Postado em 29/10/2020
Principal cidade do litoral paulista, Santos é conhecida por suas praias e pelo porto, que é o maior da América Latina. Entretanto, tudo isso e mais os órgãos administrativos municipais ficam na pequena área insular que Santos divide com o município vizinho de São Vicente. A maior parte do território da cidade se estende pela área continental e se distancia da ilha povoada nos tempos coloniais por Martim Afonso de Souza e Brás Cubas.
Desse modo, um dos maiores bairros de Santos e também um dos mais distantes da sede municipal é Caruara, que faz divisa com Bertioga. Atualmente com cerca de seis mil moradores, Caruara é uma joia da natureza incrustada na Floresta Atlântica, situado parcialmente em área de preservação ambiental, entre a Serra do Mar e o Canal de Bertioga. Seu cartão postal é o Portinho, píer para atracação de embarcações às margens do canal, com vista para a Ilha de Santo Amaro, onde se situa o município do Guarujá. Por aqui passaram, em priscas eras, canoas e naus de índios e piratas, que buscavam atacar as vilas de Santos e São Vicente pela retaguarda.
O Caruara nasceu de uma antiga plantação de bananas, atividade econômica predominante na região no início do século XX. O produto era transportado por chatas – tipo de embarcação de pequeno calado e fundo plano – até o porto de Santos, de onde era exportado para países como Uruguai e Argentina. Em 1953 a fazenda foi desmembrada em pequenas chácaras e mais tarde deu lugar a lotes de moradia popular. As famílias viviam da roça, pesca artesanal e cata de caranguejo.
Hoje o bairro está urbanizado e conta com duas escolas, postos da guarda municipal e da Polícia Militar, posto de saúde e agência dos Correios. É administrado por uma subprefeitura, que conta com a participação ativa da comunidade por meio da Sociedade Amigos do Caruara. São poucas as ruas asfaltadas e na praça principal fica a Biblioteca Municipal Plínio Marcos (assim batizada em homenagem ao famoso ator e dramaturgo santista), que possui ar condicionado e dois mil títulos em seu acervo.
Um dos projetos em estudo para o Caruara está sendo feito pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU). Trata-se da possível retomada da navegação no Canal de Bertioga por meio de linhas comerciais de barcos até bairros do Guarujá, como Vicente de Carvalho. Outra possibilidade é a retomada do projeto Navega São Paulo, dedicado à prática do remo.
A visita ao Caruara pode ser feita por intermédio de guias do Turismo de Base Comunitária, que levam os turistas às inúmeras cachoeiras da região. A mais acessível dispensa monitores: para chegar até ela basta seguir uma trilha paralela ao sistema de captação de água da Sabesp que abastece o bairro.
No trevo da rodovia SP 055, que dá acesso ao Caruara, é possível apreciar o artesanato exposto no galpão do Caruartes, que reúne os trabalhos dos artesãos locais. Quem vai até lá não pode deixar de saborear o bolo de jussara, palmeira nativa que dá um fruto roxinho muito saboroso.
Em matéria de gastronomia, porém, um restaurante localizado à beira da estrada, também próximo ao trevo, concentra todas as atenções. É o Dalmo, estabelecimento que tem como atrativo extra uma varanda aberta para a mata atlântica. Especializada em frutos do mar, a casa oferece pratos da culinária caiçara, como mariscos, moquecas e caldeiradas.
Sobre o significado da palavra indígena Caruara, só há palpites. Pode ser quebranto, doença reumática ou espécie de abelha pequenina e sem ferrão.
Conheça mais sobre Caruara e também seu vizinho Bertioguense Caiubura neste vídeo. Ele é parte da série "Guia para se perder em Bertioga", na qual o historiador e guia de turismo Carlos Eduardo de Castro apresenta alguns dos lugares mais interessantes da cidade, revelando sempre a importância ambiental e sociocultural de cada um deles.