Postado em 29/02/2020
Músico de muitas parcerias, sintonizado com o contemporâneo, o carioca Francis Hime é um dos compositores mais importantes do país. Começou a estudar piano aos seis anos de idade e apareceu musicalmente ligado à geração de compositores brasileiros da década de 1960, sendo um dos protagonistas da música popular desde então. Foi parceiro de Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Ruy Guerra, Chico Buarque. Teve suas canções interpretadas por Elis Regina, Roberto Carlos e Jair Rodrigues. Compositor, pianista, cantor, arranjador e maestro, Hime é carinhosamente comparado a uma orquestra sinfônica que nunca perdeu o time. “Tenho o nítido desejo de continuar criando e me expressando sempre. E, agora que cheguei aos 80, acelerando cada vez mais, aproveito a vida e a vontade de fazer música em potência máxima.”
Sempre gostei de compor com muitos parceiros e resolvi gravar este disco de inéditas [Hoje, 2019] ainda em comemoração pelos meus 80 anos. Como decidi fazer o disco em abril de 2019 e as gravações foram marcadas para julho, o tempo de escolha das músicas foi bem reduzido. Assim, mandei algumas canções para parceiros com quem trabalho frequentemente, como Hermínio Bello de Carvalho, com quem compartilhei um choro inicialmente feito para ser apenas instrumental. Alguns dias depois, ele me devolveu uma letra incrível, desdenhosa. Já Adriana Calcanhoto tinha desde 2018 um samba de minha autoria para letrar e ela concluiu a tempo de ser uma das faixas do álbum, chamada Flores para Ficar.
Olivia [Hime], minha parceira de vida e de música me presenteou com três belas letras: Samba Dolente, Menino de Mar e Laura. Esta última escrita em homenagem a Laurinha, nossa mais recente netinha. Thiago Amud letrou um samba meu, o qual ele intitulou Sofrência. As outras canções que formam o disco são poemas de outros autores que musiquei: Samba Funk, de Geraldo Carneiro; Mais Sagrado, de Ana Terra; Soneto de Ausência, de Paulo César Pinheiro; e O Tempo e a Vida, de Torres da Silva. Para fechar o repertório, decidi incluir duas árias [composições musicais escritas para um cantor solista] da minha ópera do futebol, que tem libreto [texto da ópera] de Silvana Gontijo e que ainda são inéditas: Pietá e Jogo da Vida.
Não considero um intervalo muito longo entre Navega Ilumina, de 2014, e Hoje, disco de 2019. Houve uma época em que se costumava lançar álbuns novos de dois em dois anos. Atualmente, é diferente, isso já não acontece mais. E, claro, estou sempre compondo, fazendo shows, escrevendo peças sinfônicas, como o concerto para harpa e orquestra que foi apresentado em 2019 no Festival de Campos do Jordão com a Jazz Sinfônica, bem como o concerto para clarinete e orquestra, apresentado no mesmo ano por Cristiano Ales, com regência de Daniel Guedes. Também tenho feito muitos shows pelo Circuito Sesc, levando para o palco um espetáculo chamado Encontros Musicais, baseado no livro Trocando em Miúdos: As Minhas Canções (Terceiro Nome, 2017). O show conta com a participação especial de Olivia Hime.
Eu componho procurando traduzir os sentimentos que tenho no momento presente. Claro que as composições mais antigas se relacionam com o que faço atualmente, mas não me preocupo em olhar para o retrovisor do passado. Tenho o nítido desejo de continuar criando e me expressando sempre.
E agora que cheguei aos 80, acelerando cada vez mais, aproveito a vida e a vontade de fazer música em potência máxima.
Tudo na vida tem seu lado positivo e negativo. No meu caso, não sou muito ligado nas novas tecnologias. Inclusive, tudo que escrevo é com lápis e papel, não uso computador. Aliás, nem ao escrever o livro isso aconteceu, a não ser na fase final de revisão. De toda forma, o uso do computador possibilita um trabalho mais rápido, por outro lado, tem a desvantagem de, vez ou outra, deixarmos de escrever algo que está dentro da gente para trilharmos caminhos mais fáceis e, por isso, considero rápido demais para a criação de algo que realmente reflita a essência do compositor.