Postado em 30/09/2019
Como nos relacionamos com o espaço urbano? “O momento crucial da cidade, hoje, é que em vez de uma mobilidade temos uma imobilidade. Existe uma perplexidade sobre o que fazer com o automóvel [...] Ao mesmo tempo, é um momento do século 21 em que muita coisa nova está acontecendo, não só em São Paulo, mas no mundo inteiro”. Esta foi a resposta de Jorge Wilheim (1928-2014) em entrevista na Revista E de janeiro de 2014, na qual discorreu sobre problemas e soluções para o cotidiano da metrópole, que ainda se mostram atuais.
Nascido na Itália, na cidade de Trieste, mudou-se para São Paulo, aos 12 anos. Na época, impressionou-se com a arborização do município. Em sua memória de infância, a cidade era verde, da cor das árvores. Já adulto, a arborização foi encarada de forma mais realista. Dizia-se consciente da dificuldade de reproduzir vastas áreas verdes, como o Parque do Ibirapuera, por exemplo, mas acreditava na possibilidade de multiplicar recantos e esquinas arborizadas para a população.
Na capital paulista, entre os inúmeros projetos em que trabalhou ao longo de 60 anos dedicados à arquitetura e ao urbanismo, assina a autoria do Pavilhão de Exposições do Parque Anhembi (1969), da proposta de reurbanização do Pátio do Colégio (1975) e do projeto do Vale do Anhangabaú (1981). Sua atuação se estendeu também para outros municípios do país.
“Buscando confrontar a desigualdade social e a degradação ambiental, seus projetos e ações abarcam tanto a dimensão da macrometrópole quanto a pequena escala da rua e da calçada”, explica Guilherme Wisnik, curador da exposição Conversas na Praça – O Urbanismo de Jorge Wilheim, no Sesc Consolação. Aliás, o perfil desta mostra se relaciona com um desejo de Wilheim voltado à educação: no banco de alguma praça, ele gostaria de conversar com jovens sobre formas de pensar, atuar e transformar os locais que habitam.
ENTRE DESENHOS, FOTOGRAFIAS E VÍDEOS, EXPOSIÇÃO RECUPERA PROJETOS DE WILHEIM
Um dos mais importantes urbanistas do país, Jorge Wilheim deixou sua marca em projetos por 20 cidades brasileiras. Seu legado é tema da exposição Conversas na Praça – O Urbanismo de Jorge Wilheim, aberta ao público até 14 de dezembro, no Sesc Consolação. Lá vemos um recorte de suas criações, como o Parque Anhembi, na capital paulista, e o projeto urbano proposto para Curitiba. Entre croquis, fotografias, reportagens de época, vídeos e instalações, o público interage com o espaço de convivência da unidade Consolação transformado em praça pelo arquiteto Pedro Mendes da Rocha, responsável pelo projeto expográfico da mostra. “Procuramos estender o espaço da rua e da calçada, do lado de fora, para dentro do térreo, abarcando a comedoria e a área de convivência. A praça é o lugar da diversidade e do encontro. Espaço onde as diferenças inerentes à sociedade aparecem e devem ser conversadas”, sugere o curador Guilherme Wisnik.