Postado em 24/04/2020
Desde o início da quarentena, por conta da COVID-19, as unidades do Sesc SP têm intensificado suas ações na internet com conteúdos diversos. A equipe de educadores do Sesc Consolação, cada um em suas respectivas áreas, produziu uma série de vídeos para quem está em casa, porém mantendo-se ativo.
No dia 2 de abril, o Sesc Consolação divulgou nas redes o vídeo da música “A rosa também se muda”, de autor desconhecido, onde os educadores do Centro de Música Bob Souza, Pedro Beviláqua, Sheila Muharovschi e Solange Assumpção interpretam este baião de tradição popular nordestina.
A rosa também se muda
do campo para o deserto
de longe também se ama
quem não pode amar de perto
Se ela muda
não se pode imaginar
Imagina, tinha medo,
quem tem medo não vai lá
Se numa lógica
amanhã também tem dia
ergue o corpo, feche os braços
pra ser minha companhia.
Cada um, de sua casa, tocou e cantou, formando uma banda virtual. A ideia foi estimular a produção musical em casa e com outras pessoas, mesmo que a distância, inspirados num princípio fundamental do Centro de Música do Sesc: a prática musical conjunta. A ação teve um efeito positivo nas redes – alunos e ex-alunos puderam matar as saudades da unidade e dos educadores; mesmo quem não os conhecia pôde entrar em contato com nosso trabalho em educação musical.
Acesse aqui a partitura
O segundo passo dessa produção em conjunto foi a elaboração de cinco vídeos detalhando algum aspecto musical de “A rosa também se muda”, feitos pelos educadores do Centro de Música e também por Mauricio Perez, educador do Espaço de Tecnologias e Artes e responsável pela edição e mixagem do vídeo. Conheça aqui seus vídeos:
A educação musical considera o canto, a voz e o corpo como fundamentais no aprendizado. Tomando como referência a primeira parte da melodia de “A rosa também se muda”, Solange apresenta uma ferramenta pedagógica para se aprender uma melodia: o manossolfa, que colabora na internalização das alturas, auxiliando no desenvolvimento da percepção musical, e que pode também ser utilizado para cantar a mais de uma voz, colaborando com a percepção harmônica.
O manossolfa é a forma gestual das mãos de indicar as funções melódicas e/ou alturas por relação intervalar entre as notas
Pedro explica alguns conceitos básicos de teoria rítmica, como unidade de tempo, divisão (contratempo), subdivisão e compasso – e como, a partir desses conceitos, entender as funções da zabumba e do triângulo no baião, gênero musical originário da região Nordeste do Brasil.
Você sabia que existem diferentes formas de tocar um acompanhamento ao violão? Bob detalha como acompanhar ao violão “A rosa também se muda” com diferentes usos de acordes e dedilhados. Ele demonstra possíveis usos de acordes naturais e com sexta e nona – neste caso, formados com o uso de pestanas. Bob também sugere, como acompanhamento da mão direita (para destros), tipos diferentes de batidas, como o rasqueado e, também puxando as cordas simultaneamente, semelhante à batida da bossa nova.
Sheila mostra que o corpo é nosso primeiro instrumento musical e fonte inesgotável de possibilidades sonoras, seja cantando uma melodia, seja reproduzindo ritmos ao bater palmas, pés, ou emitindo sons diversos com a boca. Em várias culturas a percussão corporal é utilizada em danças, rituais e como forma de identidade. A educadora estimula a exploração deste universo sonoro tão rico e ao mesmo tempo acessível, brincando e experimentando novas possibilidades. Ela ainda apresenta a célula rítmica característica do baião, presente na canção trabalhada pelo grupo de educadores, oferecendo a chance de o público experimentar novos sons.
As ferramentas digitais estão presentes em nossa vida como nunca. E, em tempos de isolamento social, muitas das atividades que antes eram realizadas em grupos reunidos presencialmente, como conversas informais, reuniões, além de fazer e ouvir música, tiveram que ser reformuladas à serviço de um bem comum.
Para finalizar a série de vídeos sobre “A rosa também se muda”, o educador de tecnologias e artes e músico Maurício demonstra o processo de criação utilizando softwares livre de edição de áudio e vídeo, mostrando que mesmo distantes ainda podemos continuar a fazer música coletivamente. Este tipo de composição musical sobreposta está baseado em uma prática comum utilizada em estúdios de produção sonora desde a década de 60, quando ainda gravava-se em fitas magnéticas, e baseia-se na junção de camadas de trilhas de áudios e, no caso, também de vídeos. Esta prática de sobreposição de camadas é também chamada overdub.
Solange Assumpção é educadora musical e regente coral. Mestre em Música pela UNESP, desenvolvendo pesquisa sobre o Canto Coral na Educação Musical, sob a orientação de Martha Herr; estudos de Regência com Abel Rocha e Naomi Munakata. Certificada em Somatic Voicework (níveis 1, 2 e 3). Em 2017, participou do 11 th Symposium on Choral Music em Barcelona. Foi professora da EMESP e da FASCS. Desde 2002, é membro da equipe de educadores do Centro de Música do Sesc. Conduz o Grupo Madrigueiros desde a sua criação em 2010.
Pedro Beviláqua iniciou-se na Escola Municipal de Música de São Paulo e é bacharel pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (IA-UNESP). Foi primeiro violoncelo da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo, Orquestra de Câmara da USP e Orquestra Arte Barroca. Hoje desenvolve a música popular no violoncelo com o grupo Cello Choro. Como educador musical, atuou no Projeto GURI e nas escolas Rudolf Steiner e Manacá. Desde 2014, leciona música para crianças e adultos no Centro de Música do Sesc Consolação.
Bob Souza é doutor em Musicologia e Interdisciplinaridade pela Unesp, mestre em Educação Arte e História da Cultura pelo Mackenzie, especialista em Estruturação Musical pela Faculdade de Música Carlos Gomes e bacharel em contrabaixo acústico pelo Centro Universitário FIAM-FAAM, com curso de extensão em Jazz e improvisação pela Universidade de Louisville (KY). É autor do livro “A canção infantil urbana, dos processos criativos à sala de aula”. Atualmente é professor do Centro de Música do Sesc Consolação e do Centro Universitário FMU-FIAM-FAAM.
Sheila de Souza Ferreira Murahovschi é educadora Musical Licenciada em Música pela Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP. Formação em Terapia Corporal pelo Instituto Neo-Reichiano Lumen. Integra a equipe do Centro de Música do Sesc Consolação desde 1998 nas áreas de voz e Musicalização, foi preparadora vocal do elenco do Centro de Pesquisa Teatral – CPT, dirigido por Antunes Filho. Compositora de obras no Manual “Canto, Canção, Cantoria” de Gisele Cruz Sesc (1997). Integra os Grupos Vocais “La Once” (Octeto Vocal Feminino), Rock’N’Voice (Sexteto Vocal) e Cantadeiras como Regente e Voz.
Maurício Perez é mestre e doutorando em Sonologia: criação e produção sonora pelo programa de pós-graduação em música da ECA-USP. Desenvolve pesquisa com temática sobre o uso de interfaces na composição musical contemporânea. É educador do Espaço de Tecnologias e Artes e do Estúdio de Produção Sonora do Centro de Música do Sesc Consolação. Ministra cursos e laboratórios envolvendo o uso de tecnologias analógicas e digitais na criação musical.