Postado em 29/02/2020
Imagine poder interagir, cada vez mais, com eletrodomésticos e outros aparatos tecnológicos da sua casa? A geladeira, por exemplo, estará alerta e encomendará ao mercado mais próximo tomate, queijo, massa e outros ingredientes para fazer sua pizza. Simples assim, tudo o que você nem precisou se lembrar de comprar chegará num pacote dentro de poucas horas. A Internet das Coisas, também conhecida pela sigla em inglês IoT (Internet of Things), é a responsável por essa e outras facilidades no século 21. Geladeiras, fogões e tantas outras “coisas” serão novos “prestadores de serviço” a seu dispor. “Podemos definir a IoT, de forma simplista, como uma rede de dispositivos que conversam entre si. Vai muito além das tradicionais redes de computadores. Estamos considerando uma grande diversidade de objetos, máquinas, seres vivos, dispositivos eletrônicos e qualquer outra coisa sobre a qual gostaríamos de ter informações ou até mesmo controlar”, explica o engenheiro João Adriano Freitas, cofundador do Estúdio Hacker. Ao permitir tal conexão, a IoT não só contribuirá para o aumento de eficiência dos objetos como também para a redução de intervenção humana e para a criação de novos produtos e de novos modelos de negócios. Mas quais os riscos de prover tantas máquinas com informações e dados pessoais? “Devido ao número de avanços realizados em um período tão curto de tempo, a segurança tem sido um problema. As violações de dados tornaram-se predominantes entre os dispositivos IoT”, pondera Maria Rita Casagrande, que coordena, desenvolve e atua em iniciativas voltadas às tecnologias. Afinal, de que forma a Internet das Coisas afetará nosso futuro? Neste Em Pauta, Freitas e Casagrande tecem reflexões e perspectivas a respeito.
JOÃO ADRIANO FREITAS
Muito se tem falado sobre a Internet das Coisas, IoT na sigla em inglês, sobre o impacto que essa tecnologia tem trazido a nossas vidas, e o potencial de transformação que ela tem. Mas, afinal, o que é a Internet das Coisas?
Podemos defini-la, de forma simplista, como uma rede de dispositivos que conversam entre si. Isso vai muito além das tradicionais redes de computadores. Estamos considerando uma grande diversidade de objetos, máquinas, seres vivos, dispositivos eletrônicos e qualquer outra coisa sobre a qual gostaríamos de ter informações ou até mesmo controlar.
O conceito foi inicialmente discutido em 1982, quando uma máquina de vender refrigerantes foi modificada para reportar pela internet informações sobre seu inventário e temperatura das bebidas. Porém, o termo “Internet das Coisas” surgiu apenas em 1999, quando o uso de identificação por radiofrequência (RFID) permitiu vislumbrar a essência dessa rede que permite que computadores gerenciem coisas. Existe outra definição para Internet das Coisas que trata do ponto na história quando teríamos mais coisas conectadas à internet do que pessoas, o que na verdade aconteceu entre 2008 e 2009.
Podemos imaginar uma infinidade de aplicações que utilizam o conceito de Internet das Coisas e já fazem parte do nosso dia a dia, não é mesmo? Temos aplicações para o consumidor final, assistentes pessoais, sistemas de segurança com câmeras, climatização de ambientes, as chamadas casas inteligentes, com o acionamento de luzes, cortinas e bombas de piscina, travamento e destravamento de portas, irrigação automática de jardins etc.
As aplicações comerciais são ainda mais abrangentes e temos visto diversas relacionadas aos cuidados com a saúde, com a coleta e análise de dados remotos, inclusive com notificações de emergência de acordo com o resultado dessas análises.
Temos ainda soluções de transporte que permitem o controle de tráfego de acordo com a quantidade de carros, estacionamentos que indicam o número de vagas disponíveis e sinalizam à distância os locais ainda disponíveis para estacionarmos ou sistemas de pedágio que fazem a cobrança automática quando o carro passa por um ponto de checagem.
As aplicações industriais vão desde melhorias no ciclo produtivo até o controle do estoque a partir de objetos identificáveis. Na agricultura temos a coleta de dados de temperatura, índice de chuvas, umidade do ar e do solo, detecção e controle de pragas, entre outras.
As cidades inteligentes estão na categoria de aplicações de infraestrutura, com diversos sensores espalhados pela cidade e aplicativos para o monitoramento e análise de dados como condições climáticas, qualidade da água e do ar, alertas de desastres, disponibilidade de transporte público, agenda da cidade etc.
