Postado em 17/09/2020
Há muito que dizer sobre isso, tanto que temos dúvidas sobre por onde começar. Então vamos seguir o caminho da história, dos acontecimentos. Houve proibição, luta, resistência e muitas conquistas. Mas ainda há quilômetros a serem percorridos e vitórias a serem alcançadas rumo à equidade de gênero. E graças ao pioneirismo de muitas mulheres herdamos um legado. Estamos falando de mulheres no esporte, um caminho que reproduz um cenário existente no cotidiano dentro e fora do âmbito esportivo.
Inicialmente apenas homens podiam praticar esportes e participar de eventos esportivos. Em determinada época da história, mulheres foram proibidas por lei. O processo histórico da inserção olímpica foi marcado por muita luta, gerando grandes episódios de reivindicação por direitos iguais e elegendo, num processo natural, grandes líderes que entraram para história, não apenas das olimpíadas, mas da atividade física, do esporte, da história da humanidade.
A primeira mulher brasileira a participar de uma edição dos Jogos Olímpicos foi a nadadora Maria Lenk em 1932, e o seu pioneirismo no esporte contribuiu para que outras nadadoras ganhassem visibilidade e passassem a ser valorizadas naquele momento como exemplos de saúde, beleza e graciosidade, numa sociedade patriarcal e conservadora, rompendo então valores de uma época que reservava às mulheres os papéis de mãe, esposa e dona de casa.
É importante destacar que as primeiras experiências de mulheres brasileiras nos esportes se deram em modalidades como a natação, ginástica, tênis, voleibol, equitação e esgrima, e isso aconteceu pois valorizavam a distinção, a graça, a beleza e a leveza natural dos movimentos, características que eram socialmente atribuídas às mulheres.
Desde o feito histórico de Maria Lenk outras brasileiras também deixaram seus nomes registrados na história e um legado para o esporte, sendo pioneiras em suas modalidades mas também ao enfrentar preconceitos, conquistar medalhas e títulos, ocupar espaços considerados apropriados apenas para homens, estabelecer e superar recordes e desafiar seus próprios limites.
Apesar de ter sido em 1932 a participação da primeira mulher brasileira em olimpíadas foi apenas nos Jogos Olímpicos de 1948 que tivemos uma atleta negra representando o Brasil, a corredora Melânia Luz dos Santos integrando a primeira equipe de atletismo feminino do país. Nas paralimpíadas as primeiras mulheres representantes brasileiras foram Maria Alvares (tênis de mesa e atletismo) e Beatriz Siqueira (natação e lawn-bowls – esporte semelhante a bocha) em 1976, 4 anos após a primeira participação do Brasil nos Jogos Paralimpicos.
Não podemos deixar de falar de Aída dos Santos, especialista em salto em altura e única mulher na delegação do Brasil nos Jogos de Tóquio em 1964, foi a primeira brasileira a disputar uma final olímpica conquistando o quarto lugar naquele ano, melhor resultado de uma mulher em Jogos Olímpicos até 1996, quando Jacqueline Silva e Sandra Pires, conquistaram a primeira medalha olímpica entre as mulheres e ocuparam o lugar mais alto do pódio com o ouro no vôlei de praia. Já a primeira medalha olímpica (bronze) em um esporte individual feminino foi conquistada por Ketleyn Quadros, judoca em Pequim (2008).
A primeira medalha paralímpica conquistada por uma mulher veio muito antes dos Jogos Olímpicos, em 1984, mesmo ano da conquista do primeiro ouro com Marcia Malsar, nos 200m rasos. No esporte paralímpico também ressaltamos Terezinha Guilhermina, que estará conosco em um bate-papo no dia 24/09 às 20h e é uma referência do atletismo paralímpico, dona de 8 medalhas em Jogos Paralímpicos (Atenas, 2004; Pequim, 2008, Londres, 2012 e Rio, 2016), sendo três delas de ouro.
Quando se trata de recordes trazemos Maria Esther Bueno, tenista, que aos 19 anos, em 1959, foi a primeira latino-americana campeã de Wimbledon em simples e considerada a número 1 do mundo em quatro temporadas (1959, 1960, 1964 e 1966); Amanda Nunes, a primeira mulher a ser campeã em duas categorias diferentes do Ultimate Fighting Championship, o UFC (peso-galo e peso-pena) em 2018 e a surfista Maya Gabeira, que entrou para o Guiness Book com o recorde mundial de maior onda já surfada por uma mulher (20,72 m) estabelecido em 2013 e esse ano bateu seu próprio recorde ao surfar uma onda de 22,4m, o equivalente a 7 andares de um prédio.
