Postado em 01/05/2020
“No prazer de representar eu me esqueço. Eu me entrego a esse sentimento por todos os tempos do homem
- das cavernas, do futuro... Tô no eterno, fora de qualquer tempo (…) Porque nós somos semelhantes aos
deuses, então me torno divino também. Estou na dança do surfe, dançando como uma molécula de Deus.”
Antunes Filho, retratado em trecho da série O teatro segundo Antunes Filho
O diretor Antunes Filho pedia a seus atores em cena uma entrega profunda - capaz de atravessar tempo e espaço - a mesma que ele buscou oferecer ao seu trabalho de criação durante toda a vida.
O encenador abandonou o tempo dos homens em definitivo no dia 2 de maio de 2019, depois de mais de 60 anos de dedicação às artes cênicas, dos quais 37 à frente do CPT - Centro de Pesquisa Teatral do Sesc. Autor de um teatro que versa sobre o ser humano e as angústias vividas pela humanidade, guiou sua criação durante toda sua trajetória por um desejo de fazer refletir e transformar. "Chega desse negócio das pessoas assistirem a uma peça e simplesmente ir comer pizza depois”, disse certa vez.
Agora, um ano após a morte de Antunes Filho, o Sesc São Paulo homenageia sua vida e obra em uma mostra de espéculos e depoimentos, disponível na plataforma Sesc Digital a partir de hoje, 2 de maio /2020.
Ariano Suassuna e Antunes Filho na estreia da peça A Pedra do Reino, em 2006.
Na programação da mostra estão diversos espetáculos, na íntegra ou em trechos, que dão pistas da inventividade e genialidade de Antunes Filho, dentre os quais A Pedra do Reino (2006), inspirado em obras de Ariano Suassuna; Foi Carmen (2008), em que uniu de forma surpreendente referências à dança japonesa butô e à cantora Carmen Miranda; Toda nudez será castigada (2012), remontagem do espetáculo que celebrou os 30 anos do CPT e o centenário de Nelson Rodrigues, e Blanche (2016), inspirado no dramaturgo norte-americano Tennessee Williams, falado na lígua imaginária fonemol.
Somam-se às peças os seis episódios da série O teatro segundo Antunes Filho, co-produção do SescTV, além de um conjunto de depoimentos inéditos e cheios de saudades de atores, atrizes e personalidades que acompanharam a trajetória desse diretor - que foi tão admirado quanto temido e amado.
“Ao homenagear Antunes Filho, convidamos o público a entrar em seu universo de criações, experimentações e parcerias, onde a verve do fazer teatral anuncia a potência da arte como força transformadora, capaz de inspirar a formação de artistas, de públicos e de cidadãos. Que seu legado se mantenha instigante e inquietante, como Antunes Filho sempre foi”, aponta Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc em São Paulo.
A Mostra, em cartaz no Sesc Digital, seguirá sendo atualizada, com novos itens do acervo do Sesc. Acesse gratuitamente, de onde estiver, em sescsp.org.br/sescdigital