Postado em 05/02/2019
No mês de fevereiro, o Sesc Vila Mariana reúne diversas atividades que se voltam para as origens africanas e indígenas, matrizes fundamentais na construção da cultura e da sociedade brasileira. Elas estão na estrutura da nossa língua, na culinária, nas vestimentas, nos costumes, entre outras áreas, de maneira profunda e determinante. Um exemplo é a forma como lidamos com a fé e as práticas populares de amuletos, proteções e superstições.
“Seja um colar, um patuá, uma figa, colocar uma espada de São Jorge na porta de casa, plantar uma pimenteira no portão, cruzar os dedos, bater na madeira, uma pulseira de pimentas, olho grego, são inúmeras as mandingas dos brasileiros, mesclando as mais diversas referências culturais”, destacam Ricardo Souza, cientista social, produtor cultural, arte-educador e percussionista, e Hanayrá Negreiros, mestra em Ciências da Religião. Nesse contexto, a dupla apresenta um curso de patuás e de confecção de amuletos, para dar visibilidade às raízes culturais marginalizadas e invisibilizadas, em relação à matriz cultural europeia.
Para Luiza Barros Snege, educadora e produtora do Coletivo Macamba N’goma, que vai ministrar oficinas de tambores artesanais de cabaça e de construção de reco-reco, pau-de-chuva e xequerê, as culturas africanas e indígenas remetem à nossa História e aos nossos antepassados. Por mais estejam marcadas pelo genocídio e pela escravidão, também possuem significados relacionados à resistência, à sabedoria, à conexão com a natureza, à Arte. Os instrumentos musicais ajudam a despertar essas memórias, seja durante a construção, a contemplação de seus sons ou a experimentação musical.
“O estudo das culturas originárias nos ensina como sobreviver e subsistir: utilizar aquilo que temos ao redor, transformar e criar. A cabaça, por exemplo, matéria-prima muito utilizada por nós do Macamba, está presente em contos africanos, quilombolas e também em mitos indígenas sobre a criação do mundo, o início da vida, sendo muito associada ao feminino. Essa matéria é utilizada por esses povos como objetos do cotidiano, da cozinha, como artesanatos, instrumentos musicais, religiosos, brinquedos entre outros infinitos usos.”
O artista, educador e curador Celso Lima pretende discutir a questão do silenciamento das origens como parte de um curso sobre estampas, que englobará desde a África Ocidental até o movimento Concreto Brasileiro. De acordo com ele, isso acontece porque a narrativa histórica ocidental categoriza as produções de alguns povos como artesania e não como Arte. Um contraexemplo seriam os tecidos Bogolan, peças únicas, com histórias sendo narradas por meio de símbolos. “A grande crítica que sempre se fez à historiografia do continente africano é a ausência de bibliografia, mas há várias maneiras de se escrever a História. Os têxteis africanos trazem um registro importante das comunidades, há uma narrativa ali. É sim possível retirar uma bibliografia dessa cultura material.”