Postado em 31/03/2021
POVOS INDÍGENAS IMBRICAM ARTE E VIDA EM SEUS PROCESSOS CRIATIVOS
Conhecidos pela valorização da coletividade, os povos originários do continente americano são, muitas vezes, interpretados de forma homogênea, ainda que exista, apenas no Brasil, 305 etnias, falantes de 274 línguas. Não é à toa que muitas vezes são chamados equivocadamente – e genericamente – de “índios”. No entanto, os chamados povos ameríndios tratam de valorizar as diferenças e estão longe de ser uniformes na expressão artística. Num texto de 2016, Povos Indígenas. Os Involuntários da Pátria, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro contextualiza a denominação: “Foram chamados de ‘índios’ por conta do famoso equívoco dos invasores que, ao aportarem na América, pensavam ter chegado na Índia. ‘Indígena’, significa ‘gerado dentro da terra que lhe é própria, originário da terra em que vive’. Há povos indígenas no Brasil, na África, na Ásia, na Oceania, e até mesmo na Europa”.
Levando em conta a rede ancestral de semelhanças e diferenças no diálogo entre esses povos, abre este ano a exposição Encontros Ameríndios (veja Arte do encontro), com curadoria de Sylvia Caiuby Novaes e Aristóteles Barcelos Neto. Na mostra, a reunião de obras artísticas dos povos Haida e Tahltan (Canadá), Guna (Panamá), Shipibo Konibo (Peru) e Huni Kuin (Brasil) possibilita novas leituras, tanto regionais quanto internacionais, de produções em que as diferenças não se transformam em desigualdades. Entre outros pontos comuns está o histórico de colonização e resistência, imbricando a arte na vida. O canto, os rituais, as experiências se entrelaçam na criação desses artistas.
“Sua arte é também resultado desta tenacidade para superar as opressões do processo histórico de esbulho e tentativas de dominação que sofreram, sua capacidade de superar adversidades, sua autodeterminação”, explica Sylvia. “É arte que evidencia liberdade para com processos de tradição e renovação, em que cantos, sonhos, mitos, imagens e visões têm um papel fundamental.”
Reunião entre artistas de Brasil, Canadá, Panamá e Peru destaca resiliência dos povos indígenas nas Américas
A confluência do Coletivo Huni Kuin Mahku (Brasil), das artistas Olinda Silvano e Wilma Maynas Inuma (Peru), Gwaai Edenshaw, Jaleen Edenshaw e Alano Edzerza (Canadá), e das produções de artistas Guna, como Flor Fernandez e Briseida Iglesias Lopez de Guerrero (Panamá), está no centro da exposição Encontros Ameríndios, que está prevista para abrir este ano no Sesc Vila Mariana.
A mostra tem curadoria de Sylvia Caiuby Novaes e Aristóteles Barcelos Neto e reúne pinturas, desenhos, arte digital, bordados e entalhe em madeira. A ideia é mostrar, segundo Sylvia, a capacidade de resiliência dos povos indígenas. “Temos obras de artistas contemporâneos das três Américas, muito diversos entre si, mas que têm sua história marcada por esse processo de dominação colonial. Os artistas indígenas contemporâneos demonstram o quanto eles são hoje protagonistas de sua própria história”, explica a curadora.