Apesar de o Brasil não ser reconhecido como um centro de inovação nessa área, temos um mercado relevante e uma sociedade disposta a adotar novas tecnologias. Podemos destacar aqui projetos como o Pluvi.On, Plantrix e o Monitoramento de enchentes – este último do Estúdio Hacker, um dos vencedores do Desafio IoT de 2019.
Tivemos um plano nacional de Internet das Coisas aprovado recentemente com o objetivo de regular e estimular a adoção da tecnologia no país. Um plano que visa melhorar a qualidade de vida das pessoas fomentando a capacitação profissional e a produtividade nas empresas, tornando-as mais competitivas e com maior expressão no cenário mundial.
Apesar de todas as vantagens, ainda temos diversos desafios a serem resolvidos para uma adoção em massa. Em geral, as empresas costumam ter um modelo tradicional de governança e sequer estão pensando em formas de melhorar seus negócios a partir do uso dessa tecnologia. Já as empresas com uma administração menos conservadora estão engatinhando e seus planos e modelos de negócios ainda estão parados na fase de prototipação, sem condições de atingir escalabilidade. Além disso, não conseguem precificar o real valor agregado do uso de IoT em seus negócios.
Outro entrave para o uso da Internet das Coisas é encontrar profissionais qualificados. As universidades ainda não adequaram o seu currículo para dar a ênfase necessária a esse tópico e os cursos profissionalizantes são escassos.
Como uma tecnologia em constante evolução, ainda temos dificuldades de interoperabilidade dos dispositivos, ora por falta de padrões, ora por excesso de possibilidades. Temos plataformas de análise de dados que ainda não atendem às necessidades dos projetos mais robustos e por vezes gastamos muito tempo em customizações.
Existe uma brincadeira que diz que o “S” na sigla “IoT” significa “Segurança”. A sigla “IoT” não tem a letra “S”, ou seja, a segurança nunca foi um dos pilares conceituais da Internet das Coisas.
A segurança da informação por muito tempo foi negligenciada e trouxe inclusive vazamentos de informações que fizeram principalmente empresas postergar o seu uso até que houvesse soluções mais seguras. A preocupação com a privacidade das pessoas e com a potencialmente invasiva vigilância permitida por essas tecnologias deve ser um assunto a ser tratado com cuidado.
A PREOCUPAÇÃO COM A PRIVACIDADE
DAS PESSOAS E COM A POTENCIALMENTE
INVASIVA VIGILÂNCIA PERMITIDA POR
ESSAS TECNOLOGIAS DEVE SER UM ASSUNTO A
SER TRATADO COM CUIDADO
Com tantas possibilidades fica difícil prever exatamente o que acontecerá no futuro da Internet das Coisas, mas conseguimos pelo menos ter um norte do que está por vir. Já dá para imaginar que continuaremos tendo problemas de segurança e que criminosos vão utilizar cada vez mais dispositivos conectados à internet para promover ataques descentralizados a serviço de companhias e até mesmo países.
Como forma de reduzir os riscos, teremos mais políticas regulatórias relacionadas à segurança e ao uso das informações coletadas. Além disso, os roteadores se tornarão mais seguros e inteligentes na proteção dos nossos dispositivos.
A rede 5G de telefonia móvel será o combustível para o aumento do número de dispositivos conectados em rede. Teremos um aumento exponencial de aplicações de IoT principalmente na indústria, agronegócio e saúde.
O volume de dados gerados por todos esses dispositivos será algo nunca visto antes, o que fará melhorar, e muito, as tecnologias relacionadas à Inteligência Artificial e ao Aprendizado de Máquina, tornando-as mais assertivas e personalizadas.
Mais cidades terão inúmeros sensores e sistemas automatizados controlados à distância, teremos melhores sistemas de segurança, potencialmente, melhores serviços de transporte e um uso mais racional de recursos.
Será mais comum vermos arte interativa a partir de sensores espalhados pelo mundo todo ou narrativas que são construídas em tempo real de acordo com a interação com o público. Um mundo de mudanças está por vir! E você? Já está preparado?
MARIA RITA CASAGRANDE
Internet das Coisas ou IoT é o termo que usamos para determinar uma rede composta por eletrodomésticos, eletrônicos, veículos, sensores, softwares e até joias conectáveis, o que permite que esses aparelhos troquem dados com a internet e outros aparelhos. A Internet das Coisas permite também que os dispositivos sejam controlados por outras máquinas na mesma rede. A ideia é que, como resultado, ocorra um aumento na eficácia e na eficiência do trabalho, reduzindo também o risco de erro humano. Simplificando, a Internet das Coisas é praticamente qualquer coisa que se conecta à internet e a usa para aprimorar suas habilidades de execução.
