Postado em 13/04/2020
Seguindo as medidas de segurança durante a crise da Covid-19, o CineSesc está com sua programação presencial temporariamente suspensa.
Mas para continuarmos conectados com o melhor do cinema, listamos dez títulos que estão disponíveis em diversas plataformas de streaming para você ver, rever e indicar aos amigos.
A começar pelos serviços gratuitos que estão disponíveis para assistir, indicamos a Spcine Play e o Belas Artes À La Carte (este com conteúdo aberto somente até o dia 29 de abril) e o Festival É Tudo Verdade, que adiou sua edição presencial para setembro, mas manteve sua programação online que pode ser gratuitamente assistida nas plataformas parceiras. E a lista de indicações contemplou também filmes dos serviços pagos como a Netflix e a Amazon (cujo primeiro mês de assinatura é gratuito).
Faça a sua listinha e aproveite!
1. UMA MULHER É UMA MULHER
Belas Artes À La Carte
De todas as fases da carreira do grande Jean-Luc Godard, sem dúvida a primeira, do início da nouvelle vague francesa, rendeu os filmes mais leves e divertidos. E entre estes, o mais divertido de todos é Uma Mulher é uma Mulher, seu terceiro longa, um libelo feminista rodado em 1961 - até onde, claro, um libelo feminista podia ser rodado por um homem.
A história é simples: Angela (Anna Karina, musa e companheira de Godard na época) quer muito ter um filho e decide que vai conseguir isso em 24 horas. Mas seu namorado, Émile, não está com tanta pressa. Pra completar o triângulo amoroso típico dos bons filmes franceses, Alfred, amigo de Émile, tem um crush antigo por Angela e num dado momento se oferece para ajudá-la na tarefa. O que poderia ser um dramalhão vira nas mãos de Godard uma comédia deliciosa com diálogos inteligentes e alguns números musicais dignos de Hollywood.
A melhor notícia: o filme está disponível gratuitamente na plataforma do Belas Artes, que abriu todo o seu conteúdo para não assinantes até dia 29 de abril por conta da crise do coronavírus.
2. WOMEN MAKE FILMS: UM NOVO ROAD MOVIE ATRAVÉS DO CINEMA
Festival É Tudo Verdade
O documentário, na verdade uma série de 14 horas, traça um painel do trabalho de cineastas mulheres que ajudaram a construir a história do cinema. Dirigida por Mark Cousins, a série não segue um roteiro cronológico, mas traz perfis de diretoras e de seus filmes, além de ser narrada por nomes como Tilda Swinton, Jane Fonda, Thandie Newton, Kerry Fox, Debra Winger e Sharmila Tagore e Adjoa Andoh.
Como o diretor afirma, o cineasta é mais uma voz na revolução e o filme é um agente de afirmação e devoção às nossas ancestrais do cinema. Ao longo dos episódios, mais de mil trechos de filmes são exibidos e ilustram o passeio pelo trabalho de 183 diretoras e por diversos aspectos do cinema. Women Make Film é uma longa jornada pelo trabalho de grandes diretoras e seus ofícios, da criação de diálogos aos gêneros cinematográficos, passando pela montagem, estilos e forma com que retratam os corpos, o sexo e temas como política, religião, trabalho, sociedade, além do amor, morte, música, dança, entre outros. Imperdível para quem quer descobrir ou revisitar o legado de grandes mestras do cinema.
3. OKJA
Netflix
Gostou de Parasita, o filme coreano que venceu o Oscar de melhor filme este ano? Pois o filme anterior do diretor, Okja, pode ser visto na Netflix. Uma mistura maluca de aventura e ficção científica com momentos de drama, é a história de Mija, uma garotinha que cria por dez anos um porco gigante nunca visto antes.
O que ela não sabe é que esse porco, Okja, foi o resultado de um experimento científico feito por uma multinacional dos alimentos - e a toda-poderosa desse conglomerado (Tilda Swinton) manda capturar Okja e levá-lo para Nova York. Mia vai atrás pra defender seu "pet" e no caminho enfrenta executivos capitalistas, consumidores, ativistas e tudo o mais para salvar a vida do porcão. Outra opção do diretor na plataforma é O Hospedeiro (2006), igualmente interessante tanto pela abordagem extraordinária da narrativa quanto pelo tema sempre político de seus filmes.
