Postado em 30/03/2020
A RADIALISTA E PESQUISADORA DA MÚSICA BRASILEIRA FALA
DO VALOR HISTÓRICO DAS CANÇÕES E ANALISA A ASCENSÃO DO PODCAST
COMO FORMA DE EXPRESSÃO DEMOCRÁTICA E LIVRE
Jornalista, pesquisadora, radialista e, há mais de 30 anos, dedicada à música brasileira em suas variações de gênero, ritmos e mídias, Patrícia Palumbo está no rádio, na TV, no jornalismo impresso e online. Com a Rádio Vozes, plataforma que respira música, o contato com o público é ainda mais direto. Em seu livro Vozes do Brasil: Entrevistas Reunidas (Edições Sesc São Paulo, 2ª edição revista e ampliada, 2019), é possível acompanhar entrevistas com importantes nomes da música, encontros estendidos como ondas sonoras. Para a jornalista, a maior recompensa desse tipo de reunião é ter do artista “o reconhecimento, o respeito pelo seu trabalho, como temos pelo trabalho dele”.
Confira aqui um trecho do livro:
Acompanhar a carreira de um artista é fundamental para ter um olhar mais apurado sobre sua obra. O vínculo é profissional, as informações estão todas disponíveis, interpretá-las é o desafio. Para o livro [Vozes do Brasil: Entrevistas Reunidas, Edições Sesc São Paulo] e mesmo para as entrevistas no rádio, uso minha experiência de escuta e leitura de mais de 30 anos dedicados à música. E uma boa entrevista é antes de tudo uma boa conversa. Sabemos que é muito mais interessante trocar ideias com quem pensa sobre o assunto, conhece o tema e traz informações e referências pertinentes. Encontrar muitas vezes com o mesmo artista e ter dele o reconhecimento, o respeito pelo seu trabalho, como temos pelo trabalho dele, é a maior recompensa.
Adoro e consumo muitos documentários musicais. Fui jurada de uma edição do festival In-edit [Festival Internacional do Documentário Musical] e vi alguns filmes muito bons. Já produzi um documentário sobre o livro Vozes do Brasil [em 2002] com Luiz Melodia, Itamar Assumpção, quase todos os entrevistados do primeiro livro. Eu gosto de imagens de arquivo, de ver e ouvir o próprio autor, intérprete e compositor falando sobre sua obra em diversos momentos da vida, gosto de ver shows e prefiro os que ousam um pouco na linguagem, no formato. O documentário sobre Dominguinhos produzido em parceria com Mariana Aydar é lindo [Dominguinhos, 2014]; o de Marcelo Machado sobre a Tropicália [Tropicália, 2012] também.
Toda música ajuda a contar a história do mundo, da civilização. Nossas canções são registros do tempo em que foram criadas. Um compositor é uma antena, um cronista, um agregador. E não falo só de estética, falo também de crônicas do cotidiano. O amor cantado nos anos 1950 é muito diferente do amor nos anos 2000. Uma canção de Chico Buarque escrita durante a ditadura militar fala dos desafios daquela época. Uma canção hoje feita por Filipe Catto e Johnny Hooker fala dos desafios da geração LGBT, e assim por diante.
O podcast é muito popular nos Estados Unidos. Há novelas, séries, rodas de conversa... Enfim, muita variedade. Na Europa, a rádio ainda é muito valorizada no formato tradicional, ao vivo, e não sob demanda. Aqui, o podcast vive uma fase de descobrimento e em algumas iniciativas o que se vê é uma apropriação do nome e não do conceito. Algumas emissoras transformam seus programas de rádio para esse formato e o que tem mais a cara do podcast mesmo são os que já nascem nessa plataforma digital. Gosto da ideia do podcast como ferramenta de expressão democrática e livre. Você faz de casa, se tiver mais recursos, faz num estúdio, mas o princípio me lembra muito o cinema novo: só que no lugar da câmera vai o microfone e uma ideia na cabeça.
Na minha plataforma, a Rádio Vozes, temos os dois formatos – ao vivo e sob demanda. Um bom exemplo é o programa de histórias para crianças do Capitão Moish. Um programa totalmente dedicado às histórias infantis. As narrações são feitas ora pelo capitão Moish, ora pela avó Ana. As histórias são oferecidas como programa de rádio especial para crianças e o apresentador faz um podcast para os pais com conversas e debates com escritores, professores, psicólogos. É muito bacana e sob demanda. Acho que esse é o comportamento do ouvinte hoje. Ele quer escolher o que ouvir. Sou uma entusiasta da palavra, da voz. Por isso consumo e apoio todas essas iniciativas.
Confira a entrevista com a jornalista sobre seu livro: