Postado em 20/03/2019
Quantas pessoas você conhece, incluindo você mesmo(a), que dizem gostar de escrever? Aposto que muitas. Quando pensamos sobre o gosto pela escrita, quase sempre lembramos da ficção, dividida em duas categorias: prosa e poesia. Crescemos lendo histórias inventadas. Conhecemos outros mundo por meio da capacidade de escritores de inventá-los.
Mas e os que já existem, ali, dentro das pessoas que conhecemos e dentro de nós mesmos? Lembramos dos diários na infância e adolescência, o princípio da escrita voltada para si. Por meio do exercício desse olhar atrelado a um estilo de escrita próprio podemos trazer à tona a beleza da nossa vida e da dos outros e escrever um texto tão atrativo quanto qualquer história ficcional.
No Sesc São José dos Campos acontece a oficina Escrita Biográfica e Autobiográfica, com o jornalista e editor Rodrigo Casarin. Para Rodrigo, toda escrita biográfica, seja sobre si, ou sobre o outro, tem dois pontos principais, um inerente ao termo, que é o falar sobre a vida, e outro que talvez passe despercebido: a visão particular do autor sobre aquela vida. “É impossível transportarmos uma vida como um todo para o texto, a realidade com toda a sua complexidade. Então relatos biográficos são também recortes extremamente autorais”, conta Rodrigo.
Isso quer dizer que ao escolhermos os pontos a serem retratados pelo nosso olhar, estamos também falando sobre nós por meio dessa seleção. Como enxergamos aquela vida, o que nela nos interessa mais, o que mais chama nossa atenção, o que mais nos marcou ao ouvirmos ou vivermos aquela história.
Desenvolvendo o olhar
Biografias estão comumente associadas a pessoas públicas, celebridades, ou personalidades históricas e pelo fato de já serem conhecidas do público, é fácil determos nosso olhar pra os fatos mais apelativos dessas vidas. O segredo, no entanto, está em buscar o oculto, o que nos desvela a intimidade da pessoa em questão. “Há elementos excepcionais na vida de qualquer pessoa. Procurar pelo extraordinário no que aparenta ser ordinário é um exercício fascinante”, comenta Rodrigo.
Rodrigo ressalta que ao contar a história de outra pessoa, o primordial é a empatia. “Não precisamos concordar ou admirar toda a história da outra pessoa, mas é imprescindível que tentemos compreendê-la em toda a sua complexidade.”
E quando é sobre a gente?
Quantas coisas não vivemos e que merecem ser contadas? Ao olharmos para nossa própria história, podemos ver pontos que se destacam na nossa evolução pessoal, encontros importantes com outras pessoas ao longo da vida, pensamentos íntimos. Para Rodrigo, devemos ser generosos aos escrevermos sobre nós, contudo sem perder o olhar crítico, que deve estar presente em qualquer tipo de escrita biográfica ou autobiográfica, seja num livro, um perfil de alguém ou quando escrevemos sobre nossas memórias. Rodrigo ressalta que escrever biografias nada tem a ver com construir personas heroicas ou beatificadas, o que ele chamou de “hagiografias”.
A leitura é fundamental
Para desenvolver qualquer escrita literária precisamos, antes de tudo, ser bons leitores, termos repertório e referências. Pegamos algumas dicas com Rodrigo Carasin para você conhecer mais sobre a escrita biográfica e começar a ter um olhar mais apurado sobre isso. Quem sabe o próximo grande título não é o seu?
Biográficos
“A Vida que ninguém vê”, de Eliane Brum
“Fama e Anonimato”, de Gay Talese
“Jorge Amado” de Josélia Aguiar
Autobiográficos
“O Ano do Pensamento Mágico”
“Blue Nights”- de Joan Didion
“Paris é uma Festa”, de Ernest Hemingway
“Instrumental”, de James Rhodes