Postado em 04/06/2019
Reconhecido como um dos pioneiros do cinema autobiográfico e também como grande defensor do cinema experimental, Jonas Mekas faleceu em janeiro de 2019, aos 96 anos.
Nascido na Lituânia, Mekas chegou a ser preso pelos nazistas em um campo de trabalhos forçados durante a Segunda Guerra e, após viver em campos de refugiados, desembarcou em Nova York em 1949, aos 27 anos.
Nos Estados Unidos, Mekas começou a captar suas primeiras imagens cinematográficas em 16mm com uma câmera portátil. Frequentemente acompanhado pelo irmão Adolfas, que foi seu colaborador, o imigrante recém chegado filmava registros de seu cotidiano que mais tarde dariam origem aos filmes diários que o consagraram, como "Walden: Diaries, Notes, and Sketches" (1969) e "Lost, Lost, Lost" (1976).
As breves cenas do dia a dia de Mekas ao lado de amigos e artistas, filmadas com estilo inconfundível, misturavam vida pessoal e história coletiva. Ao longo de mais de 50 anos, ele registrou a vanguarda artística norte-americana de ícones da geração beat à figuras da pop art, do movimento hippie à performers do século 21.
Considerado peça fundamental de uma geração de cineastas experimentais que se estabeleceu nos Estados Unidos a partir dos anos 1950, Mekas foi uma importante referência crítica para esse cinema no período em que assinou coluna Movie Journal, publicada pelo jornal The Village Voice, na qual abria espaço para essa cinematografia relativamente pouco mencionada pelos grandes veículos de comunicação.
Na década de 1950, Mekas começou também a programar sessões em locais alternativos de Nova York e, em 1955, criou sua própria revista de cinema, a Film Culture. No final dos anos 1960, juntamente com P. Adams Sitney e Peter Kubelka, estabeleceu o Anthology Film Archive, uma cinemateca que tem como objetivo conservar filmes canônicos do cinema experimental.
Revista Film Culture No. 35 (Winter 1964 - 65)
O Programa Jonas Mekas aborda as diversas facetas do homenageado - cineasta, crítico, programador e conservador de filmes. A programação tem curadoria de Liciane Mamede e Cecília Lara em parceria com Sesc Avenida Paulista e inclui filmes dirigidos por Mekas, como Reminiscências de uma viagem à Lituânia (1972), e também curtas-metragens que foram programados por ele em diversas ocasiões, hoje protegidos no Anthology Film Archive. Além das exibições, conta ainda com o curso O cinema de Jonas Mekas ministrado por Patrícia Mourão.
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Por Felipe Diniz, formado em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar. Atua como técnico de programação em Cinema e Vídeo do Sesc Avenida Paulista.