A Internet das Coisas não é como era há alguns anos. Ela cresce rapidamente e os dispositivos que anteriormente tinham apenas algumas funções estão se tornando cada vez mais avançados. Só podemos aguardar por mais mudanças a partir deste ano, em que se imagina que a IoT estará amplamente implementada e em uso no mundo. Estas são algumas das possibilidades do que está por vir:
Somente em 2019, cerca de 3,6 bilhões de dispositivos conectados à internet foram usados para tarefas diárias. Especialistas em dados analisaram isso e disseram que a Internet das Coisas provavelmente aumentará e continuará fazendo isso por um longo período de tempo. Desde 2015, o número passou de milhões para bilhões no período de apenas um ano, essa taxa é emocionante e alarmante ao mesmo tempo.
Por volta do final de 2016, o “Malware da Internet das Coisas” surgiu e podia infectar qualquer dispositivo no espectro da IoT. Esse malware [programa de computador destinado a infiltrar-se em um sistema de computador alheio de forma ilícita, com o intuito de causar alguns danos, alterações ou roubo de informações] tem a capacidade de acessar os dispositivos IoT usando nomes de usuário e senhas padrão e, em seguida, torná-los elegíveis para ataques DDoS. O ataque em 2016 inundou um dos maiores sites operacionais do mundo. Esse malware facilita a acessibilidade do código e esse código pode ser alterado por qualquer pessoa. Carros, celulares, fechaduras, câmeras e até geladeiras podem ser infectadas por ele.
As cidades agora se tornarão inteligentes por causa de dispositivos de coleta de informações, como câmeras de vigilância, que serão conectados à internet. Eles terão trabalhos aprimorados, como o de realizar identificação facial, os quais poderão executar de maneira mais eficaz e com poucas chances de erro. As pessoas já começaram a investir em “casas inteligentes”, totalmente equipadas com aparelhos como lâmpadas e assistentes pessoais que controlam desde a agenda pessoal até temperatura da casa. Pesquisas de mercado sugerem que o setor de casas inteligentes chegará a cerca de 79 bilhões de dólares até 2022.
De cafeteiras a geladeiras, residências e iluminação interna e externa, todo dispositivo inteligente conectado à internet aprenderá os padrões e hábitos de seus usuários e responderá de acordo com o aprendizado. Aprendizado de máquina é um termo que significa que os computadores começarão a aprender por meio de um processo e realmente não precisarão ser programados por uma pessoa.
COM O TEMPO, ESPERA-SE
QUE MUITOS ASPECTOS
DA NOSSA VIDA
SEJAM GERENCIADOS PELA INTERNET
DAS COISAS
Mesmo agora, as grandes empresas equipadas com a Internet das Coisas têm uma vantagem competitiva em relação a outras empresas do setor. Em um futuro próximo, será necessário que todos os setores usem a IoT de uma maneira ou de outra. Cerca de 94% das empresas que investiram nela já obtiveram retorno do investimento.
Em 2008, observou-se que o número de objetos conectados à internet era maior que o número de pessoas conectadas. Foi previsto que 75 bilhões de dispositivos estarão conectados à internet até o final de 2020. A maioria das pessoas estará investindo em IoT de uma maneira ou de outra, pois será uma indústria que movimentará trilhões de dólares.
A IoT também tem um lado sombrio: segurança de dados. Devido ao número de avanços realizados em um período tão curto de tempo, a segurança tem sido um problema. As violações de dados
tornaram-se predominantes entre os dispositivos IoT. Esses problemas precisarão ser abordados em um futuro próximo. É importante entender os problemas de segurança para impedir que vírus e hackers ataquem e acessem dados pessoais, o que gera um novo tipo de demanda de trabalho.
Os especialistas previram que isso seria uma realidade em 2020. Chegamos a isso um pouco antes. Carros serão conectados à internet e terão a capacidade de ser conduzidos automaticamente com serviços de internet integrados que irão aperfeiçoar as funções do carro. O Google já chegou ao ponto de testar a condução autônoma.
Podemos dizer com tranquilidade que a IoT é o futuro. Com o tempo, espera-se que muitos aspectos da nossa vida sejam gerenciados pela Internet das Coisas. Do desenvolvimento agrícola aos avanços das aeronaves, cada setor está entusiasmado com as possibilidades de incorporar a Internet das Coisas em seus produtos e serviços. Somente o tempo dirá o que o futuro da Internet das Coisas reserva e quais serão os impactos sobre cidades e populações. No entanto, todo mundo está falando sobre isso hoje e se concentrando nessa nova era de possibilidades.