Postado em 03/03/2021
Apresento oscilações agudas
entre a esperança e o desespero
Todas as vezes que
meus pés frios tocam o chão contaminado da realidade
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Medos amontoados em toda parte da cidade
Incertezas coletivas
Preocupações desalinhadas nas filas dos bancos
O perigo paira no abraço
E o tempo não parou para meu desdém ao calor das presenças reais,
me fazendo contente com uma mensagem de voz de minha avó
Mensagem sem cheiro,
sem tempo
e sem benção
Mas a vida acontece no calor do sentimentos
No escorregar dos olhares trocados
e no perfume misterioso que chegava todo fim de tarde
Faltas e Saudades me convidaram a morrer um pouco também
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Ela sentia como se o fim estivesse sempre dobrando a esquina
Passava como se houvesse um foguete amarrado no umbigo
Tinha a pressa de quem quer chegar antes do tempo que assusta
Ela dormia num gole d’água
Sonhava oceanos
e amanhecia cachoeira
Suas águas desvairadas faziam com que tudo estivesse sempre
Vivo, São e
prestes a morrer
Carla Silva, 34 anos, é uma das idealizadoras da Casa Maré, centro cultural, e de Poesias Apressadas (@poesias_apressadas), página de poesia marginal que leva o nome de um livro de bolso, de sua autoria, lançado em 2013 de forma independente. Carla escreve em seu diário formas de não enlouquecer diante da realidade que não tem tradução.
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