Postado em 31/08/2020
A cultura brasileira compreende múltiplas e diversas manifestações artísticas de caráter popular – a arte naif é uma delas. O termo, que no passado remetia à produção dita de perfil “ingênuo” ou “espontâneo”, hoje se apresenta mais amplo, no cerne de práticas criativas complexas – e responde a questões sociais contemporâneas. Cada vez mais presente em museus e galerias, o trabalho desses artistas é, de antemão, legitimado por sua própria prática.
Projeto contínuo, voltado para o reconhecimento dessa produção, a Bienal Naïfs do Brasil chega à 15ª edição (veja algumas das obras premiadas neste ano em nossa galeria) revigorada pela conexão em rede. As inscrições online, no final do ano passado, permitiram um maior alcance ao território nacional e representatividade. Realizada anualmente de 1986 a 1991 no Sesc Piracicaba e, desde 1992, em formato bienal, a mostra este ano tem curadoria de Ana Avelar e Renata Felinto, e leva o título Ideias para Adiar o Fim da Arte, uma referência direta a reflexões dos pensadores Ailton Krenak e Arthur Danto.
Grafismos, pinturas corporais e símbolos mitológicos se harmonizam no trabalho de Sãnipã, uma das artistas selecionadas para a Bienal. Nascida em 1979, é a primeira indígena da etnia Apurinã a se profissionalizar nas artes visuais, no ano de 2005. “Mostro, através da minha obra, a exposição de uma cultura desconhecida e uma estética que é original do meu povo. Não resgato a memória, eu trago a vida dos povos indígenas”, diz. Isolada no interior do Amazonas, por conta da Covid-19, a declaração de Sãnipã ocorreu com a intermediação do jornalista Carlysson Bastos Sena.
Shila Joaquim, pintora naïf nascida em Ribeirão Preto e residente em São Mateus (ES), também integra a seleção de artistas participantes. Ela destaca a popularização das redes sociais e a articulação dos criadores para produzir eventos independentes e explorar outros meios de comercializar sua produção. “A diversidade se abriu a outros temas que contribuem para uma nova postura dos artistas”, observa.
Passado e presente em programação e acervo virtual
A 15ª edição da Bienal Naïfs do Brasil, que abriria ao público no mês de agosto no Sesc Piracicaba, teve a visitação presencial adiada em razão da pandemia. Mas ações online conectam passado e presente da mostra. Nesta edição, foram 980 obras inscritas de 530 artistas – de 19 a 87 anos de idade – dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal. Ainda no ambiente virtual, é possível visitar o acervo e catálogos de mostras anteriores. Saiba mais em: www.sescsp.org.br/bienalnaifs.
Dia a dia de Finoca | Zila Abreu (Bordado livre)
Vazante | Eri Alves (Crochê)
Manto tropeiro: um breve olhar do caminho das tropas | Angeles Paredes e Carmem Kuntz (Desenho, aquarela e bordado livre)
Jandira #33 | Hellen Audrey (Renda nhanduti, crochê e macramê)
Alma da estrada | Thiago Nevs (Pintura/objeto)
Brincantes do imaginário | Valdeck de Garanhuns (Escultura)
Em busca de uma liberdade que ainda não raiou | Con Silva (Acrílica sobre tela)
Esperança em pedaços | Chavonga (Acrílica sobre tela)
Comadre Fulosinha dá a luz depois de degolar o caçador que a engravidou | Eriba Chagas (Óleo sobre tela)
É óleo no mar... | Alcides Peixe (Acrílica sobre chapa de raio-X e elementos em plástico e madeira)
Gorda | Soupixo (Matriz de xilogravura)
O renascimento de Luzia | Paulo Mattos (Acrílica sobre madeira) | Foto: Paulo Parra Munhoz
Totem Apurinã Kamadeni | Sãnipã (Instalação) | Foto: Roumen Koynov