4. O BOTÃO DE PÉROLA
Gratuito no Spcine Play
Um dos documentaristas mais respeitados do mundo, Patricio Guzmán é dono de uma obra autoral e, ao mesmo tempo, comprometida com as questões políticas e sociais de seu tempo. Nos anos 1970, filmou a trilogia A Batalha do Chile, que registrou a agitação social e política do Chile antes e logo após o golpe militar que derrubou o presidente Salvador Allende. Não por acaso, a obra ocupa o 19. lugar na lista dos 100 melhores documentários do mundo. Em 2010, 35 anos depois do primeiro episódio de A Batalha do Chile, o diretor iniciou uma nova trilogia e se voltou ao tema dos crimes e dos desaparecidos da ditadura de Augusto Pinochet com Nostalgia da Luz (que conquistou o 12o lugar da mesma lista dos 100 melhores documentários da história).
Cinco anos depois, nascia O Botão de Pérola. Complementar a Nostalgia, o longa investiga as raízes da brutalidade colonialista que formou a América Latina e que também deu o tom às atrocidades cometidas durante as ditaduras no continente. Guzman constrói um ensaio visual deslumbrante, narrado com delicadeza e calma pelo próprio cineasta, e, com liberdade poética e criativa, nos faz viajar pela história e pelas grandes questões humanas.
5. MILES DAVIS: BIRTH OF COOL
Netflix
Este não é nem o primeiro e certamente não será o último filme sobre um dos maiores gênios da história da música. No entanto, Miles Davis: Birth of Cool é certamente um dos mais notáveis tanto por sua ética quanto estética. Uma das opções formais que contribuem muito para a qualidade da narrativa é o fato de que o filme traz declarações do trompetista em off extraídas de sua biografia, narradas pelo ator Carl Lumbly, que, ao imitar a voz rouca típica do trompetista, nos causa a sensação de ouvir de fato o próprio músico fazer declarações íntimas e importantes sobre sua vida, seu trabalho e seus relacionamentos.
Essas intervenções de Davis são entrecortadas com entrevistas de músicos, amigos de infância, filhos, ex-mulheres, historiadores, entre outros nomes, tais como Quincy Jones, Herbie Hancock, Carlos Santana, Ron Carter, Frances Taylor Davis.
Já uma importante opção ética é que o longa, dirigido por Stanley Nelson, refaz a trajetória do músico, reverencia seu talento único, mas não deixa de dar voz às mulheres que sofreram com o temperamento intempestivo e muitas vezes violento de Davis. Ao contrário de tantas cinebiografias que só revelam um único lado mitificado de seu personagem, Birth of the Cool humaniza Davis e, muito por isso, faz com que o espectador entenda melhor a obra do trompetista que revolucionou o jazz. Para isso, o diretor traça sua trajetória desde a infância próspera, mas não livre do racismo, a juventude, os estudos e sua vida profissional, desde o início da carreira nos anos 1940, os seus anos de bebop, a efervescente década de 1960, a revolução dos costumes, além de suas incursões pela música experimental e até mesmo sua dependência química em heroína.
Ao final, quem é apaixonado por Davis e sua música, termina o amando mais ainda. Já quem conhece pouco, aprende que sua obra vai muito além da trilha sonora de Ascensor para o Cadafalso, obra-prima de Louis Malle que não seria a mesma sem o trompete de Davis acompanhando Jeanne Moreau pelas ruas de Paris. É filme para ver, rever e ouvir.
6. AURORA
Belas Artes À La Carte
A plataforma de streaming do Belas Artes tem muitos clássicos incontornáveis. Mas talvez nenhum seja tão fundamental quanto Aurora, um filme mudo e preto-e-branco rodado pelo mestre alemão Friedrich Murnau assim que chegou em Hollywood, em 1927. Basta dizer que, na lista dos melhores filmes de todos os tempos do British Film Institute (BFI), Aurora aparece em quinto lugar - à frente do 2001 - Uma Odisseia no Espaço de Stanley Kubrick.
Um fazendeiro humilde que mora na beira de um lago deixa-se seduzir por uma mulher da cidade grande em visita ao local, e é convencido por ela a matar sua mulher por afogamento. Nada sai como planejado, e o casal original vai parar na cidade grande, cheia de luzes e carrosséis, em alguns dos maiores cenários construídos em estúdio na época. Curiosidade: Aurora ganhou um prêmio especial (de "melhor filme artístico") na primeira cerimônia do Oscar, em 1929 - e Janet Gaynor venceu a primeira estatueta de melhor atriz.
