Postado em 10/07/2019
Nas últimas décadas é notório o ressurgimento de contadores de histórias nas cidades. Desvinculados das comunidades e povos tradicionais, os narradores urbanos têm buscado nas linguagens artísticas (literatura, artes cênicas, música, audiovisual, artes-visuais) suas balizas formativas e profissionais.
As contações de histórias ocupam espaços públicos culturais e educativos, ora mediando assuntos literários, ora aproximando-se dos campos da cena e da performance. Muitas são as facetas desses narradores urbanos.
Sobretudo a partir da primeira década do século XXI, em várias partes do Brasil, surgiram diversos tipos de encontros, seminários e festivais sobre o tema. Muitos desses eventos são constituídos por sessões de narração de histórias para diversos públicos, intercaladas por discussões e palestras relacionadas ao intercâmbio de experiências - aqueles que já têm algum percurso na área compartilham seu trajeto e sua visão sobre esta manifestação cultural.
Formação básica e avançada, cursos livres diversos e até mesmo pós-graduação sobre a arte de narrar histórias emergiram em muitos territórios. A partir desses encontros e das práticas formativas o fenômeno narrativo e a figura do contador de histórias passaram a se tornar foco de estudos e de investigação de muitos pesquisadores.
A Arte de Contar Histórias, também foi redescoberta pela pedagogia e vem sendo valorizada na educação infantil nos últimos tempos, o que fez com que os professores das séries iniciais se aventurassem nessa prática e, assim, fossem despertados alguns talentos oriundos do meio educacional. São educadores que se tornaram artistas dessa linguagem, sem necessariamente ter nenhuma formação como atores/atrizes.
Outra questão que também demonstra a necessidade de discussão a respeito desse tema é o fato de, geralmente, vincularem a atividade desses profissionais à área do livro e leitura, ao passo que há muitos mestres narradores(as) de histórias da tradição que nem letrados(as) são. Portanto, há muito que se discutir, pensar e experimentar ainda nesse fenômeno que ressurge nos contextos urbanos, pois os lugares para esse profissional ocupar continuam crescendo.
O projeto ORALIDADES, como iniciativa emergente e urgente, visa responder às demandas de instituições culturais, educacionais e de contadores de histórias com vistas a alargar as possibilidades artística, educativa, ética e poética da arte de contar histórias nas cidades brasileiras. O simpósio é composto por três frentes: 1. A história das histórias; 2. A Narração de Histórias como linguagem e 3. A Narração de Histórias na era da imagem e seus possíveis processos de interdição ou expansão da palavra.
A história das histórias tem um duplo objetivo de conhecer o percurso dos contos tradicionais, que a despeito das transformações históricas, sociais e políticas ao longo dos milênios, resistiu ao tempo e de boca em boca chegou até os nossos dias; contribuir com as discussões sobre o ressurgimento da figura do narrador em contexto urbano: Quem é esse profissional? Quais atributos são necessários para se tornar um?
A Narração de Histórias como linguagem, propõe pensar as especificidades dessa arte, sua abordagem artística e como os artistas da palavra nas cidades articulam a tríplice aliança do ato narrativo: narrador, conto e audiência. Intrinsecamente a essa temática está a atual discussão dos contadores de histórias sobre os benefícios e as problemáticas envolvidas nos processos de profissionalização de uma figura tão antiga na história da humanidade. A mesa abordará a figura do contador de histórias de ontem e de hoje, do meio rural e do meio urbano. O foco será o caráter performativo do narrador e a constituição de sua linguagem própria.
A Narração de Histórias na era da imagem e seus possíveis processos de interdição ou expansão da palavra, diz respeito a pensarmos o contador de histórias e a constituição de comunidades de ouvintes nas sociedades contemporâneas marcadamente visuais. Como as histórias orais, que se constituem no movimento dialético entre a arte do bem dizer a palavra e de bem escutá-la, são interditadas ou reaparecem em meio a sociedades que medeiam suas experiências por imagens ou pelo enquadramento de telas de dispositivos móveis? A mesa abordará quais os processos de interdição da palavra, das histórias e do conto no contexto urbano, as possibilidades de desenvolvimento da oralidade nos tempos atuais e os desafios de quem assume a arte de contar histórias como ofício num mundo cada vez mais vinculado à imagem e às representações de gênero e culturas.
O Sesc Santos abre, portanto, um importante espaço para debate, reflexão e experimentação da linguagem da narração oral, além do intercâmbio de ideias em torno da temática, considerando a relevância da retomada dessa arte milenar na contemporaneidade.
Ailton Guedes, Giuliano Tierno e Solange Alboreda
curadores
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Confira a programação completa do projeto Oralidades - Simpósio Nacional de Contadores de Histórias aqui.
Inscrições abertas, online aqui ou presencial na Central de Atendimento.
O certificado de participação será emitido mediante presença de 50% (professores) e 75% (público em geral).