Postado em 11/04/2019
No Brasil, vivem atualmente 305 povos indígenas, falantes de 274 línguas. Nos últimos anos, muitas etnias se apropriaram das tecnologias e das redes sociais para narrar e divulgar suas próprias histórias. Essa realidade é muito importante para fortalecer a nossa diversidade cultural e ao mesmo tempo alertar a sociedade dos riscos de genocídio que muitas dessas comunidades enfrentam.
Assim, com as produções literárias e audiovisuais dos indígenas podemos nos aproximar um pouco mais das diferentes culturas dos nossos povos originários, além de despertar o conhecimento sobre as lutas travadas para a manutenção dessas existências.
Escolhemos 6 livros e 6 projetos audiovisuais pra você começar o mergulho nesse universo. Confira:
Um grande xamã e porta-voz dos Yanomami oferece neste livro um relato excepcional, ao mesmo tempo testemunho autobiográfico, manifesto xamânico e libelo contra a destruição da floresta Amazônica. Publicada originalmente em francês em 2010, na prestigiosa coleção Terre Humaine, esta história traz as meditações do xamã a respeito do contato predador com o homem branco, ameaça constante para seu povo desde os anos 1960. A Queda do céu foi escrito a partir de suas palavras contadas a um etnólogo com quem nutre uma longa amizade - foram mais de trinta anos de convivência entre os signatários e quarenta anos de contato entre Bruce Albert, o etnólogo-escritor, e o povo de Davi Kopenawa, o xamã-narrador. Recheada de visões xamânicas e meditações etnográficas sobre os brancos, esta obra não é apenas uma porta de entrada para um universo complexo e revelador. É uma ferramenta crítica poderosa para questionar a noção de progresso e desenvolvimento defendida por aqueles que os Yanomami - com intuição profética e precisão sociológica - chamam de “povo da mercadoria”.
Ailton Krenak é um maiores líderes políticos e intelectuais surgidos durante o grande despertar dos povos indígenas no Brasil, ocorrido a partir do final dos anos 1970. A sua atuação tem sido fundamental para a luta pelos direitos indígenas e a criação de iniciativas como a União das Nações Indígenas e a Aliança dos Povos da Floresta. Ailton é um pensador acurado e original das relações entre as culturas ameríndias e a sociedade brasileira, criando reflexões provocativas e de largo alcance, como as presentes nas entrevistas e depoimentos contidos nesse volume da Coleção Encontros.
Na proposta do GRUMIN (Grupo Mulher-Educação Indígena) destaca-se o trabalho voltado para a Educação dentro das aldeias como forma de contribuição à luta do movimento indígena de resgate de sua história, de sua cultura e até mesmo de sua identidade, nas regiões onde o processo de colonização foi mais destruidor. O GRUMIN ao lançar este livro-cartilha, "A terra é a mãe do índio'', pretende tão somente somar aos esforços de todos os irmãos índios em busca desse objetivo, levando aos monitores de educação, enfermeiros indígenas e professores das cidades seu apoio para a compreensão das razões sociais, políticas e econômicas que deram origem à opressão, discriminação social e racial que sempre os envolveram.
Criaturas de Ñanderu consiste em um emocionante conto indígena escrito por Graça Graúna no qual uma garota com nome de pássaro, ao tornar-se adulta, ganha asas e sai de sua tribo para conhecer a cidade grande. Graça Graúna é indígena, descendente Potiguara (RN), educadora universitária na área de Literatura e Direitos Humanos. é também autora de Canto Mestizo, Tessituras da Terra e Tear da Palavra.
Contar histórias é um dos prazeres de Daniel Munduruku. O livro resgata parte de sua vida e do seu relacionamento com o vô Apolinário, um velho índio, da tribo Munduruku, que contava histórias dos espíritos ancestrais, a quem chamava carinhosamente de “avós e guardiões”. “Na verdade não sei muita coisa sobre meu avô porque o via muito pouco. No entanto, esse pouco de convivência marcou profundamente minha vida, formou minha memória, meu coração e meu corpo de índio. Acho até que falar dele me faz resgatar a história de meu povo e me dá mais entusiasmo e aceitação da condição que não pedi a Deus, mas que recebi Dele por algum motivo”, escreve Daniel. Este livro recebeu a menção honrosa do prêmio Literatura para Crianças e Jovens na Questão da Tolerância, na categoria de livros para crianças de até 12 anos, concedida pela UNESCO.
