? Como ajudá-las a simbolizar e inventar seus personagens como num bordado coletivo elaborado por adultos e crianças?
São essas histórias que mais interessam no momento, ou seja, aquelas que trazem à tona a poética de um cotidiano em que todos contribuem para que seja menos difícil e solitário. Sendo assim, nosso desafio é encontrar formas possíveis de transmissão dessas narrativas para as crianças que nos acompanham. Como é possível construir narrativas que façam sentido para os bebês de 0 a 3 anos e para as crianças de 3 a 6? De que modo é possível encontrar as melhores palavras para narrar histórias que se fazem coletivamente no dia a dia?
Nos vídeos abaixo, produzidos pela contadora Silvani Moreno, propõe-se uma reflexão sobre como contar histórias para bebês e crianças. Quais histórias queremos contar? Como os bebês e as crianças reagem ao ato da contação nesse contexto? De que modo contar histórias pode colaborar para uma percepção mais sensível sobre o cotidiano da casa em que se vive num momento de pandemia?
Sabemos que o ato de narrar histórias revela uma conexão íntima entre adultos e crianças, que transporta para a fantasia e imaginação e desvela outros universos possíveis. Hoje podemos perceber que os bebês e crianças também nos falam sobre sua percepção do mundo por meio das histórias que inventam. Será que estamos ouvindo?
* Silvani Moreno é artista de teatro, narradora de histórias e professora de arte. Atriz com formação na Escola Livre de Teatro (ELT), bacharelado e licenciatura pela Universidade Anhembi Morumbi e especialização em narração de histórias pela A’Casa Tombada. É co-fundadora da Cia. Teatral Casa de Marias, grupo em que atua como atriz pesquisadora e produtora, como artista educadora na Cia. Alcina da Palavra e como professora de arte na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Atualmente pesquisa a oralidade produzida por mulheres migrantes nordestinas moradoras de periferias, coletando histórias de vida e memórias que compõem o Projeto "Eu Narradora Mães Pretas Contam".