Postado em 31/05/2019
Patrícia Leme é uma referência quando se fala em Educação Ambiental e Sustentabilidade. Formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com mestrado e doutorado em Educação pela mesma universidade e, em parte, pela Universidad Autónoma de Madrid, ela é educadora da Universidade de São Paulo, junto à Escola de Engenharia de São Carlos. Publicou seis livros e coordenou projetos nacionais e internacionais nas áreas de educação e gestão ambiental, dentre muitas outras atividades.
A educadora carrega em seu extenso currículo cinco participações na Conferência Internacional de Educação Ambiental e Sustentabilidade (BoBW – Best of Both Worlds), que chega à sua 10ª edição, com realização do Sesc São Paulo, na unidade do Sesc Sorocaba, de 12 a 15 junho.
Patrícia esteve na primeira edição da Conferência, realizada em 1997, na África do Sul. De lá pra cá, participou de outras quatro edições: África do Sul, Malásia, Estados Unidos e Brasil.
Conversamos com a educadora, que fará a mediação de algumas mesas durante a Conferência que acontece este ano. Confira a seguir trechos da entrevista.
Como foi sua experiência nas Conferências?
Patrícia Leme: Desde a primeira participação, senti uma forte afinidade com a Conferência, por seu caráter integrador de diferentes culturas e perspectivas, incluindo saberes locais, tradicionais, de professores do ensino básico, fundamental e médio de diversos países. Isso trouxe muita riqueza para minha vida pessoal e profissional, como educadora ambiental na universidade.
O que você acredita que trouxe de bagagem que poderá agregar na próxima Conferência, que será realizada em junho?
Patrícia Leme: Após completar 18 anos trabalhando como educadora ambiental na Universidade de São Paulo, decidi pedir um afastamento e passei dois anos (sabáticos) me voluntariando por diversos países da África, Ásia e Europa, em centros de Educação Ambiental (EA), fazendas orgânicos e monastérios. Trago para a Conferência uma perspectiva de inclusão de culturas, etnias, diversidade, de diferentes valores à educação ambiental e sustentabilidade.
Nós nos habituamos a ver o mundo por meio da nossa “caixinha” e dos nossos valores, então fica difícil incluir outros modos de ser e estar no mundo, e vivemos em uma luta, conflito, mesmo entre educadores, considerando que o nosso modo de ver, nosso ponto de vista é o mais correto, efetivo e verdadeiro. Assim, trazer a perspectiva de aceitação e inclusão de outras culturas e outros modos de fazer Educação Ambiental é ponto-chave para uma prática sintonizada com as necessidades para o século 21.
Outra perspectiva que tenho trabalhado e quero levar até a Conferência é a da dimensão da “sustentabilidade interior”, da necessidade do autoconhecimento para atuação no mundo. A famosa frase de Gandhi “sejamos nós mesmos as mudanças que queremos no mundo” está mais atual que nunca. Dificilmente nós percebemos que as carências, conflitos, a necessidade de usurpar etc. nascem primeiramente dentro de nós mesmos e os refletimos pelo mundo. Vemos um mundo “lá fora” e acreditamos que podemos “consertá-lo”, “salvá-lo” sem olhar para o que carregamos internamente. Proponho o caminho para dentro, de auto-observação, meditação e autoconhecimento para trazer paz, bem estar interior, força e resiliência que se irradiam por tudo que fazemos e por todas as nossas relações com os humanos, as sociedades, os não humanos, com o ambiente.
O que significa a realização de uma conferência internacional com esta temática - “Modos de Viver Sustentáveis” - e que reunirá representantes de iniciativas socioambientais, acadêmicos e especialistas de diversas partes do mundo? Quais são suas expectativas?
Patrícia Leme: A Conferência será um marco na união de diferentes culturas, valores e perspectivas em um tema: “Quais podem ser nossas contribuições para modos de viver sustentáveis? O que já vem sendo realizado nesse sentido?”. Sem dúvida, a troca será muito rica e aprenderemos muito com todos. Aprimoraremos também o nosso sentido de escuta, de conseguir compartilhar nossas experiências e, ao mesmo tempo, sermos receptivos ao que diferentes culturas e realidades sócio-politico-ambientais trazem.
Qual a importância de levar para fora da universidade e, assim, ampliar uma discussão tão pertinente como os “modos de viver sustentáveis”? De que forma você acredita que isso impacta nas ações da sociedade?
Patrícia Leme: Por muitos anos, as universidades realizam trocas de saberes no âmbito acadêmico, com pouca ou nenhuma troca com a sociedade em geral. Ambos os lados perdem com isso. A proposta da Conferência é a de aproximar os saberes tradicionais, a diversidade cultural, os modos de vida sustentáveis da vida acadêmica, da produção científica. Um lado se enriquece com o outro; a visão se amplia; os repertórios se enlaçam e as forças se potencializam.
As inscrições para participar da 10ª Conferência Internacional de Educação Ambiental e Sustentabilidade estão encerradas, mas você pode conferir as rodas de conversa e as atividades culturais que acontecem durante o evento.
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