Postado em 20/02/2020
As diferentes formas de violência contra mulheres e contra pessoas LGBT têm sido uma constante nos noticiários do país. O tema, tão sensível e urgente, será abordado em dois espetáculos teatrais que estreiam em fevereiro no Sesc Ipiranga.
No dia 28/02, sexta-feira, começa a temporada de Uma Lei Chamada Mulher, que tem texto de Consuelo de Castro e direção de Lenise Pinheiro. E no dia 29/2, sábado, o Teatro Mínimo recebe 3 Maneiras de Tocar no Assunto, com texto de Leonardo Netto e direção de Fabiano de Freitas.
Uma Lei Chamada Mulher é a última peça escrita por Consuelo de Castro. A obra tem como inspiração a história de vida de Maria da Penha e seu livro Sobrevivi... posso contar, em uma narrativa que atravessa, do início ao fim, a relação da mulher com seu agressor. A violência doméstica sofrida por Maria durante 23 anos pode ser acompanhada em cenas que se sucedem abrindo um panorama amplo, ainda que a partir de um caso específico, da evolução de uma relação abusiva atingindo o ápice da dupla tentativa de feminicídio.
Em cena Isabella Lemos, Iuri Saraiva, Natália Moço e Lucia Bronstein interpretam uma das muitas histórias que se iniciam com sedução e fascínio, mas se transformam em prisões que subtraem os sonhos e as vidas das muitas vítimas. O espaço privado do lar, cenário onde a violência e a opressão se impõem, é recriado pela direção de arte de Simone Mina.
3 Maneiras de Tocar no Assunto é um manifesto artístico contra a intolerância e a homofobia na sociedade moderna, que aborda essas questões na sociedade moderna por meio de três narrativas curtas. Interpretados por Leonardo Netto, solos independentes colocam em pauta questões relacionadas ao preconceito contra a pessoa homossexual e contra a comunidade LGBT em geral. No primeiro, O Homem de Uniforme Escolar, o público assiste a uma aula de bullying homofóbico. O segundo, O Homem com a Pedra na Mão, é o depoimento de um dos participantes da Revolta de Stonewall, que aconteceu em junho de 1969, em Nova York. O terceiro, O Homem no Congresso Nacional, é o pronunciamento de um deputado gay e ativista na tribuna da Câmara.
Segundo estudo sobre crimes de ódio no Brasil, apresentados pela Ong. Words Heal The World - instituição que desenvolve estratégias de combate a diferentes tipos de extremismo no Reino Unido, Brasil e América Latina - em 2018 foram registrados 2.165 crimes e cerca de 420 mortes motivadas por preconceito e discriminação em razão da orientação sexual e identidade de gênero no país.
No mesmo período, o agora Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos registrou 92.323 denúncias de agressão contra mulheres, sendo 1.173 feminicídios.
Esses dados posicionam o país nas primeiras colocações de rankings que medem a violência. De acordo com levantamento da Ong. Trangender Europe, somos o pais que mais mata homossexuais no mundo e ocupamos a 5ª colocação no ranking de países mais perigosos para mulheres, segundo estudo da Thomson Reuters Foundation.
Muito recentemente é que o Brasil começou a adotar mecanismos jurídicos de proteção à essas vítimas. Em 2006 foi sancionada a Lei nº 11.340 /2006 (Lei Maria da Penha), primeiro dispositivo jurídico do Brasil para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, mas apenas em 2015 os assassinatos motivados pela condição de gênero passaram a ser classificados como feminicídio.
No caso da violência contra pessoas LGBT, ainda não há uma lei específica para punir esses crimes. Em 2019 o STF (Supremo Tribunal Federal) determinou que a discriminação em razão da orientação sexual seja criminalizada e, enquanto o Congresso não aprova legislação sobre o tema, condutas homofóbicas e transfóbicas sejam enquadradas na lei dos crimes de racismo.
Especialistas afirmam que a implementação de Leis é importante para diminuir a violência contra essa parcela da população, no entanto a criação de uma rede de assistência e a mudança de cultura são imprescindíveis para mudar o panorama.
Nesse contexto, a abordagem do tema em diferentes linguagens artísticas é fator fundamental para estimular a reflexão e o pensamento crítico que transforma o modo como pensamos e entendemos o mundo.
Para encerrar as duas temporadas, no dia 22/3, às 16h, o Sesc Ipiranga propõe um bate-papo com a Profª. Drª. Carla Cristina Garcia (PUCSP e USCS) e o advogado e Prof. Dr. Dimitri Sales (UNIP e CONDEPE/SP). Intitulado Violências e Redes de Apoio, a proposta é conversar sobre como identificar possíveis violências sofridas e as redes de apoio e leis que amparam as vítimas.
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