Postado em 22/07/2020
Por Thaís Fero, editora web do Sesc Itaquera
Todo o dia de manhã, tenho que repassar mentalmente tudo que está acontecendo: a pandemia, o distanciamento, o trabalho a distância, o álcool em gel, a máscara e por aí vai. Enquanto preparo o café, leio as notícias. Todos os dias números, gráficos e estatísticas estão lá e não me deixam esquecer. No entanto, cada numeral frio não expressa as histórias que foram abreviadas, famílias e amigos em luto. A tristeza por esses rostos anônimos é um exercício de empatia que se tornou diário. Respiro fundo e assim me preparo para mais um dia.
Para quem não me conhece, eu sou a pessoa que andava pelo Sesc Itaquera com uma máquina fotográfica pendurada no pescoço. Algumas pessoas me chamavam de “a fotógrafa”. O cargo oficial é Editora Web. Meu trabalho é escrever, filmar, editar, fotografar, postar nas redes sociais, conversar com o público do Sesc por meio da internet e, se necessário, fazer tudo isso junto e ao mesmo tempo. Desde que as unidades fecharam, meu trabalhou mudou muito. Não saio andando pela unidade com o equipamento a tiracolo. A programação por enquanto é toda digital.
Logo depois do café e de ajeitar a casa, começo a trabalhar. Na tela do computador aparecem textos, fotos e vídeos produzidos com diversas preocupações: Como as pessoas estão hoje? Do que elas precisam? O que podemos oferecer para dar alguma forma de conforto durante este momento? Do que elas sentem falta?
Outros tantos questionamentos passam pela minha cabeça: Como será que está aquela idosa que sempre estacionava o carro ao lado do meu? Todo os dias ela me dava um bom dia muito animado e ia para aula de Ginástica Multifuncional. Será que ela está acompanhando nossas aulas online? Será que ela está fazendo exercícios em casa? Lembro também da menina que participa do Curumim e que me chamava de tia e corria para me dar um abraço. Ela sempre me contava que o Sesc era a segunda casa dela. Será que ela está conseguindo brincar e estudar neste período?
Recordo constantemente também de uma moça que mandou uma mensagem no Facebook falando que a mãe estava muito doente e não queria sair de casa, a única exceção era para tomar uma café e comer um bolo no Sesc Itaquera. Será que elas estão bem? São tantos rostos que passam pela unidade para praticar exercícios, assistir a peças e shows, aproveitar a piscina, brincar, comer ou apenas descansar.
Como podemos levar um pedaço do Sesc Itaquera em sua versão digital para essas pessoas? Essa tem sido minha preocupação e dos meus colegas de trabalho nos últimos meses. Diversas reuniões, planejamentos e projetos foram feitos com o intuito de transportar nossas atividades para a casa de cada um.
Uma pausa para o café da tarde...
De volta à mesa de trabalho, me debruço novamente nos vídeos, fotos e textos.
A comunicação tem uma teoria bem básica: um emissor envia uma mensagem para um receptor, usando um código e um canal de comunicação. Nesse caminho, aparentemente simples, muitos tropeços podem acontecer. A palavra e as imagens percorrem trajetórias que geram mal-entendidos, ambiguidades e reações negativas. Nessa caminhada até o conteúdo mais simples pode ser prejudicado. Por isso, cada frase é pensada e repensada para que as ideias cheguem até o público da melhor forma possível.
Ser Editora Web é checar as redes sociais diversas vezes ao dia para ver como as pessoas estão reagindo aos posts, tentando avaliar o que deu certo e o que podia ter sido melhor. E, no fim do dia, todo esse conteúdo se transforma em números, gráficos e estatísticas. A tentação por obter apenas bons resultados é grande. Contudo, assim como faço todas as manhãs ao ler as notícias, não posso esquecer que atrás desses numerais existem pessoas. Os resultados de alcance e engajamento são importantes, mas cada curtida esconde uma história.
Acabou mais um dia de expediente em casa. Antes de encerrar, me lembro que o Sesc é feito de pessoas e, neste momento, nossos esforços estão concentrados para que o acolhimento da unidade esteja presente também no ambiente virtual.
Nada substitui a experiência de passear por aquela área verde lindíssima ou a vibração de cantar na beira do palco a música do artista favorito ou ainda a emoção de escorregar pelo toboágua pela primeira vez. Assim como eu também não acredito que reunião virtual com os amigos e com a família substitua aquele encontro semanal para colocar o papo em dia. O mundo online pode nos aproximar, nos proporcionar experiências novas e significativas e nos permite abraçar o público mesmo que seja apenas a distância.