Postado em 05/11/2020
O Teatro Anchieta, no antigo Sesc Vila Nova e atual Sesc Consolação, abriu as portas em 1967. Atualmente mais conhecido por suas memoráveis peças teatrais, o palco foi inaugurado com um concerto – e de ninguém menos que Guiomar Novaes (1894-1979), uma das maiores pianistas brasileiras da história, especialmente conhecida por suas interpretações de Villa-Lobos, Chopin e Schumann.
Na época, o Sesc São Paulo possuía um piano de meia cauda. Mas Guiomar, convidada para tocar na estreia, alegou que para executar perfeitamente as obras previstas, era preciso um piano de cauda inteira (também conhecido como grand piano), que apresenta maior volume sonoro.
A própria pianista encontrou a solução. O instrumento adequado estava perto dali, na casa dela. Bastava transportá-lo. E assim foi feito. O sucesso do concerto foi tremendo, com 359 lugares tomados e muita gente sem conseguir entrar – tanto que Guiomar foi convidada para se apresentar mais uma vez dias depois.
Após os concertos, a questão do piano voltou à tona. Guiomar achou por bem deixar seu precioso instrumento ali mesmo por ter considerado aquele teatro de alta qualidade. E foi assim que o Sesc comprou o piano de Guiomar, que até hoje embala os concertos, shows de música popular, peças de teatro e apresentações de corais realizados no teatro. Pianistas consagrados já dedilharam essas teclas, como Jacques Klein (1930-1982), Magdalena Tagliaferro (1893-1986) e Ann Schein, entre outros.
O piano – da marca alemã Bechstein, fabricado no início do século passado – já passou por várias unidades do Sesc. Depois de permanecer no Sesc Itaquera por alguns anos, foi restaurado em 2018 e seria levado de volta para o Sesc Consolação, mas acabou tendo sua rota desviada para ser utilizado em outra inauguração do Sesc São Paulo: a do Sesc Guarulhos, em 2019. Depois disso, foi passar uma temporada no Sesc Bom Retiro, que precisava de um piano antigo para o espetáculo de teatro "O Náufrago", que conta a história de três amigos estudantes de piano.
Após todo esse périplo, em breve estará de volta à casa de origem, o Teatro Anchieta, do qual já pode ser considerado patrimônio cultural.