O livro narra seis contos da mitologia do povo Maraguá, descendente da antiga civilização Tapajônica - que desenvolveu sofisticada cerâmica decorada -, habitante da região do rio Abacaxis, no Amazonas. O fato de ambos os autores serem originários de tal cultura busca anular a presença de um branco como intermediário das narrativas. O volume contém um glossário que explica os significados de palavras do idioma Maraguá - e de outras línguas indígenas - e do vocabulário típico da Amazônia.
A grande marcha de retomada dos territórios sagrados Guarani Kaiowá através das filmagens de Vincent Carelli, que registrou o nascedouro do movimento na década de 1980. Vinte anos mais tarde, tomado pelos relatos de sucessivos massacres, Carelli busca as origens deste genocídio, um conflito de forças desproporcionais: a insurgência pacífica e obstinada dos despossuídos Guarani Kaiowá frente ao poderoso aparato do agronegócio.
Desde 2002, Divino Tserewahú tenta produzir um filme sobre o ritual de iniciação feminino, que já não se pratica em nenhuma outra aldeia Xavante, mas desde o começo das filmagens todas as tentativas foram interrompidas. No filme, jovens e velhos debatem sobre as dificuldades e resistências para a realização desta festa.
Dois cineastas retratam a vida na aldeia e na missão de Sangradouro, Mato Grosso: Adalbert Heide, um excêntrico missionário Alemão, que logo depois do contato com os índios, em 1957 começa a filmar com sua câmera Super-8; e Divino Tserewahu, jovem cineasta Xavante, que produz filmes para a televisão e festivais de cinema desde os anos 90. Entre cumplicidade, competição, ironia e emoção, eles dão vida aos seus registros históricos, revelando bastidores bem peculiares da catequização indígena no Brasil.
As crianças da aldeia Aiha Kalapalo, do Parque Indígena do Alto Xingu (MT), são as protagonistas desse filme e escolheram mostrar alguns aspectos da sua rotina, da sua cultura e da íntima relação com a natureza. da escola, onde aprendem o português até os rituais e a luta ikindene, os pequenos Kalapalo demonstram uma sutileza peculiar de quem conhece suas tradições. “Osiba Kangamuke - Vamos Lá, Criançada” é resultado de uma oficina de vídeo realizada com as crianças na aldeia, em julho de 2015. assim, elas participam não só da atuação, mas também em todo o processo de filmagem. o filme é uma produção conjunta entre pesquisadores, cineastas indígenas e não indígenas.
Temendo a morte da esposa idosa, um velho pede que seu sobrinho realize o Jamurikumalu, o maior ritual feminino do Alto Xingu (MT), para que ela possa cantar uma última vez. As mulheres do grupo começam os ensaios enquanto a única cantora que de fato sabe todas as músicas se encontra gravemente doente.
Precursor na produção audiovisual indígena, o Vídeo nas Aldeias dedica-se, desde 1986, à formação de cineastas indígenas e à produção e difusão de seus filmes, apoiando suas lutas e contribuindo para a garantia de seus direitos culturais e territoriais. Ao longo dessa trajetória, o VNA construiu um dos mais importantes arquivos audiovisuais sobre a realidade indígena contemporânea, reunindo cerca de oito mil horas de imagens produzidas junto a mais de quarenta povos no Brasil.
Essa coleção apresenta filmes que remontam às origens do projeto, desde as primeiras experiências com a câmera como ferramenta de luta política e revitalização cultural, passando pela troca de imagens entre as aldeias, culminando na formação de cineastas indígenas, num processo de criação colaborativa entre indígenas e não-indígenas nas comunidades. Mais do que um registro de culturas, estes filmes revelam visões de mundo múltiplas e complexas, que resistem à invisibilidade e ao apagamento a que têm sido historicamente submetidos os povos nativos no Brasil.
_________
Durante este mês, o Sesc SP propõe a ação em rede Abril Indígena, que constitui um convite para que o público se aproxime das culturas e conhecimentos
Para saber mais sobre os povos indígenas no Brasil, acesse o sítio eletrônico do Instituto Socioambiental.