Postado em 20/03/2020
Por Suzana Macedo Soares*
O brincar livre dos bebês se inicia em torno do terceiro mês de vida e o primeiro brinquedo é sua própria mão. A brincadeira consiste em descobrir o movimento das mãos, a princípio sem controle e aos poucos ir percebendo os dedos, as possibilidades de abrir e fechar, elevar, experimentar diversas direções, agarrar uma mão com a outra.
Pode parecer uma ação sem importância, mas o descobrimento das mãos tem um sentido fundante no processo do brincar. A partir dessa conquista o bebê vai desenvolvendo interesse por objetos que estejam ao seu redor e por relacionar-se com eles, descobrindo aos poucos o entorno, o adulto de referência e a si mesmo.
Mas para que isso aconteça, ele deve ser colocado em um chão firme, com roupas confortáveis e de barriga para cima. Nesta posição é possível mover a cabeça para os lados, seguir com a visão o movimento de uma pessoa próxima ou de um objeto, mover também os braços e as pernas livremente, regulando suas tensões corporais. Na posição de costas, os apoios da cabeça, coluna, quadril e dos quatro membros formam uma base de sustentação ampla que distribui os efeitos da força da gravidade sobre o corpo.
Rodeados de alguns objetos simples os bebês podem brincar livremente. Enquanto não se sentam por si, brincam deitados de costas, de lado ou de bruços, movimentando-se de maneira autônoma o tempo todo, encontrando por si só posições confortáveis para explorar os brinquedos, descobrindo os pontos de apoio essenciais para a conquista de novas posturas e movimentos.
Foto: Suzana Soares
Essas colocações se baseiam nas ideias de Emmi Pikler, médica húngara que desenvolveu uma abordagem para educar bebês e crianças pequenas (0 a 3 anos) embasada principalmente na observação e registro minucioso do desenvolvimento de bebês. Para ela o brinquedo mais adequado para se oferecer a partir do terceiro, quarto mês de vida é um lencinho de 30 cm por 30 cm, de preferência com bolinhas coloridas em um fundo liso. Essa estampa chama a atenção do bebê, que não está ainda com a visão totalmente desenvolvida. Ele é colocado ao lado de um dos ombros para estimulá-lo indiretamente a se virar de lado e agarrar este objeto leve e atraente.
Virar de lado é a primeira postura do desenvolvimento psicomotor, que segue como uma engrenagem, um movimento preparando o próximo, até a marcha. Depois de realizar uma pesquisa com mais de 700 bebês, Emmi Pikler percebeu que os bebês sadios, que podem se movimentar livremente viram de lado e depois de costas, rolam, arrastam-se, ficam de quatro, sentam-se, engatinham, ficam de urso, de joelhos, de pé e andam, mais ou menos na mesma ordem. E que de nada vale apressar este desenvolvimento, pois cada bebê tem seu ritmo, e todos chegam à marcha a seu tempo.
Quando o bebê está de lado pode brincar com conforto nessa posição, manipulando objetos para brincar de madeira, plástico, tecido, sementes, enfim, de várias texturas, e esse processo lúdico está totalmente ligado ao desenvolvimento motor. Os melhores brinquedos são objetos para brincar, que podem ser encontrados em casa, principalmente na cozinha, como tigelas, bacias, forminhas, tampas de panelas, cascas de coco, tecidos, tampinhas, tocos de madeira, bolas de diversos materiais, entre outros.
As crianças que brincam em liberdade desenvolvem harmonia nos gestos, facilitando as manipulações; esquema corporal preciso, que permite maior equilíbrio e coordenação psicomotora; prudência, evitando acidentes; sentimento de competência, que gera autoestima positiva e segurança emocional; além de concentração e criatividade.
*Suzana é especialista em Educação Infantil pelo Instituto Vera Cruz, graduada em Comunicação Social pela PUC-SP e pós-graduada pela ECA, USP-SP. É Conselheira do Movimento Internacional Aliança pela Infância e integra a Red Pikler Nuestra America e a Rede Pikler Brasil.