Postado em 16/04/2019
Cui·da·do: atenção que se dedica a alguém. Com mais de dez significados validados pelo dicionário, o cuidado é representado e oferecido em diferentes formas para cada relação humana, sendo essencial para o fortalecimento de comunidades.
A partir do contato com ocupações urbanas, Alana Moraes de Souza, mestre em Sociologia e Antropologia (UFRJ), propõe reflexões sobre espaços de cura e diálogo a partir do encontro e do reconhecimento de si mesmo no sofrimento do outro. Ela chama a atenção para a simbologia das cozinhas coletivas, que são os primeiros espaços a serem organizados quando um grupo de pessoas ocupa um terreno. Em oposição a uma cozinha individual, elas se tornaram um ponto de partida para se estabelecer laços e construir novas dinâmicas de autoconhecimento e cuidado.
Para construir estes laços comunitários, compartilhar os sentimentos é imprescindível: "tendemos a achar que os nossos problemas e sofrimentos são individuais", diz a socióloga, "porque a gente sempre interpreta o adoecimento como um fracasso". A partir da troca de vivências, a cozinha, que antes era um espaço privado, se transforma em uma experiência dividida por todos. Um espaço que alimenta o corpo e cuida da saúde das relações.
Cabe aqui uma reflexão sobre quem historicamente acaba ocupando essa posição de cuidar. É inegável que as mulheres têm carregado a maior parcela da responsabilidade de amortecer crises em diversas esferas sociais, e ainda hoje possuem maior comprometimento com o bem estar coletivo. No entanto, Alana chama atenção para a zona tensa em que o cuidado está inserido, para que a sobrecarga não seja romantizada: "é muito perigoso que se romantize esse lugar. No sentido da mulher guerreira, que cuida de todo mundo e que não pede nada em troca. Porque o cuidado também adoece". Nesse sentido, um dos requisitos para a construção de relações sadias é que exista cuidado mútuo, dentro dos limites de cada um.
Ainda que seja necessária a observação sobre os pesos e medidas do cuidado ofertado e recebido por cada indivíduo, a pesquisadora - que coloca as relações de gênero e os movimentos sociais no centro de sua produção científica - destaca que o cuidado é um elemento indispensável: "Podemos ter uma sociedade sem estado, sem fábrica, sem política pública, mas sem cuidado é impossível.".
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Alana Moraes de Souza participou do evento A Saúde nos Territórios da Arte e Cultura - Perspectivas Inspiradoras.
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