Postado em 15/12/2020
Flanar por uma cidade que funciona no ritmo dos negócios e caminhar pelas ruas em deriva sem compromisso com o tempo ditado pelo trabalho, traz sempre um sopro de liberdade aos olhares que, cansados de contemplar, insistem em buscar a cidade nas palavras e imagens que ela não consegue controlar.
Sem a certeza do lugar a chegar, caminhamos num outro ritmo, experimentamos novas percepções, e logo as nossas pupilas começam a dilatar. De repente, os olhos deslizam do brilho envolvente das vitrines para as fendas abertas pela insólita poética visual que rompe as facha- das da cidade.
As ruas já não são mais as mesmas, agora elas nos observam e passam a nos interrogar. Já não podemos mais ignorar o que nas paredes foi riscado e o que nos muros foi pichado, ao contrário, eles nos confrontam e exigem ser decifrados.
Subitamente, descobrimos uma outra cidade construída à margem, repleta de inusitadas palavras e imagens que revelam os sonhos mais íntimos e os protestos mais aguerridos, que denunciam em micromanifestos as nossas profundas mazelas e desejos reprimidos.
Tentar decifrar o que a cidade põe a nos interrogar nem sempre é uma tarefa fácil, pois implica deslocar o cenário das atenções para desvendar o que na rua sobra das aflições. É no inverso do verso que insurge a voz das ruas que, exaustas dos letreiros ordenados, se abrem para os gestos dos poetas inconformados.
Agora, as janelas protestam, os postes falam, as ruas advertem, os muros ironizam e as escadas fazem poesia. Não há mais como escapar! Se esta cidade é o nosso habitat, é no caos que devemos nos lançar para aprender a conversar com a poesia que habita este lugar.
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