7. O CASO DO HOMEM ERRADO
Gratuito no Spcine Play
“Esta história é a mais pura verdade, embora retrate as maiores mentiras”, assim a diretora Camila de Moraes resume um episódio que, de tão surreal, surpreende a quem assiste seu primeiro longa-metragem O Caso do Homem Errado. Foi com este nome que ficou conhecido em todo o Brasil, mas principalmente no Rio Grande do Sul, o caso de Júlio César de Mello Pinto, que teve o azar de estar no lugar errado no momento errado e, pior, viver em um país em que o racismo contamina as ações do Estado, e, consequentemente, da polícia.
O incidente ocorreu em 1987 em Porto Alegre. Um assalto acabara de ocorrer em um mercado da capital gaúcha e, Júlio César, como tantas outras pessoas, observava, curioso, a movimentação. De repente, ele, que era epilético, teve uma crise, caiu no chão e foi erroneamente apontado por populares como um dos assaltantes. Levado pela polícia somente com um ferimento na cabeça por conta da queda durante a crise, pouco tempo depois daria entrada no hospital e morreria, vítima de dois tiros. É a trajetória entre o momento em que foi levado, sua execução e sua morte que refaz a diretora. Não somente ela reconta, por meio de depoimentos de jornalistas, pessoas presentes no local, o ocorrido como também percorre a história do racismo estrutural brasileiro. São também depoimentos de especialistas, amigos e familiares de Júlio César que contribuem para o retrato duro, mas contundente, que o filme faz de uma sociedade racista e de um Estado que falha na tarefa de assegurar os direitos de todos seus cidadãos.
Extremamente atual, haja vista o triste dado de que no Brasil, a cada 23 minutos um jovem negro é exterminado, O Caso do Homem Errado é um filme necessário e ainda detém a importante marca de ser o segundo longa brasileiro dirigido por uma cineasta negra brasileira a estrear em circuito comercial no país. Antes, o documentário foi exibido no Festival de Cinema de Gramado em 2017 e foi eleito o melhor filme do Festival Internacional de Cine Latino, em Punta Del Este, no Uruguai.
8. CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS
Embaúba Filmes (ao entrar na tela de pagamento, usar o código promocional "embauba")
Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos é um filme raro por vários motivos. Rodado em 16mm, o longa mescla a linguagem documental e a da ficção para contar a história de Ihjãc, um jovem krahô de 15 anos que vive em uma aldeia indígena no norte do Brasil. Desde que perdeu o pai, tem tido pesadelos constantes e se recusa a seguir os passos dele e se tornar também um xamã. Muito por isso, apesar de respeitar os milenares conhecimentos xamãs de seu povo, parte para a cidade em busca de um tratamento em um hospital. É a partir daí que as diferenças culturais e sociais, mas também a interação entre os krahô e a sociedade urbana, ganham destaque.
A narrativa nunca se rende ao exotismo e nem à romantização, mas constrói a subjetividade de Ihjãc com paciência e uma câmera que observa, quase ao estilo do cinema documental direto, sempre muito próxima a seu protagonista. Por meio de seu drama, entramos no universo indígena sob uma perspectiva nova e, transformadora.
Dirigido pelo português João Salaviza e pela brasileira Renée Nader Messora, que conviveu com os krahô por diversos anos, o longa recebeu o prêmio especial do Júri no Festival de Cannes 2018 com sua narrativa sóbria e bela. O filme participou de mais de 50 festivais pelo mundo e recebeu mais de uma dezena de prêmios.
9. INFERNINHO
Embaúba Filmes (ao entrar na tela de pagamento, usar o código promocional "embauba")
Em algum lugar perdido no Brasil, o Inferninho é um pequeno bar que serve de refúgio aos sonhos e fantasias de personagens fascinantes: Deusimar, a dona do lugar que sonha em viajar o mundo; Jarbas, o marinheiro que chega e se apaixona por ela; Luiziane, cantora desafinada que dá canja por lá todas as noites; e um inusitado Coelho falante.
O filme lança um olhar doce e sensível sobre esses personagens que só querem sonhar, amar e beber um pouquinho para esquecer os problemas. Vinda do Ceará, esta grande surpresa do circuito em 2019 é dirigida por Guto Parente e Pedro Diógenes, do coletivo artístico Alumbramento, e ganhou inúmeros prêmios em festivais voltados à diversidade sexual.
10. MORTE EM VENEZA
Belas Artes À La Carte
O Belas Artes também disponibiliza de graça um dos maiores clássicos do mestre italiano Luchino Visconti. Morte em Veneza (1971) é um dos maiores filmes já feitos sobre a decadência do homem e sua melancolia diante do fim. Baseado num livro do alemão Thomas Mann, conta a história de um compositor (o maravilhoso Dirk Bogarde) que viaja a Veneza para passar seus últimos dias. Ele acaba se encantando por Tadzio, um garoto polonês que é para ele a encarnação da beleza e da juventude.
