Postado em 23/10/2020
Após um dia de praia, com sol, mar e areia, um banho restaurador é tudo o que o hóspede do Sesc Bertioga almeja. Enquanto a água cai sobre a pele, uma curiosidade pode surgir: de onde vem esse precioso líquido? A resposta surge na forma de um convite: que tal fazer uma trilha para descobrir?
Desde a inauguração da unidade, há 70 anos, a água que se consome no Sesc Bertioga é captada na Serra do Mar e vem do rio Guaxanduva, de águas cristalinas. Percorrer o caminho que leva à estação de captação é uma aventura acessível a qualquer pessoa sem restrições físicas (a partir de 13 anos) e que permite conhecer diferentes ecossistemas da Mata Atlântica, proporcionando o contato direto com a fauna e a flora da região.
A Trilha d’Água, como é chamado o percurso, apresenta nível médio de dificuldade. Seus pouco mais de 7 km de extensão entre a ida e a volta podem ser percorridos em quatro horas, tempo suficiente, inclusive, para um refrescante banho de cachoeira.
Calçado fechado, repelente, agua e boné são os requisitos indispensáveis para o passeio que começa com um rápido trajeto de ônibus, entre o Sesc Bertioga e as margens do Rio Itapanhaú, no bairro do Mangue Seco. Ali, em uma antiga e desativada fábrica de palmito em conserva, um barco a motor espera os visitantes para atravessá-los ao outro lado do rio, o que é feito em pequenos grupos.
Quando todos estão a postos, a caminhada começa, em fila indiana. Dois monitores ambientais – sempre de Bertioga – e o educador ambiental do Sesc orientam a marcha, feita em silêncio para que o caminhante possa melhor desfrutar da comunhão com a natureza.
Ao chegar a uma área de transição, os guias reúnem o grupo para explicar que estão deixando o manguezal, caracterizado pelas raízes expostas das árvores no terreno lodoso e pela infinidade de pequenos buracos feitos pelos filhotes de caranguejos, tanto na trilha como nos arredores. Aqui é possível sentir o cheiro sulfuroso de matéria orgânica do solo rico em nutrientes, que fazem do mangue o berçário natural para a reprodução de diversas espécies.
A caminhada prossegue sobre os canos de água parcialmente enterrados. Agora o grupo se aproxima da área de restinga e as flores brancas de algumas árvores enfeitam a trilha. As árvores mais comuns neste trecho são a caixeta – que as comunidades caiçaras usam para a confecção de seus utensílios, inclusive instrumentos musicais como a rabeca – e a embaúba, com seu tronco oco, onde formigas e o bicho preguiça vivem em harmonia.
Após a travessia de uma ponte nos encontramos, subitamente, diante de uma linha de trem. É o meio pelo qual são transportados os trabalhadores que operam a centenária usina hidrelétrica de Itatinga, que ainda nos dias de hoje fornece energia para a o Porto de Santos. Depois de alguns passos sobre os trilhos, logo todos estão no mato novamente, em ligeira subida, acompanhando o curso do rio Guaxanduva, já nos contrafortes da Serra do Mar. Aqui surgem árvores com altura a perder de vista, como o embiruçu, sustentadas por raízes tabulares, que eram usadas pelos indígenas para se aquecerem e também para se comunicarem, por meio de batidas ritmadas.
No local da captação, uma pequena parte da água que desce da montanha é desviada para um reservatório e canalizada para a unidade. Mais abaixo, a mata fechada guarda um poço, rodeado por pedras. A recompensa do caminhante é o mergulho até a queda d’água, para sentir a força da cachoeira, dínamo que recarrega as energias para o caminho de volta.
Conheça mais sobre a Trilha d'Água neste vídeo. Ele é parte da série "Guia para se perder em Bertioga", na qual o historiador e guia de turismo Carlos Eduardo de Castro apresenta alguns dos lugares mais interessantes da cidade, revelando sempre a importância ambiental e sociocultural de cada um deles.