Postado em 01/09/2002
No Brasil, períodos eleitorais são marcados por chuvas, trovoadas e cataclismos generalizados. Não é preciso ser especialista em meteorologia para prever quando o tempo começa a virar. Basta verificar o calendário eleitoral, que entre nós, por razões diversas, é sempre antecipado. Um ano antes da data marcada para as eleições iniciam-se as tratativas e negociações, uma situação que nossos representantes muito apreciam. Normalmente os políticos aproveitam essa época para abandonar de vez suas tarefas, deixando nas gavetas do Congresso e das assembléias projetos muitas vezes de urgente necessidade.
As candidaturas são então negociadas à moda de um agitado mercado de peixes, em que compra e venda se confundem com apostas, doações e mesmo investimentos, em valores diretamente proporcionais ao volume dos interesses envolvidos.
A questão, porém, se torna assustadora quando um pretendente ao cargo máximo da nação, por obra do destino, logra contrariar os desejos de uma entidade invisível e poderosa chamada mercado. Nesse caso, ou com esse pretexto, o horizonte invariavelmente se turva e de repente os indicadores passam a mostrar claros sinais de turbulência.
Foi exatamente isso o que ocorreu nestes meses que antecedem as eleições brasileiras de 2002. Agentes econômicos, empresas e a população em geral assistiram, assustados, a uma súbita desvalorização da moeda, que trouxe para nosso convívio o fantasma da deterioração da economia que hoje está presente, para citar apenas um exemplo, na Argentina.
Diante da incerteza eleitoral, investidores internacionais fogem do país para refúgios mais seguros e a sociedade se ressente, assumindo custos inflacionários, desemprego e recessão.
O que mais nos preocupa nessa questão não é propriamente a fuga dos dólares, nem a ameaça recessiva, muito menos a vitória de um candidato aparentemente rejeitado pelo mercado. O mais assustador nisso tudo é a constatação da imensa fragilidade de nossa economia, que mal consegue manter-se em pé diante de um sopro de vento contrário, e se resfria imediatamente ao menor contato com algum perdigoto solto no espaço especulativo.
Não resiste a nenhuma declaração menos feliz de funcionário de governo estrangeiro, se abala à divulgação dos resultados de uma pesquisa e depende essencialmente de um punhado de dólares emprestados pelo Fundo Monetário Internacional.
Enquanto isso os políticos se digladiam para alcançar uma posição que certamente lhes dará projeção, e prometem para todos nós o paraíso na terra. Nenhum deles é capaz de dizer, com todas as letras, que o que nos espera são mais dificuldades, problemas maiores ainda e, pelo andar da carruagem, uma tendência para maior empobrecimento.
Não posso deixar de lembrar o líder político inglês Winston Churchill, que em plena guerra mundial declarou a seus compatriotas que o que tinha a oferecer eram apenas sangue, suor e lágrimas, ingredientes necessários para vencer o conflito.
Entre nós, não é mera figura de retórica afirmar que estamos em guerra, seja contra o analfabetismo e a ignorância, seja contra o atraso e a insegurança. E essa guerra nós a estamos perdendo. O que esperamos, portanto, seja dos candidatos do momento, seja dos representantes eleitos em qualquer esfera de poder, é uma posição clara, definida, realista e coerente. Que não nos prometam milagres. Assumam o que se espera deles: reunir as forças da sociedade, todas elas, direcionando sacrifícios, esforços e muito trabalho para vencermos este período de dificuldades.
O que esperamos, como empresários, é o fortalecimento das micro e pequenas empresas, responsáveis pelos empregos que estão fazendo falta. São as reformas necessárias para revigorar os tais fundamentos da economia, para aliviar a carga tributária, combater déficits e levar benesses sociais a quem delas precisa.
O que esperamos, como cidadãos, é que exijam de si mesmos e da sociedade um comprometimento profundo com a união de forças, longe das picuinhas políticas e dos interesses particulares, em favor do futuro do país.
Porque não adianta tapar o sol da realidade com a peneira das promessas impossíveis. Para sair do buraco, o Brasil precisa mais do que isso.