Postado em 31/07/2019
A caminho de um espetáculo de teatro, de um show ou numa pausa rápida para um lanche na comedoria, o encontro com a arte pode acontecer. É assim que as obras do Acervo Sesc de Arte Brasileira convivem com o público, no dia a dia das unidades, fora de museus e galerias. Essa coleção está exposta para visitação permanente e contempla expressões de diversos movimentos artísticos. Dependendo do recorte da unidade, o frequentador poderá se deparar com criações contemporâneas e modernas, com obras de arte popular, com peças diminutas ou de grandes dimensões e com aquelas que se revelam em sua sutileza. A exposição contínua dessas obras é uma das frentes fundamentais para a ação educativa em artes visuais do Sesc São Paulo. A preservação da memória e do patrimônio cultural da instituição compreende também uma parcela da história da arte brasileira a partir de uma visão crítica e afinada com as discussões contemporâneas.
De grão em grão
Nos primeiros anos da instituição, como boa parte das coleções de arte no país, o acervo foi se desenhando ainda de maneira informal, muitas vezes, por doações de pessoas que queriam contribuir com a ação do Sesc ou de artistas que ofereciam suas obras após a realização de uma exposição. Aquisições também começaram a ser feitas, por exemplo, em feiras e salões de cultura no Nordeste e em feiras de arte realizadas na unidade do Sesc Consolação em 1976 e 1977. No fim da década de 1970, obras de artistas emergentes foram adquiridas a partir de exposições na Galeria do Sesc Avenida Paulista.
Assistente da Gerência de Artes Visuais e Tecnologia do Sesc, Fabiana Delboni detalha como a política de aquisição se dá atualmente e o que é levado em consideração nesse processo. Primeiro, o foco é pensar a unidade e seu entorno, a história e as características geográficas, sociais, políticas e econômicas relacionadas àquele local. “Artistas e obras são elencados a partir da definição de um recorte que costuma tomar esses aspectos como ponto de partida, além de um estudo sobre os espaços físicos da unidade com potencial para a instalação de obras de arte”, explica Fabiana, reforçando que os processos são dinâmicos, ou seja, há linhas que delineiam esses contatos, mas não há uma padronização. “Ainda que alguns procedimentos sejam inescapáveis, sempre existem particularidades que afetam decisões e encaminhamentos.”
Fora da caixa
Convidada para compor artisticamente a comedoria do Sesc 24 de Maio com a obra Inventário, Regina Silveira conta que o tema escolhido e os materiais utilizados foram especificamente desenvolvidos para o espaço que a peça ocupa. “O trabalho deriva de frames multicoloridos do vídeo Na Cozinha do Murakami, exposto ao lado do painel, na mesma comedoria.
A animação original foi realizada para evento sobre as relações entre Arte e Gastronomia, organizado e apresentado pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo em 2016, com foco na colaboração entre artistas e chefs de cozinha”, explica.
Com mais de duas mil obras contemporâneas, modernas e de arte popular, o Acervo Sesc de Arte Brasileira conta também com uma coleção de instalações chamadas site specific – obras planejadas especificamente para os espaços que ocupam – de artistas como Tomie Ohtake (Vila Mariana), Artur Lescher (Avenida Paulista), Janaina Tschäpe (Guarulhos) e Luiz Sacilotto (Santo André), entre outros. Conheça algumas dessas obras na sequência.
Outro olhar
Sugestões de obras para observar em sua próxima visita
Reflexo d’Água (1997, Vila Mariana)
Uma aula de hidroginástica ou um mergulho para fugir do calor. Nada melhor do que fazer isso na piscina do Sesc Vila Mariana, envolto pela instalação de Tomie Ohtake (1913-2015).
É importante lembrar que, durante toda a sua vida, a artista reiterou a importância de obras de arte estarem disponíveis para o livre acesso das pessoas, em espaços públicos. A estrutura de ferro sobre a parede foi recentemente substituída por novas peças de aço carbono galvanizado.
Foto: Matheus Maria José
Grande Hotel (2017, 24 de Maio)
No hall de entrada da unidade, nos deparamos com essa obra, uma composição em neon, instalada sobre a grande caixa-d’água que domina o térreo da unidade.
Com mais de 50 anos de carreira, Carmela Gross é uma das artistas de trajetória mais consistente do país. Sua produção, carregada de símbolos e signos urbanos, nos oferece inúmeras camadas de significados que se revelam a partir de nossas próprias experiências e sobrepõem possibilidades de relação entre a cidade, suas arquiteturas e seus habitantes.
Foto: Everton Ballardin
Paisagem Desaguando, Cores Polvo, Já Estava Assim Quando Cheguei (2019, Guarulhos)
Inaugurada no mês de maio, a unidade Guarulhos abriga três importantes paisagens. Ocupando o grande vão na entrada da unidade, Já Estava Assim Quando Cheguei, de Carlito Carvalhosa, é uma grande peça em gesso que se impõe visualmente, flutuando no espaço vazio com uma leveza que contrasta com o peso que seu volume sugere. Adriana Varejão produziu, para o foyer do teatro da unidade, Cores Polvo, um grande painel formado por círculos cromáticos que nos oferecem leituras dos diversos tons de pele das populações brasileiras. Paisagem Desaguando é um afresco com quase 20 metros de largura, pintado por Janaina Tschäpe – artista brasileira nascida em Munique e que, atualmente, reside em Nova York – na parede do ginásio de esportes da unidade.
Foto: Adauto Perin