Postado em 29/11/2019
Caminhar por uma galeria no centro da capital paulista é como dar vazão à saudade de outrora. Nela, todo tipo de objeto a ser vendido e profissão exercida dão as costas para o futuro – como antiquários e engraxates. Mas, no passado, esses eram símbolos da modernidade. Destinadas ao comércio, projetadas por grandes nomes da arquitetura, a partir da década de 1930, em São Paulo, as galerias começaram a ser construídas. Elas refletiam um crescimento urbano de mãos dadas com o comércio e com a produção cultural da metrópole que se formava.
A primeira delas foi erguida no bairro da República. Uma de suas entradas volta-se para a Rua 24 de Maio e a outra para a Rua Barão de Itapetininga. Reconhecida como a mais antiga do centro paulistano, a galeria Guatapará abriu as portas em 1933. Nasceu no piso térreo do edifício homônimo, inaugurado em 1928, sede da Companhia Agrícola Guatapará, do conde Atílio Matarazzo. Em pouco tempo, já nos anos 1940, era na Guatapará que os artistas plásticos se encontravam. Nesse endereço, também habitado por livrarias, cafés e restaurantes, faziam vernissages e outros eventos.
Outra moradora da República é a galeria R. Monteiro, inaugurada em 1963, voltada para a Rua 24 de Maio. Num segundo momento, foi estabelecida uma ligação entre a Rua 24 de Maio e a Barão de Itapetininga através da galeria Itá, construída 14 anos antes. Entre essas três, a R. Monteiro é considerada a mais charmosa. Não só por ter a assinatura do artista e paisagista Roberto Burle Marx, que para ela criou uma parede de ladrilhos verdes, mas por ser obra de Roberto de Cerqueira César, Luiz Roberto Carvalho Franco e Rino Levi (1901-1965). Este último foi um dos expoentes do modernismo no Brasil e arquiteto de vários edifícios residenciais e comerciais, galpões e hospitais em São Paulo.
Segundo a historiadora Paula Ester Janovitch, autora do capítulo “Os Segredos das Passagens: Percurso pelas Galerias do Centro Novo”, no livro Dez Roteiros Históricos a Pé em São Paulo (Narrativa Um, 2007), as galerias paulistanas obedecem a uma linguagem moderna, e era nelas que se concentrava a vida cultural e artística dos anos 1940 e 1950.
Envelhecidas pelo tempo, sem o mesmo viço, atualmente as galerias vivem assim: um dia depois de outro dia, como nos versos da canção As Vitrines, de Chico Buarque. Feitas de poeira e de memória, elas resistem.
Galeria Guatapará
Rua Barão de Itapetininga, 112, ou Rua 24 de Maio, 95, República, São Paulo-SP
Galeria R. Monteiro
Rua 24 de Maio, 77, República - São Paulo-SP
Galeria Itá
Rua Barão de Itapetininga, 88, República, São Paulo-SP