Uma curiosidade em tempos de coronavírus: o filme se passa no início do século 20, quando a cidade italiana está tomada por uma epidemia de cólera, e as autoridades escondem a informação dos turistas com medo de uma fuga em massa. Uma verdadeira lição para os dias de hoje...
E MAIS: FILMOGRAFIAS DE DIRETORES
Como são inúmeras as opções, fica difícil elencar todos os filmes disponíveis na web que valem à pena serem assistidos. Por isso, a gente ainda abre espaço para a indicação de algumas importantes filmografias, para aqueles que querem mergulhar na obra de um outro diretor.
FILMES DE WOODY ALLEN
Amazon Prime Video (gratuito no primeiro mês)
Em 2016, a Amazon produziu a primeira série da carreira de Woody Allen, Crise em seis cenas. No ano seguinte, sua filha Dylan voltou a acusá-lo de abuso sexual, num episódio que teria ocorrido quando ela tinha apenas sete anos. A polêmica voltou forte, a comunidade cinematográfica se voltou contra o diretor, e um contrato de longo prazo com a plataforma de streaming foi cancelado. O último fruto da parceria, Um dia de chuva em Nova York, acabou sendo lançado tempos mais tarde nos cinemas, mas não no streaming.
Ainda assim, a plataforma tem em seu catálogo sete filmes mais recentes do diretor, para quem deseja apreciar seu trabalho. Os de maior destaque são Blue Jasmine (2013), que deu a Cate Blanchett o Oscar de melhor atriz; e Tudo Pode Dar Certo (2009), com o genial comediante Larry David vivendo o alter ego do cineasta. Mas também é possível rever o aclamado Meia-noite em Paris (2011), Magia ao Luar (2014), O Sonho de Cassandra (2008) e um ótimo documentário sobre a carreira do diretor, Woody Allen - Um Documentário (2011).
FILMES DE HECTOR BABENCO
Gratuito na Spcine Play
Além de seu catálogo dedicado a produções recentes, a Spcine Play, traz uma seleção de longas de grandes diretores. A filmografia de Hector Babenco ganha destaque com oito títulos: O Rei da Noite, Lúcio Flavio – Passageiro da Agonia, Pixote, O Beijo da Mulher-Aranha, Coração Iluminado, Carandiru, Brincando nos Campos do Senhor e Meu Amigo Hindu.
É uma chance rara de conhecer desde O Rei da Noite, o primeiro longa do diretor nascido na argentina mas que escolheu o Brasil para viver e para fazer cinema, até seu último filme, Meu Amigo Hindu, em que o cineasta constrói uma narrativa ficcional para tratar de histórias que viveu, do tratamento contra o câncer até episódios que envolvem sua vida privada, suas memórias de infância e seu processo criativo.
As memórias, sua vida e a descoberta do primeiro amor também são o motor de Coração Iluminado, um dos filmes mais líricos de Babenco, que o concebeu quando se tratava do câncer. Já Pixote, Lúcio Flávio e Carandiru trazem o olhar sempre atento do cineasta para as questões sociais e os personagens excluídos da sociedade brasileira. As produções O Beijo da Mulher-Aranha e Brincando nos Campos do Senhor revelam a força criativa do diretor em projetos internacionais que conquistaram prêmios e prestígio. Não à toa, Wiliam Hurt levou o Oscar de melhor ator por sua performance memorável em O Beijo da Mulher-Aranha, filme inesquecível em que ele divide a cena com os não menos geniais Raul Julia e Sônia Braga.
ESPECIAL ZÉ DO CAIXÃO
Gratuito na Spcine Play
Em fevereiro, o Brasil perdeu o seu maior mestre do terror: José Mojica Marins, eternizado com seu personagem Zé do Caixão, protagonista de dezenas de filmes dirigidos pelo próprio Mojica. Para homenagear esse talento, a Spcine Play disponibiliza dez filmes estrelados pelo personagem. Eles vão desde seus dois clássicos mais conhecidos - À Meia-noite Levarei sua Alma (1964) e Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967) -, mas também outros filmes bem menos conhecidos - caso de O Despertar da Besta (1969) e Delírios de um Anormal (1977).
O presente para o fã de Mojica ainda inclui dois documentários sobre o cineasta - o longa Maldito, O Estranho Mundo de José Mojica Marins e o curta Mojica na Neve -, ambos dirigidos por Ivan Finotti e André Barcinski.