Quando a questão é romper com o paradigma de que alguns espaços só podiam ou podem ser ocupados por homens evidenciamos a coragem de Irenice Maria Rodrigues, meio fundista, que estabeleceu em 1967 o recorde sul americano nos 800m, prova que na época era considerada imprópria para as mulheres devido a exigência física (no Brasil, os primeiros recordes reconhecidos nas provas de 400m e 800m são de Irenice) e a história de Maria Helena Cardoso, que fez parte da geração vitoriosa do basquete feminino, conquistando o bronze no Mundial de 1971, em São Paulo e o primeiro ouro da história da modalidade no Pan-Americano de Cali (Colômbia), também em 1971. Como treinadora da Seleção Brasileira Feminina de Basquete, única mulher até hoje a ocupar essa função, foi campeã Pan Americana em 1991 e levou o grupo a primeira Olimpíada, em 1992.
Como podem notar, as mulheres no esporte representam uma vanguarda na luta por direitos, muito embora algumas, não tenham iniciado essa trajetória conscientemente. Elas desejavam treinar, jogar, exercer uma profissão assim como tantas mulheres em outras frentes o fizeram.
Além da luta pelo espaço, reconhecimento e respeito como atleta, as mulheres também buscam desempenhar outras funções dentro do esporte. Em cargos de comando esportivo por exemplo, ainda representam a minoria por mais que estejam ganhando espaço como treinadoras, auxiliares técnicas, árbitras, coordenadoras, diretoras, chefes e presidentes de órgãos da administração esportiva.
A inserção, ascensão e permanência destas mulheres no cargo de alto escalão, dependem da competência, muito estudo, boas escolhas e principalmente reconhecimento e oportunidades.
No início de setembro, acompanhamos mais uma grande conquista das mulheres no esporte, além da contratação das duas novas coordenadoras de futebol feminino da CBF – Confederação Brasileira de Futebol, Duda Luizelli e Aline Pellegrino, foi anunciada uma importante medida: a equiparação dos pagamentos feitos aos jogadores e às jogadoras das Seleções Brasileiras Principais. A decisão inédita concede às atletas que vestem a camisa da Seleção os mesmos valores de diárias e premiação pagas aos jogadores para períodos de preparação e jogos.
A discussão é ampla, e esse texto precisaria ter muitas páginas para citar os nomes e os legados de tantas mulheres que contribuíram para que a cada dia tenhamos mais equidade de gênero, podendo ocupar diferentes espaços nos esportes.
Dentro desse panorama, o Sesc Consolação, realiza entre os dias 19 a 27 de setembro, a 8ª edição da Semana Move trazendo como tema Mulheres no esporte: legados e conquistas. Ao longo da semana serão realizados encontros, bate papos e práticas com o protagonismo de mulheres de diferentes áreas. Veja abaixo a programação completa:
21/09, segunda, 20h
Mulheres no esporte: legados e conquistas
Com Ana Claudia Mayumi, Julia Barreira e mediação de Ciça Marrara
Ao vivo Instagram do Sesc Consolação
22/09, terça, 18h30
Movimento e Consciência: quadril
Com Aretuza Mattos (Sesc Consolação), Carol Toledo (Sesc Bom Retiro) e Fabiana Ignácio (Sesc 24 de Maio)
Ao vivo no Instagram do Sesc Consolação, Sesc Bom Retiro e Sesc 24 de Maio.
23/09, quarta, 9h
Hatha Yoga
Com Flávia Mattos (Sesc Consolação) e Vivian Shoji (Sesc Pompeia)
Ao vivo no Instagram do Sesc Consolação e Sesc Pompeia.
24/09, quinta, às 20h
CÍrCuLOS de conversas: Qual o legado das mulheres no esporte?
Com Jackie Silva, Terezinha Guilhermina, mediação de Mayra Siqueira e apresentação de Janaína Lima.
A vivo no YouTube e Facebook do Sesc Consolação com tradução em Libras
25/09, sexta, 18h30
Consolação.com Pinheiros – Futsal
Com Luciana Giannocoro (Sesc Consolação) e Renata Resende (Sesc Pinheiros)
Ao vivo no Instagram do Sesc Consolação e Sesc Pinheiros
Por Michelle Sales, educadora em atividades físico esportivas, e Janaína Lima, monitora de esportes, do Sesc Consolação.