Postado em 14/08/2020
Por Maria Angélica Àse*
Vamos a um exercício rápido: pense no nome de cinco países europeus e suas capitais. Agora pense no nome de cinco países africanos e suas capitais.
Provavelmente você teve mais dificuldades em lembrar (ou não lembrou) de algum país do continente África, certo? Este é justamente o perigo de uma única ou poucas perspectivas para se contar histórias e construir referências.
Isso nos faz refletir sobre como se dão as representações da cultura negra nas disciplinas escolares. Como os negros são apresentados, sua origem, sua participação na construção da sociedade brasileira, como as lutas do povo negro são descritas, quem são os grandes nomes negros da nossa história?
Ao discutirmos a importância da educação antirracismo no contexto de educação formal e não-formal estamos falando sobre contar histórias dos povos em múltiplas perspectivas. Isso tem relação direta com a construção da autoestima das crianças negras, sobretudo, e das não-negras, a partir de referenciais e identidades com sentimentos de valorização sobre a negritude. Além disso, garantimos direitos às crianças e jovens de conhecer suas origens, independentemente da cor da pele.
A lei nº 11.645/2008, que tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena no currículo escolar nacional, trouxe à discussão a mudança de abordagem das escolas ao reconsiderar e rever conteúdos, livros didáticos, datas comemorativas, grandes personalidades e eventos históricos. Porém, somente a lei não bastou, pois as questões que envolvem o racismo são bem mais profundas e as relações étnico-raciais são fundamentais para a manutenção da profunda desigualdade do atual sistema econômico brasileiro.
Ao refletir sobre a condição histórica da população negra no Brasil, desde a diáspora africana, ocasionada pelos processos coloniais, até hoje, com a exploração de empregadas domésticas, trabalhadores informais, entregadores de comida por aplicativo, como exemplo, vemos que pouco mudou.
Assim, os espaços educativos, sejam formais, não-formais ou populares, ainda são os melhores lugares de discussão, de reflexão e de enfrentamento, a fim de construirmos de maneira coletiva uma educação antirracista baseada na pluralidade dos sujeitos, no respeito às suas origens e ancestralidades e da formação de sua identidade.
Quando olharmos para estratégias, ações e proposições educativas nos espaços culturais, educativos e sociais, de maneira cuidadosa, crítica e considerando as relações étnico-raciais e territoriais, veremos que ainda temos um longo caminho pela frente, mas o primeiro passo deve ser dado para que as crianças e os jovens tenham acessos e oportunidades iguais e possam ter garantidos seus direitos enquanto cidadãos.
Um bate-papo realizado pelo Sesc Sorocaba no dia 01/07/20, em formato de roda de conversa virtual, é mais um convite a refletirmos sobre as questões raciais e como podemos construir juntos uma educação antirracismo. Assista:
*Maria Angélica Àse é inventora e pesquisadora de jogos de tabuleiro com temática afrobrasileiras e indígenas. Especialista em Jogos e brincadeiras afrobrasileiras e africanas pela UFSCar - Educação Física Escolar. Brincante e educadora de crianças e jovens. É educadora do Sesc Sorocaba.
Este artigo faz parte de uma série de ações realizadas pelo Sesc Sorocaba dentro do Iorubrá, projeto que potencializa e valoriza as culturas negras. Leia também o manifesto escrito por funcionários da unidade.